António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Mornas e Coladeras” – Afonso Alves

Julho 13th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Ao contrário do que muita gente pensa e diz, as “Mornas e Coladeras” de Afonso Alves, não são um medley com temas de Cabo Verde.

Trata-se de uma obra inteiramente original, para a qual o compositor pesquisou, investigou e estudou durante três meses, tendo sido depois composta numa semana.

Tem um magnífico solo de clarinete que, segundo o próprio compositor, deve ser tocado, com a “ingenuidade e simplicidade de quem não sabe tocar”. Por isso, clarinetistas que enchem o solo de “reviangas” e glissandos e que até cometem o crime lesa-arte de o fazer à oitava superior, párem com isso. Se tiverem dúvidas, o compositor ainda é vivo, está contactável e é muito acessível e disponível.

Em Novembro de 2009, na Casa da Música, a Banda Fórum estreou uma versão com coro.

Lembro-me que, da primeira vez que toquei a obra, precisamente no dia em que conheci o Afonso, ele disse à percussão: “são livres de fazerem o que quiserem, mas lembrem-se que a linha que separa o ridículo do genial é muito fina”.

A verdade é que já toquei as “Mornas” dezenas de vezes com ele e nunca levei nas orelhas.

Aqui fica uma dessas “dezenas de vezes”. Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, ao vivo no Casino da Figueira da Foz, sob a direcção do próprio compositor. Eu sou o cromo sentado na bateria, mas há muita gente bonita a tocar.

 

 

“Persis” – James L. Hosay

Julho 12th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

 

Um dia sonhei que tocava oboé, fazia o solo da “Persis” e depois destruía o instrumento.

“Persis” (grego para Pérsia) é uma abertura-fantasia, que conta a história de um homem americano moderno que viaja no tempo até à antiga cidade persa de Persépolis.

Entra numa aventura selvagem e maravilhosa ao ser repentinamente cercado por uma arquitetura magnífica, grandes estátuas de mármore e belas obras de arte, numa das primeiras civilizações cultas conhecidas. Vira-se e vê uma bela mulher persa num pátio repleto de flores. É a mulher mais linda que já viu na vida, e está completamente cativado por ela.

Cuidadosamente aproxima-se dela e, milagrosamente, ela o reconhece como alguém que ela havia conhecido antes noutro tempo e lugar. Abraçam-se e compartilham um breve e feliz momento juntos. Mas sua presença no pátio real é proibida e ele é perseguido por guardas armados. Enquanto corre freneticamente pelos corredores da cidade,  reflete tristemente sobre o romance que poderia ter acontecido.

Tudo isto e um papel diabólico para xilofone.

Banda Quinta do Picado, dirigida por Bruno Martins.

 

“Orfeu nos Infernos” – Offenbach

Julho 11th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª temporada – “Qual é que vai?”

É verdade que esta rúbrica continua a surpreender o autor.

Coloquei o “Orfeu nos Infernos” na minha lista e, quando vou procurar gravações de bandas portuguesas no Youtube, surgem apenas duas. Mas, com todo o respeito pelas bandas que as protagonizam, achei que a qualidade não era a suficiente para a partilha.

Sendo uma obra tão tocada, é estranho haver tão poucos registos.

É o que é.

Por isso, recorro hoje à Banda da Marinha dos Estados Unidos, com uma orquestração bem interessante e ligeiramente diferente daquilo que estamos habituados a ouvir por cá.

Ópera burlesca de Jacques Offenbach, “Orfeu nos Infernos”é uma sátira ao mito de Orfeu.

«Orfeu e a sua mulher Eurídice não fazem uma típica vida de casal, estão cansados um do outro e, por isso, já nenhum deles é fiel aos votos do matrimónio. Enquanto Orfeu se encanta com as suas belas alunas, Eurídice jura amor a Aristeu. Depois de descoberta a traição e em prol da sua imagem, Orfeu prepara a morte do amante da mulher e esta corre para lhe contar os planos do marido… Aristeu (na verdade, é Plutão disfarçado) atrai Eurídice e toma o mesmo veneno que ela, em nome do amor. Ela morre e é conduzida por Aristeu/Plutão para o inferno. Orfeu fica feliz com a morte da mulher, mas, para seu desfortúnio, a opinião pública exige-lhe que a vá salvar.
Entretanto, no Monte Olimpo, os deuses exigem mais diversão e melhor comida.
Já no Inferno, em virtude de investigar a difícil situação, na qual se encontra Orfeu, o próprio Júpiter, disfarçado de mosca, apaixona-se por Eurídice. Na festa dos “olimpianos”, Júpiter consente que Orfeu recupere a sua mulher, desde que não se vire para trás no seu regresso. Mas Júpiter provoca Orfeu e este vira-se e Eurídice é forçada a permanecer no Inferno, como bacante.» (in: http://www.teatroaveirense.pt/evento_detalhe.asp?id=1608)

E pronto, está dado o mote para pôr as bailarinas dos cabarets a dar à perna.

Por cá, é mais uma que põe os coretos a abanar. Obra que marcou a minha “infância filarmónica” e que ainda está na estante da Banda Visconde de Salreu.

“O Cornetim do Mestre Alfredo” – Darlindo Duarte (orquestração de Amílcar Morais)

Julho 10th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Aqui há anos ouvi uma uma história engraçada sobre esta marcha de concerto.

– Não gosto desta marcha…

– Porquê?

– Tem um título feio!

– Muda para inglês!

 

“Master Alfred’s Cornet” ou “Master Alfred’s Bugle”

(não está mau, não senhor)

Tenho a impressão que o “Cornetim do Mestre Alfredo” já foi mais tocado do que é actualmente. Foi ultrapassado por composições mais arrojadas e impactantes, mas não fica nada mal para desenjoar do reportório que toda a gente toca.

Aqui na interpretação da Banda Nova de Fermentelos, dirigida por João Neves.

 

“Inspiração Divina” – Joaquim Coelho Lima

Julho 9th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Para quem acredita em Deus, esta marcha faz juz ao título.

E este texto poderia acabar aqui.

“Inspiração Divina” é aquela roupa que os nossos pais nos deram, mas só podemos usar ao Domingo.

É aquele brinquedo que fica guardado para não estragar.

É uma marcha que devia vir com o aviso “Não tentem isto em casa e sem a supervisão de um adulto responsável.”

“Inspiração Divina” é a marcha que mais vezes vi a quase “cair”.

Tem tanto de bela como de difícil e, principalmente, arriscada. É muito arriscado tocá-la em movimento com todo o “ruído” à volta de uma procissão.

Melodicamente, é quase um fado, é a devoção minhota na sua mais pura essência.

Em suma, é daquelas coisas que nós, filarmónicos, temos o privilégio de tocar e devemos fazê-lo com toda a solenidade.

E agora, as notas históricas…

“Família de industriais da área têxtil, os Coelho Lima foram fundadores das empresas “COELIMA – Indústrias Têxteis, S.A.” (em 1922) e “LAMEIRINHO – Indústria Têxtil, S.A.” (em 1948) empregadoras de milhares de famílias no concelho de Guimarães.

No plano cultural, o patriarca desta família – Manuel Martins Coelho Lima – foi o fundador da Sociedade Musical de Pevidém, em 1894, tendo sido regente (ou maestro) da banda desde a sua fundação e até 1928. O seu filho Albano Martins Coelho Lima foi maestro da banda entre 1929 e 1931, tendo depois sido Presidente da instituição durante longos anos. Joaquim Martins Coelho Lima, também filho do fundador da S.M.P., exerceu a função de maestro da banda entre 1960 e 1969, tendo igualmente presidido à instituição.

Albano de Abreu Coelho Lima foi Presidente da Sociedade Musical de Pevidém desde 1988, bem como seu benemérito durante todo esse período, tendo sido atribuído o seu nome à Academia de Música da Sociedade Musical de Pevidém, criada em 2016.”

Como não podia deixar de ser, aqui fica na interpretação da Banda de Pevidém, dirigida por Maciel Matos, num registo Afinaudio.

“Saudação a Mateus” – Fernando Costa

Julho 8th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

 

Na actualidade, a variedade de compositores a soltarem marchas para as nossas cadernetas é grande. Aliás, é por este género de escrita que muita gente se inicia nas lides da composição.

No entanto, em 1993, quando comecei a contactar com a realidade do trrrau – tau – tau – tau – trrrau, dois nomes, com o mesmo apelido, dominavam as marchas que eram executadas em entradas, arruadas e despedidas: Fernando e Ilídio Costa.

“Saudação a Mateus”, de Fernando Costa, foi a primeira marcha que “toquei”. Num sábado à tarde, nas célebres aulas na Sociedade Filarmónica de Crestuma, o sr. Rufino, nosso professor, desafiou o pessoal a pegar nos instrumentos. Eu ainda não tinha instrumento, andava apenas no solfejo, fui para o bombo (e foi o início de uma linda amizade). Estavam por lá alguns colegas mais experientes e ajudaram-nos a tocar a esta marcha.

Curiosamente, tempos mais tarde, quando desfilei pela primeira vez, com uma caixa pendurada ao pescoço, foi precisamente esta marcha a ser tocada.

Apesar de sentir que é uma marcha que, pela sua simplicidade, algumas bandas terão “vergonha” de tocar, tem um grande valor emocional para mim e, por isso, quando há uns anos, na Banda de Souto, o Manuel Luís Azevedo a recuperou para as cadernetas fiquei tão feliz como se fosse tocar a 9ª Sinfonia de Beethoven.

Aqui fica na interpretação da Banda de Golães, dirigida por Filipe Silva.

Vídeo de Damião Silva.

“The Stars and Stripes Forever” – John Philip Sousa

Julho 7th, 2021

CLASSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Andamos há tanto tempo a falar de reportório filarmónico e ainda não tínhamos chegado àquela que será, eventualmente, a marcha militar mais conhecida e tocada em todo o Mundo e que em Portugal proporciona um divertido trocadilho gastronómico.

“The Stars and Stripes Forever” é o nome da bandeira dos EUA e o título da famosa marcha, composta a bordo de um transatlântico, no dia de Natal de 1896. John Philip Sousa acabara de saber da recente morte de David Blakely , o empresário da sua Banda. Compôs a marcha mentalmente e colocou as notas no papel ao chegar aos Estados Unidos.

Foi estreada no Willow Grove Park, nos arredores da Filadélfia, em 14 de maio de 1897, e imediatamente recebida com entusiasmo.

Seguindo um Acto do Congresso dos EUA em 1987, foi oficialmente adoptada como a marcha nacional dos Estados Unidos da América.

Historicamente, no mundo do espectáculo e particularmente no teatro e no circo, esta peça é chamada de “Marcha do Desastre”.

No início do século 20, quando era comum que teatros e circos tivessem bandas residentes, essa marcha era um código tradicional que sinalizava uma emergência com risco de vida. Informava subtilmente o pessoal sobre situações de emergência, permitindo que a saída do público fosse organizada, sem causar o caos e o pânico. Portanto, a marcha só seria executada nestes espaços, em situações extremas como foi o caso do incêndio do circo Hartford em 6 de julho de 1944.

John Philip Sousa escreveu uma letra para a marcha, apesar de ser muito menos conhecida do que a marcha em si.

O resto toda a gente sabe. As “Tripas a Ferver” ouvem-se em todo o lado, em todas as circunstâncias e, obviamente, as bandas não poderiam escapar, ou não corresse sangue português nas veias do compositor.

“The Stars and Stripes Forever”, de John Philip Sousa, na interpretação da Banda de Tarouquela, dirigida por Carlos M. Melo. Vídeo de Damião Silva.

 

“Alegria no Arraial – Rapsódia n.º 8” – Ilídio Costa

Julho 6th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Terceira Temporada – “Qual é que vai?”

Hoje em dia, vamos às festas e ouvimos sempre as mesmas rapsódias.

Na altura em que comecei a tocar, há quase trinta anos, havia mais variedade.

Agora também há, mas na época as bandas diversificavam mais o seu reportório neste género, parece-me…

Uma rapsódia que toquei muitas vezes na Sociedade Filarmónica de Crestuma e que eu acho muito bem conseguida, a nível melódico e orquestral, foi a n.º 8 de Ilídio Costa, “Alegia no Arraial”.

É diversificada em temas, substituindo o tradicional “fado” central por uma “barcarola”,  com uma das melhores “chulas” que conheço e finalizando com um “corridinho” impressionante.

Se algum amigo maestro tiver isso em arquivo, por favor, toque, grave e partilhe muito.

Depois de muita pesquisa encontrei apenas e só esta gravação da Banda Recreativa de Bucelas, sob a direcção do Maestro Luis Fernandes dos Santos, dividida em dois vídeos:

 

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.