Não sei porque chamaram “da Raposa” a este trail. Na cultura popular, a raposa é o animal que ronda as quintas, com astúcia e matreirice para atacar animais de pequeno porte, como galinhas e coelhos.
À quantidade propriedades rurais e campos de cultivo que o Trail da Raposa 2016 contornou e, até, atravessou, o nome faz sentido.
Mas esta edição da prova que luta por se afirmar em Paredes fica marcada negativamente.
Aquando da primeira edição, fiquei com pena de não ter participado tantos foram os comentários positivos de colegas meus que fizeram a prova.
Daí, em 2015 ter arriscado na distância mais longa: ao início das inscrições 37km, a poucos dias da prova 43km e, no dia, quase 47 km.
(ver artigo completo sobre a edição do ano passado: https://www.antonio-pinheiro.net/a-ultra-da-raposa/)
No final da edição transacta esta determinado em não voltar à Raposa. No entanto, com a inclusão da Sky Marathon e com excelente comunicação que a prova tem, acreditei que os pontos negativos de 2015 se esbatessem e decidi inscrever-me na distância de 33km.
Por que é isso que todos nós esperamos na vida: evolução.
Mas não foi o que aconteceu. Com escassos 2-3 km de prova (não tinha a noção, dado que me esqueci de desligar o relógio no comboio… “why?”) os atletas da Ultra e do Trail Longo são enfiados num single track extremamente técnico, o que provocou um engarrafamento de fazer inveja à VCI num dia de acidente e chuva intensa. 1h. 1h parados sem conseguirmos dar um passo, enquanto víamos os atletas da frente subirem uma escarpa através de uma corda.
Ok… Trail é desafio e dificuldade mas seria aquilo necessário? Falei com pessoas que costumam fazer escalada nessa zona e que me confidenciaram que foi de uma total imprudência colocar esse obstáculo numa prova de Trail. Atenção! Foram especialistas em escalada que o disseram.
Não motivação que resista a 1h de paragem forçada.
Vários atletas começaram a voltar para trás, com o objectivo ou de desistir ou fazer a prova de 20km (que a poucos dias da prova passou a ser de 24km e que no dia revelou ter 26/27km).
Decidi fazer o mesmo, totalmente desanimado e revoltado. Felizmente, o trilho dos 33km encontrava-se ali perto. No entanto, já não era a mesma coisa. O primeiro abastecimento tinha ficado para trás. Não tinha noção nenhuma de quantos km tinha feito, ou faltavam. Isto porque raramente se encontrava alguém da organização e as poucas pessoas que víamos pareciam mais perdidas que nós.
Percebi que a coisa estava mesmo negra quando, a 10km da meta (supostamente), começo a ultrapassar atletas das provas mais curtas. Como era possível, com 5h de prova, tanta gente ainda ali estar?
Um caos.
Houve quem tivesse que beber água a saber a terra vinda de uma mangueira. Houve quem se perdesse ou até recebesse informações erradas de voluntários.
A entrega de dorsais foi das mais caóticas e desorganizadas a que já assisti.
Valeu pelo enorme desafio mental e pelas boas sensações físicas que o meu corpo transmitiu. Valeu pelo incentivo do Sérgio e do Merino logo no início.
Valeu por acabar por ser um bom treino para a Freita.
Valeu por ter a minha Teresa na meta à espera. Aliás, se conclui a prova foi por ela, porque ela merecia que eu cortasse a meta.
Agora, definitivamente, Raposa nunca mais!
Uma palavra final para os meus colegas de equipa Team Duas Faces. Parabéns a todos pelas suas prestações:
- Nuno Sobral – 33km – 191º (108º escalão) – 6h00m52s
- António Pinheiro – 33km – 201º (113º escalão) – 6h06m25s
- Marco Ferreira – 24km – 15º (9º escalão) – 2h40m01s
- Tiago Santos – 24km – 18º (12º escalão) – 2h41m15s
- Sílvia Teixeira – 24km – 683º (89º escalão) – 5h02m14s
- Prazeres Pires – 24km – 803º (57º escalão) – 5h24m23s
O Marco, o Tiago, a Sílvia e a Prazeres garantiram um 27º lugar por equipas ao Team Duas Faces.