António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“La del Soto del Parral” – Reveriano Soutullo Otero e Juan Bautista Vert Carbonell

Agosto 4th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

 

“O que torna a obra especial não é o arrojo da composição ou a espectacularidade da sua orquestração. É a simplicidade das suas melodias que não deixa nenhum ouvinte indiferente.”

Uma espanholada das antigas e das boas, dos mesmos autores da já exposta “Lenda do Beijo” e que merecia ser mais tocada.

Zarzuela em dois actos, divididos em três quadros, seguindo os padrões normais dos dramas rurais e na qual os compositores deixam um pouco de parte o estilo de opereta, característico das obras anteriores, para aproximar-se dos costumes rurais, criando uma partitura marcadamente lírica, com certas influências do verismo italiano, que vinha ganhando força à época, sem perder o espírito espanhol que permeia toda a obra.

Sou suspeito… mas aqui fica a magistral interpretação da Marcial de Fermentelos, sob direcção de Hugo Oliveira, num registo Afinaudio.

 

“O Melro Branco” – Eugène Damaré

Agosto 3rd, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

 

 

O reportório solístico para banda filarmónica costuma ser uma “faca de dois legumes”. Por um lado, enriquece um programa e é uma boa maneira de encostar a banda oponente às cordas num despique. Por outro, pode trazer problemas internos, na chamada “gestão do grupo de trabalho”.

E, a meu ver, há ainda outra questão: há maestros que não têm a noção de como dirigir uma obra solística. Em primeira instância, a peça “a solo” é sempre do solista. Por isso faz-me confusão interpretações deste género de reportório em que a banda se sobrepõe ao solista ou, pior ainda, o maestro se sobrepõe ao solista.

O “Melro” será caso paradigmático deste fenómeno quando há maestros que impõem andamentos absurdos à interpretação da mesma. Fica difícil para a banda, fica difícil para o solista e o resultado final é desastroso. Digo eu, que já lá estive.

Considerações estilísticas à parte, sou totalmente apologista de obras solísticas nas bandas e trarei mais a este espaço, ainda nesta temporada.

O flautista francês Eugène Damaré nasceu em Bayonne e ganhou uma reputação considerável também como virtuoso no flautim. Prolífico como compositor, especialmente de peças de todos os tipos para seus próprios instrumentos. Escreveu também um método de flauta, com um suplemento para flautim e estudos. Faleceu em Paris em 1919. “Le Merle Blanc – Polka Fantaisie op.161” foi uma das suas mais famosas obras, sendo original para flautim e piano e tendo conquistado um lugar de destaque no reportório filarmónico nacional.

Aqui fica na leitura da Banda da Foz, dirigida por Jorge Macedo, sendo solista a Teresa Sala (uma miúda muito gira!). A filmagem é minha.

 

“Capricho Espanhol” – Rimsky-Korsakov

Agosto 2nd, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

 

“A opinião formada pela crítica e pelo público, de que o Capriccio é uma peça magnificamente orquestrada – está errada. O Capriccio é uma composição brilhante para a orquestra. A mudança de timbres, a escolha acertada de desenhos melódicos e padrões de figuração, adequados exatamente a cada tipo de instrumento, breves cadências virtuosas para instrumentos solo, o ritmo dos instrumentos de percussão, etc., constituem aqui a própria essência da composição e não a sua orquestração. Os temas espanhóis, de caráter de dança, forneceram-me um rico material para a aplicação de efeitos orquestrais multiformes. Em suma, o Capriccio é, sem dúvida, uma peça puramente externa, mas vividamente brilhante por tudo isso. Teve um pouco menos de sucesso na sua terceira seção (Alborada, em si bemol maior), onde o metal de alguma forma abafou os desenhos melódicos dos instrumentos de sopro; mas isso é muito fácil de remediar, se o maestro prestar atenção a isso e moderar as indicações dos graus de força nos instrumentos de metal, substituindo o fortissimo por um forte simples.”

(Nicolai Rimsky-Korsakov, na sua autobiografia)

 

Não sendo eu um especialista nestas coisas e fazendo uma análise puramente de senso comum, o sucesso que o “Capricho Espanhol” (no título original em russo: “Capricho sobre temas espanhóis”) tem, não só nas bandas, mas no ambiente sinfónico em geral, decorre do trabalho que o compositor entrega aos sopros e à percussão. Logo, torna-se de imediato uma obra passível de transcrição, apesar do desafio colocado pelas partes de harpa e violino.

Pergunta: é só a mim que o primeiro tema faz lembrar mais um Corridinho (ou um Malhão em excesso de velocidade), do que propriamente uma espanholada qualquer?

É segunda-feira e eu dormi mal, não liguem.

“Capricho Espanhol”, pela Banda Marcial de Fermentelos, dirigida por Hugo Oliveira, um registo de Damião Silva.

Boa semana a todos.

 

 

“Saudades” – José Calvário

Agosto 1st, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

E houve uma altura em que o pessoal achou por bem misturar ambientes sinfónicos com ritmos pop / rock.

Era Walter Murphy com Beethoven em “disco sound”, era o Louis Clark com os seus “Hooked on Classics”, era Luis Cobos com tudo e mais alguma coisa.

Em Portugal tivemos as famosas “Saudades” de José Calvário (uma das figuras da música portuguesa que mais admiro) também com a colaboração da mítica London Symphony Orchestra.

E é claro que estes populares temas portugueses iam chegar às bandas. Gostava de saber quem foi o autor desta transcrição que toquei várias vezes na banda de Crestuma, inclusive no meu concerto de estreia, a 19 de Março de 1994.

Aqui fica na leitura da Banda Nova de Fermentelos, dirigida por João Neves.

Abaixo, deixo o original por José Calvário e a London Symphon Orchestra.

 

Tempos medievais no século XXI

Julho 29th, 2021

Cresci num meio onde o “oculto” tinha um grande peso. Os “maus-olhados”, as rezinhas, a superstição, os amuletos, as mulheres com “poderes” onde se ia de táxi, meio à socapa, mostrar peças de roupa interior ou fotografias dos entes queridos, para saber se “tinham alguma coisa”.

A ignorância de um lado. A charlatanice do outro. O obscurantismo medieval que se aproveitava (e ainda aproveita) do medo e da crendice.

“Os médicos não sabem tudo.”

Claro que não. Quem sabe é a velha que mora nos arrabaldes, debita rezas imperceptíveis e tem péssimo gosto para a decoração de interiores.

Achava eu que com o século XXI a irromper, satélites no espaço, mais e melhor formação e informação, o ser humano iria aprender a confiar definitivamente na Ciência e deixar a Idade Média.

Mas uma das coisas que esta pandemia nos mostrou foi precisamente o contrário. “Estou farto de especialistas”, li eu outro dia. “Eles não percebem nada”, “porque é que um médico sabe mais que eu? só porque estudou e leu muitos livros.”

Claro… Claro…

É o paradoxo nos nossos tempos: nunca  Ciência esteve tão avançada, nunca as pessoas desconfiaram tanto dela.

“A vacina foi desenvolvida muito rápido. Eles querem é ganhar dinheiro.”

Porque a velhinha dos arrabaldes dizia apenas “cada um dá o que quer” e as notas lá se iam amontoando.

 

“Paulo Silva, O Clarinetista” – Valdemar Sequeira

Julho 24th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3º Temporada – “Qual é que vai?”

Sendo o mundo filarmónico um universo tão vasto, entre músicos, amestros, compositores e reportório, é, ao mesmo tempo, curto o que permite que, com um único gesto, consigamos homenagear várias pessoas de uma vez só.

Damião Silva é já uma figura desse universo.

Antigo músico, apaixonado pelas bandas, percorre o país atrás delas, de câmara em riste, a fazer aquilo que, muitas vezes, nem as bandas fazem: registar para a posteridade concertos, arraiais, entradas e até procissões.

Não fosse o seu incansável e dedicado trabalho e não haveria material no Youtube para matarmos saudades das nossas vivências filarmónicos.

A Damião Silva, aconteceu aquilo que nao devia acontecer a nenhum pai: a partida de um filho. Mas a sua Fé inabalável fez com que quisesse eternizar a presença terrena do seu Paulinho através da Música.

E daí, pela Arte de Valdemar Sequeira, nasceu este pasodoble de concerto, oferecido, em mãos, a várias bandas, para que o Paulo Silva continue presente nos nossos coretos e palcos.

Apesar de ter ainda muito reportório para partilha, os Clássicos Filarmónicos precisam de algum descanso.

Termina assim a 3ª Temporada, com a homenagem mais que justa a Damião Silva, ao seu filho Paulo e ao grande Valdemar Sequeira.

“Paulo Silva, O Clarinetista”, de Valdemar Sequeira, pela Banda de Antas Esposende, sob a direcção do próprio e com captação de Damião Silva.

(e vejam só que linda é a menina do flautim…)

 

 

“El Barbaña” – Manuel Gonzalez

Julho 23rd, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Tendo nascido numa terra profundamente marcada pela música filarmónica, Crestuma, possuo “memórias filarmónicas” até tempos remotos, bem antes de entrar para a banda local.

Uma delas é relacionada com o pasodoble “de rua” (pasacalle) “El Barbaña”, incluído no primeiro registo fonográfico, em K7 da Sociedade Filarmónica de Crestuma.

Na verdade, não sei se o “El Barbaña” é, de facto, “de rua”. O certo é que em Crestuma tocáva-se na rua, numa altura em que na rua tocavam-se marchas portuguesas, muito antes de ter aparecido esse hit filarmónico do século XXI, “Xàbia”.

Mais tarde, cruzei-me com esta peça em Souto e várias vezes na Marcial de Fermentelos.

É sempre com muita nostalgia que a ouço ou toco. Viajo para a minha infância e para os sábados passados a ouvir música com o meu pai. Ou então, para as festas religiosas em Crestuma, as Comunhões ou o Coração de Jesus, formado em frente à igreja, com o povo a assistir na escadaria.

Aqui fica na interpretação da Banda Nova de Fermentelos, dirigida por João Neves:

 

 

“Semper Fidelis” – John Philip Sousa

Julho 22nd, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

 

Voltamos à noite de 19 de Março de 1994, data em que fiz o meu primeiro concerto como filarmónico, na Sociedade Filarmónica de Crestuma, sob a direcção do Maestro Joaquim Costa.

A última obra do programa era esta “Semper Fidelis” (também brejeiramente conhecida como “Sempre a f*d*-las”), de John Philip Sousa.

Apesar de não haver nenhum documento oficial que o ateste, é conhecida como sendo a marcha oficial dos “Marines” (Fuzileiros americanos). Segundo o próprio, foi escrita numa noite, em lágrimas, após ouvir os seus camaradas cantarem o hino dos “Marines”.

Sempre toquei isto em concerto, mas confesso que adorava marchar o “Semper Fidelis”.

Aqui fica na interpretação da Banda de Nespereira, dirigida por Alexandre Coelho, numa filmagem de Damião Silva:

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.