Fechando os olhos e viajando no tempo às “Semanas Santas” da minha infância, são estas as primeiras imagens que recordo. O “top of mind” das minhas memórias pascais.
É Domingo de Ramos. Hoje não vou à Missa, porque a Missa “vai ser muito grande”. Quero ir. O meu pai, mais uma vez, vai ser Pilatos na leitura do imenso evangelho da Paixão e ninguém diz como ele “Tu és o Rei dos Judeus?” ou “Tomai vós mesmos e crucificai-o, pois não encontro nele culpa alguma!” Ninguém como ele transpõe para a leitura bíblica o que aprendeu nos anos do teatro. E depois, o salmo do Domingo de Ramos, lamento que Ferreira dos Santos parece ter ouvido directamente da boca de Cristo e transposto no momento para música…
Não vou à Missa, mas há a benção dos ramos à porta da Igreja. Celebração agridoce pois, ao contrário de todos os outros meninos, o meu ramo não iria para a minha Madrinha, emigrada em Andorra.
– Dou o meu ramo a quem, Mãe?
– Dás a mim!
– Mas foste tu que o fizeste!
Além disso, os ramos dos outros meninos tinham flores e cor. O meu era um amontoado de folhas de oliveira. “Mas assim é que deve ser um ramo do Domingo de Ramos! Os ramos dos teus colegas é que estão mal.” Sentença de Mãe.
Começava assim uma semana única. De Domingo a Domingo.
Sem o glamour do Natal, a Semana Santa tinha a sua magia própria, onde cada dia representava algo único nas minhas longínquas férias da Páscoa.