“Meu tonto…”, dizia ela, praticamente sem saber o efeito arrebatador que essas palavras tinham nele…
De facto, sempre tinha sido um tonto, desastrado, a quem tudo acontecia.
Agora, como na música dos Xutos, sentia-se sempre um pouco tonto na presença dela. Bastava aparecer, olhar, sorrir e tudo parecia construído sobre areia. O seu mundo desabava e cada gesto parecia desprovido de sentido. Queria agradar-lhe em casa segundo, mas como agradar a alguém tão imenso? Como estar ao nível de alguém que mexia com ele daquela forma?
E era cada vez mais tonto.
Dava tudo, o que tinha e o que não tinha para que aquele sorriso que tanto amava, fosse eterno.
Queria captar dentro de si aquele olhar mágico, que só ele parecia saber compreender, mesmo toldado pela tontice.
Tropeçava em si próprio e caía. Mas então ela chegava, flutuando como um anjo e dizia: meu tonto…
…e tudo voltava a fazer sentido!