António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Fantasia do Minho” – Afonso Alves

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 12 de Junho)

Primeira peça portuguesa de concerto, virtuosa, para bombardino, composta por convite da “Besson Brass Instruments” pertencente ao grupo “Boosey & Hawkes” e Cardoso Conceição, interpretada por Steven Mead.
Na sua “Fantasia do Minho”, Afonso Alves foi desafiado a criar uma composição realmente difícil. A verdade é que ainda ninguém a executou com o “à vontade” que Mead fez. Ele próprio disse que era uma obra tecnicamente complicada e ao mesmo tempo muito expressiva, pois o compositor tinha captado muito bem o espírito etnomusical do nosso país e já se sentia em Portugal quando estudava a peça.
Mais tarde, a obra foi adaptada para ser executada em trompete por Jorge Almeida Lourenço Sousa.
Já tive a sorte de tocar as duas versões e isto é difícil… não só para os solistas como também para a banda.
“Fantasia do minho”, de Afonso Alves, para bombardino solo e banda, com Steven Mead no bombardino, Banda Alvarense, sob a direcção do compositor.

“Fanfarre Overture” – Lino Guerreiro

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 11 de Junho)

Conheci esta obra na Banda de Souto, onde a toquei por diversas vezes. Para desenjoar de pasodobles, ou marchas de concerto, é uma boa opção para abertura de actuações.
Gosto bastante, cai bem. Podia ser a banda sonora de um filme da Guerra das Estrelas, ou de super-heróis.
Escrita por Lino Guerreiro, que nos tem dado material bem interessante nos últimos anos.
Aqui na interpretação da Banda de Vimioso, sob a direcção de Ana Cavaleiro e com gravação da Afinaudio.

“Caminho para a Índia” – Samuel Pascoal

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 10 de Junho de 2021)

Nos dias de hoje, é quase um “crime” festejarmos o Dia de Portugal. Parece que devemos ter vergonha da nossa História e ocultar o nosso orgulho enquanto Nação.
Parece…
Mas como ainda penso pela minha cabecinha, o CLÁSSICOS FILRMÓNICOS assinala o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portugueses com “O Caminho Para a Índia” de Samuel Pascoal, compositor e maestro com quem me cruzei num curso de Direcção, na Banda de Gondomar, aqui há uns anos
“Obra inspirada na viagem de Vasco da Gama à Índia, retratada na epopeia “Lusíadas” de Luíz de Camões. Escrita em 5 partes diferentes, ilustra as vicissitudes e as alegrias vividas a bordo de um navio, nesta que foi uma das muitas viagens épicas dos descobrimentos portugueses.”
Toquei esta obra algumas vezes na Banda de Souto e, durante algum tempo, foi bastante tocada por aí. Hoje é um bom dia para a recordar.
Bom feriado a todos!

“Freitas” – Luís Cardoso

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 9 de Junho)

Gosto tanto desta obra, que nem sei o que dizer sobre ela.
Lembram-se de quando, na primeira temporada, falei das espanholadas?
Aqui fica uma das minhas favoritas, escrita já em pleno século XXI e dedicada a um minhoto de gema.
O som, o timbre, a força..
E isto resulta tão bem em concerto, em arraial, no concerto da tarde, no da noite e, se não me falha a memória, até já toquei isto de manhã.
Conheço bem a partitura, dado que o Prof. Luís Macedo “obrigou-me” a analisá-la e a estudá-la. Longas tardes a dirigir isto em frente ao espelho…
Como diz o Paulo Veiga, Luís Cardoso sabe usar a banda muito bem. Olé!
“Freitas”, dirigida pelo próprio Freitas, ao vivo, na Casa da Música (este concerto foi qualquer coisa de magnífico…).

“A Cidade” – Antero Ávila

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 8 de Junho de 2021)

Há quem avalie os compositores pelo tamanhão, dificuldade e impacto das suas obras. Está certo.
Eu avalio também e principalmente pelas emoções que despertam.
E pode uma pequena e simples marcha emocionar-nos? Claro. Há muitos exemplos nas nossas cadernetas, onde deveria andar “A Cidade” de Antero Ávila.
“Ah… é uma marcha de concerto.” Mas eu acho que se abdicarmos daquele ritardando, dá para se tocar na rua, às voltinhas da capela, para desenjoar do “Xabia”.
Uma marcha que tem o seu quê de americana, alemã, italiana e açoriana.
O timbre é inconfundivelmente do Antero.
Aqui na leitura da Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, dirigida, como sempre, por Afonso Alves.

“Innuendo” – Jorge Salgueiro

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 7 de Junho)

 

Hoje estou um bocado amargo…
Na literatura, não podemos pegar num texto numa língua estrangeira, metê-lo no Google Translator e considerar que está traduzido. É preciso dominar a língua estrangeira, compreendê-la como se fosse a nossa língua, compreender o sentido do texto e, só depois, transpô-lo para o nosso idioma.
Assim é, ou deveria ser, com os arranjos de temas pop-rock.
No seu “Inuuendo”, Jorge Salgueiro, não se limitou a “arranjar”.
Entrou no tema, compreendeu-o, sentiu-o, viveu-o e depois veio cá fora contar-nos o que viu lá dentro. E o que viu foi belo. Freddy Mercury a dançar o bolero de Ravel com a Carmen.
Mas… há o reverso da medalha. Por se tratar de um tema “ligeiro”, algumas bandas acham que é fácil. Depois dá asneira. Achar que o “Innuendo” é fácil, é desconhecer Queen e desconhecer Jorge Salgueiro.
“O tema Innuendo, de 1991, é uma composição de cerca de sete minutos (na sua versão original) que transpõe os limites do pop-rock. Fazendo uso do modo frígio de inspiração cigana, que no início surge ainda em ambiente rock, deixa adivinhar desde logo uma segunda secção assumidamente flamenca. Não é por acaso que o arranjo de Jorge Salgueiro, escrito em 2000, recorre à técnica da citação, encontrando-se nele breves referências à Carmen de Bizet e ao Bolero de Ravel – obras de clara inspiração espanhola.” in site oficial da Casa da Música.
Aqui na cuidada interpretação da banda de Gueifães, dirigida por Abílio Teixeira. Gravação: Afinaudio

“1868” – Nelson Jesus

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 6 de Junho)

Como já tive oportunidade de referir, gosto muito do Nelson Jesus enquanto compositor, por três motivos:
1º – Por inspirar as suas obras na tradição e raízes filarmónicas
2º – Por, ao mesmo tempo, ser inovador, sempre com critério.
3º – Pela imensa criatividade
A Banda Marcial de Fermentelos celebrou o seu 150º aniversário, pedindo a alguns compositores portugueses para comporem uma obra a assinalar a efeméride.
Nelson Jesus escreveu o fantástico “1868”, descrito desta forma pelo próprio:
“*1868 – A Banda Marcial de Fermentelos tem para mim a virtude de ser um agrupamento musical de grande versatilidade. Tanto é uma banda de forte tradição e bem enraizada no seio das melhores festas e romarias do país, como se sente à vontade nos mais exigentes palcos de concerto. Pegando na ideia do reportório tradicional, resolvi escrever um “calhau”.
O “calhau” é aquela peça antiga, cheia de notas, de papel amarelo! São as transcrições de aberturas de ópera e andamentos de
sinfonias da época romântica (altura da fundação da BMF). Esta peça é baseada em texturas e cores de algumas obras compositores da referida época revisitada. A orquestração tem por base as antigas transcrições em detrimento dos sons mais puros. Sentimos Korsakov, as madeiras dedilham Lizst, os metais cantam Wagner e Bruckner. Tchaikovsky é um ponto obrigatório nesta viagem, até na ideia do nome, ou não fosse a sua abertura “1812” uma peça obrigatória em qualquer arquivo das bandas do Norte.
A secção central da obra tem um aroma a fado e relembra a saudade da época de forte emigração para a América do Sul que tanto afectou a BMF. O hino da Marcial é escutado por diversas vezes. A peça termina com um Allegro Marcial, justificado no nome que a banda carrega, marchando em triunfo até ao final, até outros 150 anos.”
Já tive a honra de a tocar e confirmo tudo.
E aqui está o exemplo de uma obra “de concerto” que também é “de arraial”. Um “calhau” do século XXI.
Como não poderia ser de outra forma, Banda Marcial de Fermentelos, dirigida pelo Maestro Hugo Oliveira.

“Mais Alto e Mais Longe” . Afonso Alves

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no facebook, a 5 de Junho)

“Mais Alto e Mais Longe” (que durante uns tempos se chamou “Mais Alto e Mais Além”), foi a primeira obra de maior complexidade e carácter “sinfónico” de Afonso Alves com a qual contactei, tendo o privilégio de a ter tocado, diversas vezes, sob a direcção do próprio.
“Não foi uma boa inspiração, mas foi uma forte inspiração.”
«Inspirada no tsunami que varreu a costa asiática em 2003, foi composta a pedido da Cruz Vermelha para um concerto de angariação de fundos. No entanto, como coincidiu com o 95º aniversário do Orfeão do Porto, a obra acabou por contemplar os dois acontecimentos, retratando a criação desta instituição e tendo recebido o seu lema como título.
A estrutura desta obra é, na generalidade, contrastante nos vários temas por onde nos transporta. Exemplo disto é a última secção do Allegro. No Adágio, são retratados os momentos de dor e sofrimento após a catástrofe do tsunami. No final deste andamento, aumenta a complexidade do tema, caminhando para o Allegro que, com complexidade crescente e compassos irregulares, nos faz sentir o nervosismo da busca pelos entes queridos e a confusão quando as águas desceram.
Esta obra, sempre densa e muito complexa, leva-nos até ao andamento final solene, majestoso e cheio de esperança.»
“Mais Alto e Mais Longe” revela a versatilidade composicional de Afonso Alves e a sua capacidade de nos surpreender a cada novo trabalho. A sua assinatura está lá, nas linhas melódicas (principalmente na parte mais introspectiva), na interligação dos diversos planos sonoros, nos pormenores quase “barrocos” das madeiras agudas, na escrita cuidada para a percussão…
Interpretação da Banda dos Arcos de Valdevez, direção de Idílio Nunes.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.