Queria matá-lo. Com as suas próprias mãos, da forma mais dolorosa que encontrasse. A ele, a outros e outras como ele. A este com mais intensidade, por se esconder por trás do título de “padre”, ao qual acrescentava ainda o título de Dr.
No entanto, era mais um como os outros e as outras. Um charlatão, um cínico… este ainda mais cínico, por ser “padre” e por ser Dr.
“São filhos da p*** como tu que dão mau nome à Igreja, vais arder no fogo do Inferno e sou eu que te vou atear, cabrão!”
O ódio banhava o seu corpo de alto abaixo. Sentia-se cegamente guiado por um único objectivo: manchar de sangue as vestes sacerdotais daquele homem e depois ficar a vê-lo morrer. Cuspiria no seu cadáver.
Sentia-se poderoso, capaz de enfrentar qualquer coisa. Estava na hora de pôr fim ao embuste e de dar um exemplo para os outros. Se corresse bem, este seria o primeiro. Depois faria o mesmo a todos os outros. Mataria um por um. Com violência, com dor, com muito sangue.
“Sangrar estes pulhas é algo de divino”.
Vestiu-se de negro, como a ocasião o exigia. Retirou da parede a valiosíssima espada samurai, que muitos pensavam ser meramente decorativa. Desconheciam, contudo, que a lâmina era afiada… muito afiada e que com um simples toque rasgaria pele, carne, ossos e tudo o mais que encontrasse no seu caminho.
Escondeu a espada no interior do casaco comprido.
Caminhava a passos largos e decididos em direcção à igreja. As luzes estavam acesas. Confirmava-se que aquele era o dia do culto secreto.
“Óptimo! Os otários vão ver a queda do Mestre. E se algum se meter no meu caminho, traço-o também.”
Entrou na Igreja já com a espada na mão, levantada à sua frente. O templo estava cheio de olhares em transe. Lentamente os presentes foram-se apercebendo do estranho que invadia o seu espaço com uma espada. A cena era de tal modo inesperada que ninguém, nem a própria vítima, teve reacção.
Primeiro um braço, depois outro… e o sangue jorrava. A espada cortava um corpo humano como se fosse manteiga. Depois, uma estocada no coração e, por fim, a lâmina atravessou o pescoço. Um fio de sangue surgiu lentamente na pele branca do sacerdote, contrastando com as golfadas que saíam dos ombros e do coração.
Com um sorriso nos lábios, esticou dois dedos na direcção da testa da vítima e, com um gesto subtil, completou a separação da cabeça do resto do corpo. Mais sangue.
A carcaça que restava do corpo daquele padre caía agora por terra.
Na plateia pessoas gritavam, desmaiavam, choravam, mas ninguém tinha coragem de se aproximar do assassino.
Limpou o sangue da espada à indumentária do cadáver, guardou-a novamente no casaco, acendeu um cigarro e saiu calmamente da igreja, sem que ninguém ousasse tocar-lhe.