António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Dias do fim – 7

Maio 22nd, 2020

Comecei a ler um artigo num relativamente famoso blog, de uma relativamente famosa pessoa e parei ao segundo parágrafo, quando a autora cita uma “intelectual norte-americana”.

Nem consegui ler mais.

Que profissão é essa? Intelectual. Alguém que passa o dia a pensar?

Parece que estou a imaginar a senhora, num qualquer balcão de atendimento e alguém lhe pergunta “profissão?”, resposta “intelectual”.

Fogo. Como é que um intelectual ganha a vida? O que é que produz? Como produz?

Como é avaliada a sua produtividade? Fica a pergunta.

Muitas respostas tem uma jovem portuguesa que vive na Suécia e que acha mais importante sair à rua do que evitar que alguém morra. Escreveu um extenso e irado texto num grupo de Facebook chamado #sairdecasa, mas que também se podia chamar “Somos um grupo de egoístas”. Apeteceu-me aderir ao grupo e dizer-lhe umas coisas… Mas alguém com este tipo de perfil, nem merece a minha consideração. Fica apenas a nota, numa altura em que até os próprios responsáveis lá do sítio admitem que a estratégia não foi, propriamente, a mais correcta. Parece que a cena de “salvar a economia” correu mal, o país está a caminho da pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial, cai o PIB 7% e, talvez um bocadinho mais importante, caem suecos como tordos.

Mas a menina está toda contente, porque tem a sua liberdade de sair à rua. Yay!

Um grande “Yay!” para o meu filho de quase 3 anos, que ontem saiu à rua de máscara e manteve-a direitinha, no nariz, a maior parte do tempo.

Chegamos ao carro, tirou-a e não me pareceu traumatizado nem incomodado. Só dizia “sou o Wooper! sou o Wooper” (Wooper = Storm Trooper).

Estão a ver, adultos? É fácil.

E pronto… caiu um balde de água fria no orgulho portuense. Afinal, parece que a JK Rowling nunca esteve na Lello. É suficiente para já estar a ser insultada nas redes sociais… ela, os turistas, os donos da Lello. Afinal, tem que haver sempre sacos de pancada. E intelectuais. Ser intelectual é o que está a dar. E ser sueco.

Quem também caiu, foi um jovem de Viana do Castelo que resolveu mandar-se de um telhado para um rio. O plano saiu gorado por uma pedra que, “do nada”, lhe apareceu a meio do caminho. No vídeo, partilhado por aí, é visível a estupidez e audível os ossos a partirem-se todos.

Alguém que, claramente, não é intelectual, nem sueco… porque sobreviveu.

Dias do fim – parte 6

Maio 21st, 2020

Naquele tempo, disse alguém, no Brasil: “Ainda bem que a Natureza criou este monstro, o Coronavírus!”

Todos dirão: “Bolsonaro!”. Errado: Lula da Silva.

Fogo, os brasileiros estão mesmo lixados. Não há ponta por onde se lhe pegue…

Quando ouço os defensores vorazes do desconfinamento dizerem que devemos confiar no bom senso e na maturidade do povo, lembro-me do senhor que passou por mim na rua, montado na sua motorizada, capacete enfiado no braço, cigarro no canto da boca e a expelir fumo por todo o lado, principalmente quando passou junto a mim e ao meu filho.

Que Rei!

Raínha também é a vizinha do fundo da rua, que arranca no seu carro, com a agressividade do Schumacher e regressa qual encarnação do Senna. Quem sou eu para condenar o espírito F1 da senhora mas… vá… isto é uma zona de moradias, em que as crianças brincam na rua, andam de bicicleta e trotinete, jogam à bola…

E voltamos à questão do bom senso do povo. Quantos de nós não temos aquele amigo que diz “eu não cumpro os limites de velocidade, mas eu sei conduzir!; ou o outro “se o meu carro chega bem aos 200, porque vou andar a 120?”

E depois, dizem as estatísticas que o excesso de velocidade é a principal causa de acidentes. E o alcoól: “eu bebo à vontade, porque depois sei o que faço.”

Cada tiro, cada melro. Ayrton Senna, o melhor piloto de todos os tempos, morreu numa manobra mal calculada. Mas o Zé da Esquina metia o Senna num bolso.

“Eu não uso preservativo, mas tiro a tempo!”

Se os vossos pais tivessem usado preservativo, isso sim, é que era!

Dias do Fim – parte 5

Maio 20th, 2020

Hoje comi um iogurte do côco e regressei aos verões da minha infância, a comê-lo na praia, enrolado na toalha, depois de ter andado a brincar na água; ou sentado na soleira da porta, aos pés da minha avó Maria, enquanto ela fazia a sua renda; ou, no fim de um almoço de Domingo…

É incrível como os sentidos nos ajudam a viajar no tempo.

Viajar é algo complicado nos próximos tempos, logo este ano em que ia passar uns dias em S. Miguel, aproveitando para correr e conhecer a ilha que tanta curiosidade despertou na Teresa.

Ficará para outra altura, com certeza, porque não há mal que sempre dure.

Dura tem sido a vida de todos aqueles ligados às artes e ao espectáculo. Apesar de a Música não ser a minha actividade profissional principal, dá um dinheirinho extra no final do ano. A minha solidariedade para com todos os colegas músicos, maestros, cantores, técnicos, a todos que viram o seu ganha pão parar de um momento para o outro. Para a outra da SIC, vai uma grande obscenidade… não encontro uma forma civilizada de responder a quem não compreende a civilização.

(de um programa chamado Passadeira Vermelha, onde só se fala de futilidades, nunca poderíamos esperar elevação para discutir um assunto sério)

Sérios parecem ser os problemas de memória (isto para não dizer que o gajo está maluco) de Pablo Aimar, antiga glória do Benfica, cujo cabelo à banda hard rock dos anos 80 / 90 sempre me fascinou. Então não é que o Aimar diz que foi uma “aparição” quando viu o João Félix na formação do clube encarnado. Deve ter sido mesmo uma “aparição”, dado que o craque com nome de traficante saiu do Benfica em 2013 e o Félix entrou em 2015. Só falta dizer que o jovem viseense apareceu todo vestido de branco em cima de uma azinheira.

Mas, cala-te boca, que futebol e quejandos é terreno pantanoso.

Até amanhã e aproveitem o solinho!

Dias do Fim – parte 4

Maio 19th, 2020

Parece que já houve cavalos, ou burros, que anteciparam o tiro de partida, galgaram a cerca e foram para a rua de Santa Catarina, formar uma gigantesca fila à porta dessa loja de bens essenciais, de seu nome Zara. Sabemos que depois da pandemia, o “tuga” não volta a comprar nas lojas dos chineses, mas nas espanholas “no pasa nada”. Ole!

Portanto, ao fim destes 67 dias, o que fazia falta mesmo, era roupinha. Imagino o que terá sido dentro da loja.

Terá sido algo equivalente ao que se passou algures em Lisboa, onde adeptos dos dois maiores clubes lá do sítio já andaram a matar saudades e a “matar-se” uns aos outros… E ainda faltam duas semanas para o campeonato reabrir. Isto sim, é o regresso à normalidade.

Regresso à normalidade que nos coloca a todos entre a espada e a parede. Entre a espada e a parede é uma bela canção do Abrunhosa, mas é, acima de tudo, um sentimento que flutua sobre as nossas vidas.

Quando era criança e, pela primeira vez, ouvi esta expressão, imaginei de imediato alguém, encostado a uma parede, com uma espada apontada ao abdómen. É claro que não podemos andar para trás (parede), nem para a frente (espada), mas podemos andar para o lado, ou não?

Eu acho que o verdadeiro significado da expressão reside mesmo aí, no facto de, permanentemente, termos de andar para os lados, como se de um precepício se tratasse.

Ocorrem-me também os filmes sobre a Roma antiga e o processo motivacional dos escravos. Se páras: levas com o chicote. Se levas com o chicote: ficas debilitado. Se ficas debilitado: páras mais. Se páras mais: levas com o chicote.

Faz-vos lembrar alguma coisa? É-vos familiar? Pensem nisto. E pensem no que é pegar na vida com pinças.

Bem, por hoje é tudo, eu ainda tenho roupa para este Verão, portanto estou safo.

Dias do Fim – parte 3

Maio 18th, 2020

Não há como fugir: a maior parte de nós vive dependente das redes sociais. É um vício, que tem tanto de bom como de mau. Vício que, nestes tempos de confinamento, ganhou uma dimensão extra.

Não torças o nariz: provavelmente chegaste aqui através do Facebook, que é um dos dois únicos sítios onde partilho estes textos. O outro é o WhatsApp.

Então… ainda achas que isto das redes sociais é paranóia minha?

Não me interpretem mal, as redes sociais fazem parte do meu ganha pão. Trabalho agarrado a seis delas grande parte do tempo, portanto, longe de mim ser daqueles que passa a vida no Facebook a dizer que o Facebook é mau.

Confesso que fico vaidoso quando algo que público tem reactividade, likes partilhas e tudo a que tenho direito. Mas, por vício profissional, sou muito mais atento a quem não reage do que a quem reage.

Vamos parar aqui para pensar um pouco. Respirar fundo… Cá vai…

Muitas vezes, colocamos o gosto de forma indistinta, quase automaticamente, como aquele LOL que dizemos sem vontade nenhuma de rir. É, ou não é, verdade?

Mas o ignorar, o não dizer nada, pressupõe muitas vezes uma atitude de desacordo, quase repulsa, dado que o Facebook não tem a opção Não Gosto.

E isto do ignorar tem muito que se lhe diga. O Miguel Monteiro dizia-nos, muitas vezes, que a primeira necessidade que o ser humano manifesta quando nasce é a necessidade de aceitação: querer ser aceite pelos pais, pela família, pelo Mundo que o rodeia. Nos antípodas disto está o sermos ignorados, no limite, rejeitados. E a rejeição é das coisas mais difíceis com que temos que lidar. Mexe com o nosso “eu” mais profundo, mais primitivo. Mexe com o nosso próprio instinto de sobrevivência.

Saber reagir a tudo sempre foi um dos pontos fortes do grande José Mourinho, homem por quem nutro sincera admiração, mesmo que os seus golden days já pareçam distantes. E, José Mourinho disse, há muitos anos, numa conferência de imprensa pós-jogo, que não eram os grandes erros de arbitragem que o enervavam, os penalties, os fora-de-jogo, os golos anulados… Não. Eram as pequenas faltas a meio campo, os lançamentos assinalados ao contrário, as paragens por tudo e por nada. Dizia ele que era isso que irritava e desconcentrava os jogadores.

É a diferença entre conduzirmos numa estrada excelente, mas com um buracão a dado ponto, ou guiarmos o nosso carro por uma caminho irregular e cheio de buraquinhos.

Enquanto escrevia este texto ouvi a notícia de que hoje reabrem as tascas. Tudo preocupado em ir à praia e eu a sonhar com uma tasca recheada de amigos, canecas de cerveja e petiscos. E depois partilhar tudo no “Insta” e em todo o lado.

Por falar em amigos, tenho saudades vossas, pá!

Dias do Fim – parte 2

Maio 17th, 2020

Imbecil.

Desculpem, em primeiro lugar, bom dia!

Imbecil.

Foi a palavra com que adormeci ontem.

Uma escriba das redes sociais, alguém de quem já não me recordo o nome (nem quero!), lavrou uma extensa prosa sobre os directos do Bruno Nogueira e, a dada altura, define como imbecil quem não viu nada de interessante, ou relevante, nessa “cena”.

(desculpem usar a expressão “cena”, mas não sei como definir essa… “cena”)

Aliás, o dia de ontem foi todo ele repleto de extensas prosas sobre os directos do Bruninho…

Voltanto à imbecilidade… Ora, como eu não vi, nem um segundo, desses famosos lives, arrisco-me a cair nesse grupo de imbecis.

«eh pá! não viste? como é possível? aquilo foi a melhor “cena” desdes últimos meses!»

Malta… calma… acredito que sim.

Reparem… este imbecil aqui, há muitos anos que é admirador confesso e incondicional do Bruno Nogueira. Sabe muito bem do que ele é capaz. Gosta tanto dele, que até gosta das cenas que não têm piada nenhuma!

Mas, desta vez, simplesmente, não tive interesse e/ou tinha outras coisas para fazer.

(a propósito de outras coisas para fazer, se gostam de ler, sigam a saga “Força Sigma” de James Rollins… mas só se quiserem, não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…)

A verdade é que este tipo de apedrajamento é frequente e já levei com umas boas bojardas por nunca ter visto o Game of Thrones, a Casa de Papel e outras “cenas”.

Então com músicas é que é. Como não ouço as rádios mainstream, há muita coisa que (felizmente!) me passa ao lado. “Não conheces, António??? Mas isso passa em todo lado!!!” Não nos lados por onde eu ando, graças a Deus…

Mas não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…

Há tempos pediram-me para tocar uma coisa chamada “You raise me up” num casamento e, quando disse que não conhecia, ia sendo fuzilado. Depois de ouvir, percebi porque não conhecia. Toquei e voltarei a tocar quando me encomendarem… tenho que ser profissional. Mas não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…

Voltando ao Bruno Nogueira, vendo de fora, constato que ele se tornou, consciente ou inconscientemente, numa caricatura dele próprio.

Todo este hype à volta dos directos dele, fez-me lembrar um “Tubo de Ensaio” que fez com o João Quadros sobre o “Fora da Caixa” (procurem no site da TSF que deve andar por lá). De repente, o Bruno Nogueira que quebrava as convenções, chocava, surpreendia, torna-se tudo o que uma celebridade da Internet pode querer: mainstream, influenciador, ao mesmo tempo culto e intelectual e, acima de tudo, trendy. Tão trendy que, quem não foi arrastado pela trend, acaba por ser imbecil.

Presumo que na reabertura das esplanadas, muita gente estará de copo de gin, ou vinho branco na mão (a segurar pelo pé, como é óbvio), óculos de sol, cigarrilha, dissertando sobre esta “cena” tão cool do Bruno. Até ao dia em que ele volte a escrever um daqueles textos que vos fazem espumar de raiva e coloque as vossas elevadas almas a chamá-lo de imbecil…

Estou a caminho dos 41 anos e já fui imbecil, muitas vezes, nesta vida. Continuo a ser. Faz parte. Qualquer um de nós pode tropeçar na imbecilidade, incluindo quando chamamos imbecil a quem não curte as mesmas “cenas” que nós…

Há tempos, em minha própria casa, um convidado dizia que detestava Star Wars. Vivendo eu num verdadeiro Templo Jedi, era, ou não era, suficiente para mandar o gajo pela varanda fora, ou, quando muito, chamar-lhe imbecil?

Claro que não… Podem não gostar do Star Wars, mas não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…

Dias do Fim – parte 1

Maio 16th, 2020

Ao cabo de 64 dias de confinamento, Portugal parece uma bomba relógio ou a linha de partida de uma corrida de cavalos, presos nas caixas de arranque, ansiosos por largar a toda a brida.

E a loucura está instalada, ou re-instalada, depois de um reboot que muitos agora dizem ter sido desnecessário. Prognósticos só no fim do jogo. Mas parece que o jogo ainda não acabou e o Manchester United já ganhou uma Champions quando tudo parecia perdido. E noutra época, o Liverpool saiu para o intervalo a perder 3-0, mas foi buscar o caneco nos penalties.

Futebolices à parte, parece que a malta quer é mesmo bola.

Coisa boa desta quarentena foi a pausa no futebol. Digo eu, portista fanático, mas para quem o futebol lusitano já pouco, ou nada, diz.

Triste fiquei pelo fim que deram ao Andebol. A época soberba do FCP merecia melhor desfecho. Quando muito, uma “finalíssima” com o Sporting, dado que todas as restantes equipas estão, a nível qualitativo, muito longe destas duas.

E por falar em Desporto, o mundo da corrida está em suspenso. Poucos acreditam que, até ao final do ano, voltem a haver provas.

Provas, teremos todos nós que enfrentar nos proximos tempos. Há uma semana, o país acordava em pânico com as medidas anunciadas para a reabertura das creches. Já dissertei sobre o assunto na minha página de Facebook mas, para fechar o mesmo, digo apenas que a creche do meu filho, um lugar tipo Hogwarts, tem as melhores educadoras do Mundo. Não entraram em pânico, não desataram a “malhar” no Governo, não encheram as redes sociais com mil e um queixumes. Falaram com os pais e tranquilizaram-nos. Não é que eu precisasse, mas soube bem. Força, Isabéis!

E ontem foi o dia da Família. Numa troca de fotos no grupo de WhatsApp da creche, fiquei imensamente feliz por ver que há várias famílias com filhos “importados” e “partilhados”. Uma realidade cada vez mais comum e salutar. Vivam as famílias, sejam elas como forem, mesmo que não seja como o CDS quer!

E não deixa de ser curioso que o dia da Família surja em pleno caso “Valentina”, que nos deixou a todos em choque e com vontade de esventrar aquela dupla de assassinos. Por mal comparado que seja, deveríamos todos aproveitar para reflectir a nossa postura perante tudo na Vida.

Vida com V maiúsculo que, de forma natural, regressa à “normalidade”, seja lá o que isso for. É claro que muitos querem já soltar a rolha do champanhe, ou abrir as cancelas para os cavalos em fúria.

Mas, os cavalos também se abatem e nós vivemos em sociedade. Por muito que custe ao Observador, à Iniciativa Liberal (partido em que votei e pelo qual nutro sincera simpatia), às “tias” de cascais, às “Sheilas” da Póvoa, aos gunas e sopeiras de ginásio, repito, vivemos em sociedade e, mais do que nunca, os egoísmos devem ser postos de parte.

Digo eu, egoísta assumido, filho único, mas que há muito aprendeu que o nosso “Eu”, por vezes, tem que viver num universo paralelo. Vejam a “Teoria do Big Bang” para aprenderem isto e a Teoria das Cordas.

Por hoje, fico por aqui. Nos próximos dias continuarei a escrever sobre estes “Dias do Fim”.

O Dia da Mãe nunca foi fácil

Maio 3rd, 2020

Confesso-vos que, quando criança, tinha medo do Dia da Mãe.

Era preciso fazer algo na escola para oferecermos às nossas mães, mas o meu desastroso talento para os trabalhos manuais fazia com que chegasse a casa, quase sempre, de mãos a abanar.

Lembro-me de uma vez que deveríamos fazer uma flor em papel crepe, em torno de um arame. Nem a professora, nem os meus colegas me ajudaram e então cheguei a casa com um arame e uma tira de papel crepe.

E a minha Mãe colocava a fasquia muito alta, quer neste dia, quer no Aniversário dela: “não quero presentes, quero boas falas e boas obras”.

Chiça. Dar um presente é fácil. Compramos e pronto. Mas compreender como fazer a nossa Mãe feliz…

A minha, por exemplo, apesar de muito orgulhosa, nunca gostou da minha exposição pública. Lembro-me que, quando decidi organizar o primeiro Encontro de Coros, em Crestuma, com as V.E., ela deu-me na cabeça: “porque é que te metes nisso?”

Antes do meu concerto de estreia como maestro foi igual: “eles não tinham mais ninguém? porque é que tens que ser tu? só para te chateares!”, mas no fim estava muito mais feliz do que eu. Até elogiou a minha géstica.

Foi embora cedo de mais e de uma forma que ela própria não contava. Falo dela muitas vezes, porque tenho sempre presente, e cada vez mais, os seus ensinamentos.

Ainda esta semana alguém me dizia “levantas-te super cedo…”. E de me imediato lembrei-me de algo que tantas vezes ela me disse: “Não tens tempo para fazer tudo o que queres? Levanta-te mais cedo.”

O Dia da Mãe continua a não ser fácil, porque agora Ela não está cá. Nem sequer tenho à mão uma fotografia catita para partilhar convosco.

Mas a vida dá voltas e felizmente posso partilhar este dia com uma Mãe muito especial que, uma noite me disse: “A tua mãe é muito bonita!”

Amigos, guardem bem as vossas Mães no coração para que, um dia, quando eles forem embora, continuem convosco.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.