Sabia que aquela era noite, longe de suspeitar que seria a última. A primeira de muitas, pensaria.
Desejou-a todo o dia. Em encontros breves, trocavam olhares e ao mesmo tempo uma promessa. Uma promessa da noite mais quente das suas vidas.
Foi no bar, por entre amigos envoltos em conversas triviais.
Ele pediu a primeira bebida. Consumido pelo calor, absorveu o líquido, praticamente, de uma só vez. Respirou.
“Outro, por favor”.
O seu corpo cedia já ao impacto do álcool. Começava o estímulo físico, daquilo que há muito lhe habitava a mente. E ela estava tão perto.
O segundo foi saboreado com mais calma, discernindo o duplo sabor do despudorado cocktail. No fim da última gota estava já irrequieto. Os olhares eram cada vez mais intensos e parecia que os corpos já se tocavam. Fechando os olhos, sentia-lhe a boca, a língua, a pele, o odor.
Veio o terceiro e, ao pousar o copo na mesa, levantou-se decidido.
Quase que a arrancou do assento: “vamos!”
Faltava muito para chegar a casa, por isso começaram no carro, em andamento, aquilo que iriam terminar na cama, parados. Nem o excesso de alcoól, nem a excitação o faziam perder o controlo do veículo. Abrindo os olhos, sentia-he a boca, a língua, a pele, o odor.
Ela recebia-o na boca, enquanto ele a tinha nas mãos.
Pouco faltou para arrombar a própria porta de casa. Pouco faltou para as roupas serem reduzidas a trapos. Pouco faltou para que gritos estridentes despertassem a sonâmbula vizinhança. Pouco faltou para que o suor se transformasse num rio.
Até que veio o sémen, veio o repouso, veio a hora dela regressar a casa.
À dor de a ver partir, juntou-se a dor de nunca mais voltar.
Ao frio da noite, juntou-se o frio da distância.
À mágoa do pecado, juntou-se a mágoa da saudade
E depois viu aquele rosto nas estrelas.
Não, não podia ser apenas luxúria. A luxúria é apenas um cometa. Rápido, quente, flamejante.
Mas as estrelas são eternas. Brilham, mesmo que ocultas pela neblina.