(texto inicialmente publicado no Facebook, a 19 de Abril de 2021)
Volto a passar a barreira do ano 2000 e regresso a 2004, ano em que parecia estar tudo a acontecer.
Como já falamos, depois dos Pop Shows vieram os arranjos do Jacob de Haan disfarçado do misterioso Ron Segbrets. Mas, convenhamos, faltava qualquer coisa. Faltava o glamour e imponência dos Pop Shows. Eram uns 5 minutinhos de música pop, sem grande sal…
Então, Luís Cardoso salta para dentro de campo e lança o “Xutos Medley”. E é preciso dizer mais alguma coisa?
O Luís percebe da poda. Percebe como poucos a linguagem da música pop, rock e é exímio em transpô-la para a sonoridade das filarmónicas.
Depois dos “Xutos” veio a Quinta do Bill, os Abba, os Scorpions e os concertos das bandas ganharam outro sal.
Mas, não há bela sem senão. Segue-se agora o ponto de vista, não de um filarmónico, mas de um fã incondicional dos Xutos&Pontapés.
A música dos Xutos é uma bela e descontraída adolescente. Veste calças de ganga, all stars e uma t-shirt simples. É linda na sua simplicidade. Tem um olhar tímido que diz mais que os seus lábios. É alguém que nos toca quando passa, que tem uma mensagem a passar.
O Luís Cardoso apareceu e vestiu-a com elegância para o baile de finalistas. Um discreto, mas sensual, vestido preto, maquilhagem subtil, jóias a condizer e um perfume sedutor. Entrou na festa e arrasou, ofuscando as raparigas mais espampanantes. Continuou linda na sua simplicidade, mas a sua mensagem ganhou forma.
Mas, depois disto, vieram muitos maestros, músicos e bandas que a vestiram com uma roupa vulgar exibindo os seios e as nádegas, uma maquilhagem fluorescente, argolas de papagaio nas orelhas e banharam-na com perfume da loja do chinês. A bela adolescente ficou vazia, oca. Infelizmente, é esta versão do “Xutos Medley”, que mais ouvimos nos arraiais, a horas onde já há álcool a mais e discernimento a menos.
Meus caros: a música dos Xutos é boa, o arranjo do Luís está impecável, não é preciso inventar e “javardar”. Os fãs dos Xutos agradecem.
Aqui fica a interpretação de gala da Banda de Vilela.
P.S. – Um dia destes teremos que falar de Luís Cardoso enquanto compositor. É uma pena que não se ouçam com mais frequência as suas obras originais.