Foi numa tarde de Outono que ela entrou na vida dele. Levava nos olhos aquele sorriso que escondia uma timidez natural, sincera. Mostrou-se humilde, simples e com uma enorme vontade de aprender.
Ele tinha muitas histórias para contar, memórias de uma vida que mais ninguém queria ouvir, a não ser ela. Então, ele sentou-a no colo e contou-lhe tudo o que há anos tinha guardado no coração. Ela continuava a sorrir e lentamente aproximou-se do seu rosto. Um fio eléctrico percorreu todo o corpo daquele homem seguro, confiante, experiente. Não percebia o que lhe estava a acontecer.
Foram-se passando os dias, as semanas, os meses… Havia sempre mais uma história, mais um sonho para partilhar. Agora, também ela contava as suas histórias e gostavam um do outro.
O Inverno aconchegou-os ao calor de uma lareira. As histórias ganhavam vida, cor, ternura. Partilhavam segredos, confissões, desabafos. Aqueciam-se em noites frias, longas, trocando o sono pelo prazer da companhia. Liam livros, cantavam canções e recitavam poemas um ao outro.
Chegou a Primavera e descobriram que, para além das histórias, algo mais forte os unia. Agora, diziam-se irmãos. Brincavam de mãos de dadas e trocavam os mais insignificantes presentes, como se de tesouros se tratassem.
Sentiam a falta um do outro e faziam de tudo para estarem juntos. Saboreavam cada segundo, como quem saboreia o prato favorito ou aquele bolo especial.
Então veio o Verão e, numa noite quente, apenas com as estrelas como tecto as suas bocas uniram-se. E aquele instante criou uma nova história.
Amavam-se.
E começou uma nova descoberta. Com a caneta do amor, os seus corpos escreveram um livro único e irrepetível. Uma obra-prima de sensações e momentos de felicidade suprema.
Veio um novo Outono e viajaram ainda mais longe. Descobriram que podiam amar-se sem limites, que podiam fundir os seus corpos num único, descobriram que a noite não tem fim.
Hoje, mesmo depois de entregues ao prazer, mesmo rendidos à loucura dos sentidos, continuam a partilhar flores no jardim, a trocar mimos e a sorrirem inocentemente como naquela primeira tarde de Outono.
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