– Já ouviste o novo medley do Luís Cardoso? É com músicas dos Scorpions!
– Deve ser fixe mas eu nem gosto assim tanto dos Scorpions…
Durante muito tempo não se falava noutra coisa. A obra este exclusiva da Banda de Paços de Ferreira e o mundo filarmónico salivava para que caísse no “domínio público”, salvo seja.
Até que um dia, num “ganso”, nas Feiras Novas de Ponte de Lima (essa “Meca” filarmónica) sai para a estante uma coisa chamada “Francisco Magalhães”.
– É isto o medley dos Scorpions!
Foi à primeira vista e foi como se um camião TIR me abalrroasse. Que impacto logo no primeiro compasso!
Depois dessa primeira vez, toquei-a muitas outras vezes.
Tempos mais tarde, cruzei-me com o Luís Cardoso e ele falou-me sobre a encomenda e o processo de composição do “Francisco Magalhães”, assente no concerto da banda rock alemã com a orquestra de Berlim.
Questões técnico-comerciais à parte, eu arrisco-me a dizer que este é o melhor medley-rock-filarmónico português. Se não for o melhor (classificação sempre subjectiva) é dos que dá mais “pica”.
Por consequência, também é dos mais mal tratados. E, como já referi anteriormente sobre outras obras do género, revela muito desconhecimento dos originais por parte de quem dirige e de quem toca, principalmente, no último tema. Comparem a velocidade a que os Scorpions tocam o “Rock You Like an Hurricane” e a velocidade a que as bandas o tocam neste medley. Uma vez, um maestro dirigiu aquilo tão rápido, que eu temi que o xilofone incendiasse e o próprio ficasse sem um braço.
Não obstante, apesar de ser uma obra relativamente recente, merece destaque e reconhecimento ao Luís Cardoso por ser um especialista no tratamento que dá ao rock.
“Hoje ensaiei uma peça do Jacob de Haan que nem parece dele…”
Só depois me apercebi que não era do Jacob, mas do Jan.
Jan de Haan foi o fundador da “De Haske Publications”, à qual se juntaram o irmão Jacob e o belga Jan van der Roost, entre outros jovens compositores.
Em 2008, venderia a sua parte na empresa para se dedicar exclusivamente à composição e direcção.
Para além da “Overture to a New Age”, Jan de Haan popularizou-se em Portugal pela “Music for a Solemmnity” um exuberante tributo a John Williams.
Datada de 1995, esta “Abertura para uma Nova Era” fála-nos da incerteza no futuro, da consciência de que os tempos que se avizinham nem sempre são tão agradáveis como aparentam.
Uma obra em puro “estilo holandês”, com todos os ingredientes habituais: solene entrada dos metais, movimentos agitados, secção central introspectiva e final marcial.
“Em última análise, porém, a confiança e a esperança vencem, representadas por Jan de Haan numa coda brilhante. A nova era pode começar!”
Durante muito tempo, tocar determinadas aberturas de Rossini, tipo a “La Gazza Ladra” ou “L’ italiana in Algeri”, era sinal de fraqueza. Até que o pessoal descobriu que podia tocar estas obras com o mesmo empenho de outras e perdeu a vergonha.
La gazza ladra (A Pega Ladra, em italiano… Pega… o pássaro, entenda-se) é um melodrama em dois actos com libreto baseado em “La pie voleuse”, de JMT Badouin d’Aubigny e Louis-Charles Caigniez.
Rossini era célebre, à época, pela velocidade com que compunha as suas obras, e esta não foi exceção; supostamente o seu produtor teria sido obrigado a trancar Rossini num quarto, nas vésperas da primeira performance, para que ele concluísse a abertura. Rossini então passava pela janela cada folha da obra aos seus copistas, que escreviam o resto das partes orquestrais.
(curiosamente, já ouvi esta mesma história sobre “O Barbeiro de Sevilha”)
Foi encenada pela primeira vez em 13 de maio de 1817, no Teatro alla Scala, de Milão, tendo sido revista por Rossini para performances posteriores.
As minhas mais remotas memórias filarmónicas são marcadas por esta marcha de concerto. Tocava-se praticamente em todas as festas da Banda de Crestuma. Mais tarde ouvi-a também pela Banda da Trofa mas, tirando estas duas bandas, não tenho conhecimento de mais alguém ter tocado a “Fiel”.
Curiosamente, até há dias, quando fui procurar alguma gravação da mesma, achava que seria obra de algum compositor português perdido nas brumas da memória.
É verdade que sou apaixonado pelas marchas de procissão monumentais, aquelas de carácter imponente e solene, que duram 10 minutos e carregam sobre si o peso dos andores.
Mas, convenhamos… em dias de Verão, com temperaturas acima dos 30 graus, o alcatrão a queimar-nos os pés, a boca seca, o peso dos instrumentos, piso irregular, subidas e descidas… é uma penitência para a qual não temos pecados suficientes.
Vai daí, a “nova geração” de marchas de procissão mais curtas dá um certo jeito.
Carlos Marques consegue com o seu “S. Martinho” um belo compromisso entre imponência, solenidade, introspecção em menos de cinco minutos. “Less is more” e os músicos agradecem.
“S. Martinho”, na interpretação da Banda de Coimbrões, dirigida pelo Maestro José Alexandre, num registo Afináudio.
Antes do “Manuel Joaquim de Almeida“, arrisco-me a dizer que esta seria a marcha de rua mais tocada em entradas, despedidas e “marcha em conjunto”.
Alberto Madureira da Silva, não sendo daqueles compositores com um espólio muito grande, consegue ter obras marcantes em diversas tipologias, populares e tocadas até à exaustão. E isso tem muito valor!
Partilho um vídeo do nosso amigo Damião Silva, no qual não se consegue ouvir a marcha toda, mas onde podemos matar saudades daquele ambiente de festa, que tão bem conhecemos.
Manuel Ribeiro da Silva deixou-nos um legado de 35 marchas militares e de concerto, 7 rapsódias populares, cerca de 40 números ligeiros, hinos, arranjos e outros.
Se “Desfolhando Cantigas” é explosão, fulgor, gradiosidade, excitação, “Aguarela Popular” traz consigo singeleza, pureza, uma certa humildade, sem perder o carácter festivo, dançante e colorido.
Aliás, arrisco-me a dizer que será a rapsódia que melhor combina a vertente mais melódica e cantabile, com a vertente mais rítmica e de bailarico.
Toquei-a diversas vezes na Sociedade Filarmónica de Crestuma. Tem um papel de triângulo que nos pode arrancar um pulso fora e aquele que, para mim, é o melhor “Malhão” das rapsódias portuguesas.