António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Abraço a Portugal” – Duarte Pestana

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 8 de Maio de 2021)

 

Série Pestana – Fantasia n.º 3
Hoje é sábado e abro uma excepção nos meu próprios critérios editoriais, mas é por uma boa causa. Para dar continuidade à “Série Pestana”, tive que passar por esta obra.
“Abraço a Portugal” (1953) é a terceira fantasia de concerto de Duarte Pestana, e não é propriamente daquelas obras que se ouça muito por aí (acho eu).
Portanto, primeiro aplauso para a Banda do Pejão por ter “arriscado” gravar esta obra, deixando este registo para a posteridade.
De acordo com a Tese de Mestrado de Hernâni António Petiz Figueiredo “A forma da Fantasia nº3 de Duarte Ferreira Pestana traduz-se, genericamente, na divisão dos temas. Cada um caracteriza uma região do país: Angola (pertencia a Portugal
na data de composição), Algarve, Ribatejo, Beira Baixa, Beira Alta, Trás-os-Montes, Douro e Estremadura. Desta forma, o compositor faz corresponder cada tema de uma região a uma secção da obra, originando 8 secções. Além destas, contabilizam-se mais três secções (uma correspondente à Introdução e mais duas correspondentes à Coda) perfazendo um total de 11 da secção A à secção K.”
(espero que não venha ninguém tentar censurar a obra por incluir Angola no território português)
Confesso que não conhecia esta fantasia e só me arrependo. Mais uma vez, estamos perante uma obra belíssima, de fino recorte orquestral e harmónico.
E esta interpretação da Banda do Pejão, dirigida por Francisco Moreira, merece o nosso aplauso.

 

“Una Noche en Granada” – Emilio Cebrian Ruiz

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 6 de Maio de 2021)

 

Sempre que abordei reportório espanhol neste espaço, foi-me sugerido também falar sobre “Una Noche en Granada”, poema lírico de Emilio Cebrián Ruiz.
Não foi fácil encontrar no Youtube uma banda portuguesa a interpretar esta obra mas, em boa hora, surgiu-me na pesquisa a Banda de Riba de Ave, dirigida pelo maestro Hugo Ribeiro.
O meu primeiro contacto com esta obra terá sido em 1994/95, toquei-a vários anos na Banda de Crestuma e é algo que se ouve bastante por aí.
Intercala momentos de orquestração “fina”, expondo várias vezes os instrumentos solistas, sem rede (por exemplo, o solo de oboé acompanhado apenas pela caixa), com momentos de grande intensidade instrumental, mesmo “à espanhola”. Olé!
Parece fácil, mas é muito exigente para quem toca e quem dirige. Qualquer passo em falso pode criar situações desconfortáveis.
Mas resulta muito bem, mesmo em arraiais, obrigando o público a estar quieto e atento (coisa difícil…).
É uma obra à medida de maestros, músicas e bandas “com salero”. Pede alma, paixão e intensidade!
É realmente um poema.

“14 minutos no parque” – Ilídio Costa

Junho 1st, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 5 de Maio de 2021)

Outra obra emblemática do não menos emblemático Ilídio Costa são estes “14 minutos no parque”.
Qual parque?
Porquê 14 minutos e não 15?
Não sei, mas esta obra teve alta rotação nos idos anos 90. Quando comecei a conviver com músicos de outras bandas e perguntava “que ligeiros vocês têm?”, respondiam “14 minutos no parque.”
De facto, comparado com os “Momentos Menores” ou os “Ecos de Espanha”, será uma escrita mais leve, mas com o selo de qualidade Ilídio Costa.
Apesar de ser uma obra bem popular, toquei-a menos de meia-dúzia de vezes, a primeira delas, no meu primeiro “ganso”, na Banda de Avintes.
Aqui fica na interpretação da Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba, dirigida pelo Maestro João Neves.

“Português Suave” – Carlos Marques

Junho 1st, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook a 4 de Maio de 2021)

Todos reconhecemos que as rapsódias “à moda antiga” são inigualáveis, mas houve uma altura em que já estávamos fartos de terminar as festas com meia-hora de marchas, fados, viras e malhões, depois e termos passado todo o dia a “malhar”.
Por isso, quando ouvimos o “Português Suave” pela primeira vez, ficamos rendidos.
8 minutos, temas bem conhecidos do nosso imaginário, numa linguagem actual, por vezes swingada, outras vezes “rockada”, com a banda soar como uma big band, sem faltar a tradicional marcha final, com um flautim feérico.
Carlos Marques mostra-se nesta obra um exímio conhecedor da linguagem da música ligeira, fruto da sua experiência nesta área, nomeadamente nos 9 anos em que tocou trompete na Orquestra Ligeira do Exército. Aliás, para esta orquestra foi também compositor e, nesse reportório, há um tema chamado “Memórias I”. Procurem no Youtube e depois digam-me se reconhecem.
Por incrível que pareça, tive dificuldade em encontrar boas gravações disto no Youtube.
Por isso, novamente a Banda de Famalicão, dirigida pelo Manuel Fernando Marinho Costa.

“A Divina Comédia -1ª parte – Inferno” – Cesare San Fiorenzo

Junho 1st, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 3 de Maio de 2021)

Antes de Robert Smith, quando a malta das filarmónicas queria invocar os 9 Círculos do Inferno recorria a Cesare San Fiorenzo (e não Camilo, como se vê por aí, às vezes).
Compositor italiano, viveu entre 1833 e 1909 e ganhou notoriedade com suas inúmeras obras instrumentais e corais. As mais proeminentes no género dramático e sinfónico foram a ópera “O Taumaturgo”, estreada no Teatro Dal Verme em Milão em 1879, e a trilogia da “Divina Comédia”, inspirada em Dante.
A filarmonia portuguesa deteve-se n’ “O Inferno” e, em boa hora.
Obra monumental (que até já vi creditada a Carl Friedmann…), tem de tudo um pouco e puxa, como poucas, por todos os naipes da banda. É certo que a maior parte do pessoal concentra-se no violento e grandioso forte final, mas a obra tem outras secções interessantes, como a imediatamente anterior a essa, a imediatamente anterior a essa, a imediatamente anterior a essa… e por aí adiante até ao obscuro início com a melodia depositada nos graves.
Para tocar o Inferno é preciso Técnica, Força, Técnica com Força e Força com Técnica.
O Inferno é um “calhau” dos antigos, mas belo… muito belo.
Com esta obra tenho duas histórias engraçadas:
1º – Uma vez quase desmaiava durante a secção final. Calor imenso, coreto pequenino e baixinho, quando o maestro cortou a suspensão final eu já via tudo a andar à roda;
2º – Estava eu num “ganso” e sai o Inferno para a estante. Quer o Maestro, quer o chefe de naipe (meu amigo), mandaram-me para os pratos. Preparo-me para tocar e pergunta o colega do bombo: “conhece isto?”
Vi logo que a pergunta tinha rasteira e respondi: “Não.” (na altura já tinha o papel mais que de cor).
“Isto é complicado… sabe… e muito rápido.”
“Pois… eu fico atento…”
Quando a obra entra no final, o colega que estava tão preocupado comigo, meteu àgua de tal forma que fez naufragar a Barca de Caronte (se não sabem o que é a Barca de Caronte, não são dignos de tocar o Inferno).
No fim, pousei os pratos e conclui: “Pois… isto é complicado e muito rápido.”
Uma boa semana a todos e que esta segunda-feira não seja um Inferno.
Banda da Trofa, sob a direcção de Luís Filipe Brandão Campos.

“Incógnita” – Ângelo Moreira

Junho 1st, 2021
(texto inicialmente publicado no Facebook, a 2 de Maio de 2021)
Este clássico é mesmo clássico. É daqueles lá do fundo da pasta, já com papeis amarelados.
Lembro-me do primeiro despique a que assisti, poucos meses antes do meu concerto de estreia. Setembro de 1993, Festa da Sra. dos Remédios, Seixo-Alvo. Banda de Lever e Banda de Paramos.
A dada altura, sai isto do coreto da Banda de Paramos. No quadro onde era apresentado o nome das obras: “Incógnita”.
E, durante anos, fiquei a pensar que ninguém saberia o título da obra e, portanto, passou a ser a Incógnita.
O autor desta abertura no estilo filarmónico clássico português é Ângelo Moreira, nada mais nada mesmo, que o Ângelo Moreira da Pérola 59.
Se alguém souber porque é que a Incógnita se chama Incógnita e há um 59 à frente da Pérola, partilhem. Quero mesmo saber.
Ah… aquele solozinho de trompete para fazer chorar as pedras do adro.
Sim, porque a esta hora já está o adro cheio de gente à volta do coreto.
É Domingo e esta obra soa mesmo a Domingo.
Sociedade Filarmónica de Vilarchão, dirigida por Eduardo Carvalho.

“Arco-Íris” – Duarte Pestana

Junho 1st, 2021
(texto inicialmente publicado no Facebook a 1 de Maio de 2021)
Série Pestana – Fantasia n. 2
Quanto a vocês não sei mas, para mim, bastava o Arco-Íris para decidir que Duarte Pestana era um génio da composição e orquestração.
1952.
Ano de composição desta grandiosa e complexa obra que, ainda hoje se reveste de actualidade.
Tocar isto, para além da exigência técnica, é um desafio interpretativo e de concentração.
Mas vale bem a pena, transpirar cada compasso.
Arco-Íris é tudo, é marcha, fado, jazz e rapsódia. É ingenuidade, amor, paixão, sofrimento e loucura. É Música para além da Pauta e Arte para além da Música.
Aqui na leitura do maestro Manuel Fernando Marinho Costa à frente da Banda Sinfónica do Conservatório de Música do Porto.

“Transfiguração” – António Almeida da Silva

Maio 31st, 2021

Texto inicialmente publicado no Facebook, a 30 de Abril de 2021

 

Hoje até está um dia lindo de sol, vamos à procissão?

Lembro-me da primeira vez que ouvi isto, no carro de um amigo músico que, infelizmente, já não está entre nós:
“Ah… que marcha de procissão gira… ui… isto é uma marcha de procissão? Parece uma balada rock aqui a meio…”
A seguir à “Invocação a Deus” esta deve ser a marcha de procissão mais tocada (a “Invocação” também mais antiga…).
Sei muito pouco sobre a marcha. A mesma está creditada a António Almeida da Silva, com harmonização de Amílcar Morais. E é verdade que soa bem a Amílcar Morais.
Se alguém puder dar algum contributo adicional sobre a origem da marcha, agradeço.
Fica aqui a “studio version” da Banda de Coimbrões, dirigida por José Alexandre Sousa.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.