António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Danza Sinfonica” – James Barnes

Junho 28th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

INTERMEZZO

– No próximo Domingo preciso de ti.

– Ok.

– Mas vou tocar uma peça chamada “Danza Sinfonica”, conheces?

– Não…

– Vou-te mandar a gravação e a partitura de tímpanos para estudares. Depois vemos no ensaio de sexta-feira.

Esta é daquelas obras de um patamar composicional distinto daquilo que é o reportório habitual de uma filarmónica, no entanto, resulta muito bem. É uma boa espanholada, ainda para mais vinda de um americano.

Uma boa solução para maestros que se querem desafiar e desafiar os seus músicos.

Tanto pode ser “aquela” obra “diferente” a apresentar num concerto, como a resposta a uma Lenda do Beijo, Freitas e similares, num despique.

A “Danza Sinfonica” foi uma encomenda da Banda Sinfónica da Universidade de Auburn, tendo sido estreada a 17 de Abril de 2004, em Auburn, Alabama, sob a direcção do Dr. Johnnie Vinson. Estilo rapsódico, variações sobre um tema ou música de dança, esta composição viaja por diferentes “classificações”, apresentando-nos um colorido retrato da vizinha Espanha, com um delicioso gosto de Flamenco.

E como os portugueses são muito bons a tocar música de e sobre Espanha, aqui na interpretação da Banda Sinfónica da GNR, sob a direcção do Tenente Coronel João Cerqueira.

 

“Miss Saigon” – Alain Boublil/Claude-Michel Schonberg/arr. Johan de Meij

Junho 27th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

INTERMEZZO

Estávamos em 1997, salvo o erro, e o meu primo António Mota diz-me: “tens que vir ver um concerto onde vou tocar, Orquestra de Sopros do Conservatório do Porto, dirigida pelo Maestro António Baptista!”

E lá fui até ao Fórum da Maia. Fui e acho que ainda lá estou.

Foi um dos concertos da minha vida. Uma orquestra de luxo, com alguns dos melhores músicos filarmónicos da época e da actualidade, alguns deles hoje professores e maestros, com um reportório inesquecível: The Typewritter, Les Papillons, o Coro dos Escravos de Nabucco, a Quarta Sinfonia de Alfred Reed, um Concerto para Trompa de Mozart, interpretado pelo nosso amigo Valdemar Sequeira e… Miss Saigon.

“O que é isto?”

Acho que cheguei a casa ainda de boca aberta, até porque voltamos a ouvir a obra no carro. Acho que terá sido com a Miss Saigon que percebi até onde uma orquestra de sopros, banda, o que seja, pode chegar.

Há quem diga que os arranjos de Johan de Meij são melhores que os originais.

Já tive a oportunidade de assistir ao vivo ao musical “Miss Saigon” e diria que o subtítulo do arranjo de de Meij está bem escolhido: a Symphonic Portrait.

Realmente, isto não é um simples medley. É uma reflexão do próprio de Meij sobre o arrepiante musical de Boublir e Schonberg, duo também responsável por “Os Miseráveis”.

Miss Saigon é a versão moderna de Madame Butterfly. O enredo conta a história sentimental de um soldado americano – Chris que se apaixona por uma linda nativa vietnamita – Kim – durante a Guerra do Vietname. A este propósito, convém dizer que, para meu espanto, o resumo do musical que a Molenaar tem no seu canal do Youtube está um bocado atrapalhado… a história não é bem assim, mas pronto.

Aqui fica na interpretação da Banda dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras:

“First Suite in E♭ for Military Band, Op. 28, No. 1” – Gustav Holst

Junho 26th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Segunda Temporada – Música para um novo século

 

E dei por mim sem mais reportório para a segunda temporada.

Ou melhor, tinha mais duas obras que gostaria de partilhar convosco, mas não encontrei nenhuma gravação “decente” das mesmas. Aliás, de uma delas, não encontrei qualquer registo. É pena. 

Portanto, para fechar a temporada “Música para um novo século”, acho que nada mais adequado de uma obra que “abriu” o século XX e que, em pleno século XXI, continua repleta de actualidade.

A “First Suite in E♭ for Military Band, Op. 28, No. 1” de Gustav Holst é considerada uma das principais obras-primas do repertório para bandas. Estreou oficialmente em 1920 na Royal Military School of Music, o manuscrito foi originalmente concluído em 1909. Junto com a subsequente Segunda Suíte em F para Banda Militar, escrita em 1911 e estreada em 1922, a Primeira Suíte convenceu muitos outros compositores proeminentes que música “séria” pode ser escrita especificamente para a banda. (in Wikipedia)

Esta obra está tão bem escrita que é quase “impossível” tocá-la mal e é uma pena que não se ouça mais por aí.

Aqui fica na interpretação da Banda Filarmónica Ovarense, dirigida por Ascendino Silva.

“Secrets of an Imperfect Silence” – Afonso Alves

Junho 25th, 2021
Acho que todos os compositores terão uma obra assim.
Nós ouvimos e pensamos “isto é dele? Não pode…”
No caso da obra de hoje, nós ouvimos e pensamos “isto é dele? Não pode… É dele, é.”
Obras disruptivas, mas com a assinatura do autor. Acontece da Música e na Arte em geral.
“É uma obra que me dá um enorme gozo ensaiar porque são os músicos a descobrir a obra, não eu.”
É assim que Afonso Alves se refere a “Secrets of an imperfect silence”, sinfonia N.º 2, em Sol menor, para orquestra de sopros.
“No último concerto que fiz, houve quem ainda descobrisse elementos novos na obra. Em termos de interpretação, claro.”
“Secrets of an imperfect silence” explora a textura e timbres numa orquestra de sopros.
Com uma estrutura de três andamentos, são abordadas formas de um silêncio imperfeito, como quando escutamos o silêncio da natureza, o silêncio da noite ou o silêncio do sono.
Quanto a mim, é mais uma obra destruidora de mitos e preconceitos.
Aqui fica em gravação realizada no concerto final com a banda do VIII Estágio técnico-artístico com Afonso Alves, organizado pela Sociedade Instrução e Recreio de Lares, Figueira da Foz, sob a batuta do próprio compositor.

“O Guicho” – Antero Ávila

Junho 25th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook a 24 de Junho de 2021)

Nem só de obras monumentais vive esta rúbrica.
As marchas fazem parte do ADN das bandas, de tal forma que há por esse país fora centenas de colectividades que fazem questão de o mencionar no seu próprio nome: “Banda Marcial de…”
Uma banda precisa marchar. Orgulhosamente.
E porque não ao som de “O Guicho”, marcha de homenagem a João Dias, da autoria de Antero Ávila e encomendada pela Banda Musical de Parafita – Montalegre. E nota-se bem que esta marcha foi composta entre Portugal e os E.U.A.
E não é à toa que a partilho hoje.
O meu grande amigo Antero Ávila faz anos e não há melhor forma de celebrar o seu aniversário que partilhar a sua música.
Portanto, formar a 4, alinhar pela direita e pela frente e a marcha é o “Guicho”.
Parabéns, Antero, pelo teu aniversário e por mais este pedacinho delicioso de música.

“Lusitanidades” – Carlos Marques

Junho 25th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook a 23 de Junho de 2021)

 

Costuma-se dizer que a primeira vez nunca se esquece. E não me esqueço da primeira vez que toquei “Lusitanidades”, dirigido pelo meu amigo Diamantino Monteiro, papel de tímpanos à primeira vista e cá vai disto.
“Lusitanidades” pegou em mim, atirou-me ao ar, fez-me rodopiar e a seguir estatelou-me no chão.
Tenho bonitas histórias com a “Lusitanidades”. Num concerto especial, deram-me o papel de lâminas e dizem assim “Isto é difícil, mas preciso que toque apenas nos ensaios, pois no concerto vem Fulano XPTO que toca isso na boa.”
E eu tudo bem.
Meia-hora antes do concerto: “Sr. Percussionista [nunca me tinham tratado assim], os papéis estão estudados? É que o Fulano XPTO afinal não vem.”
Correu bem? O importante é ter saúde.
Histórias à parte, gosto muito da obra. E é sem vergonha que digo que a secção da “Chuva” (solo de fliscorne”) faz-me sempre chorar… Obrigado, Carlos Marques.
“Encomendada pela Câmara Municipal de Espinho para ser interpretada no Dia do Munícipio, em 2011, Lusitanidades é uma selecção de música tradicional ou de cariz tradicional português, caracterizada por um ambiente alegre e informal.“
Para mim, é mais do que isso: é um lindo poema sinfónico sobre Portugal.
Aqui fica na interpretação da Banda Velha União Sanjoanense, dirigida por Arnaldo Costa, com gaitas de foles, bombos e cabeçudos e com uma excelente realização por parte da RTP. É difícil encontrar realizadores que respeitem a partitura nos planos que fazem.
Bom S. João a todos!

“Tétis” – Luís Cardoso

Junho 25th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 22 de Junho, de 2021)

 

Segunda Temporada – Música para um novo século
Era Domingo de manhã. Fui à Casa da Música ver a Banda Sinfónica Portuguesa, dirigida por um dos meus maestros favoritos: Pedro Neves.
Fui atraído pelo Maestro e pela curiosidade em ouvir a “Sagração da Primavera”, na versão para banda sinfónica.
Do programa constava também “Tétis” de Luís Cardoso e “Africa: Ceremony, song and Ritual” de Robert Smith.
Vamos parar ali em Águeda, terra de onde é natural, também, Pedro Neves.
Luis Cardoso presenteia-nos com uma obra grandiosa, avassaladora, tensa, que nos mantém sempre os sentidos despertos e uma permanente sensação de “o que é que vem a seguir?”
«Na mitologia grega, Tétis personifica a fecundidade da água, que alimenta os corpos e forma a seiva da vegetação. Luís Cardoso, procura [e consegue muito bem] conciliar um ambiente tempestuoso com a ideia poderosa da fecundidade.
Tétis é das minhas obras favoritas de Luis Cardoso e uma das suas mais geniais criações.
Não é para qualquer banda mas… porque não?
Banda Sinfónica da GNR, direcção Maestro João Cerqueira.

“Três Oceanos” – Antero Ávila

Junho 25th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 21 de Junho, de 2021)

É curioso… toquei isto dezenas de vezes, seguramente, mas nunca tinha “ouvido”. Ou seja, sentir a obra sem estar a olhar para a pauta ou a contar compassos.
É Holst? É Elgar? Não. É Antero Ávila.
Ao ouvir hoje os “Três Oceanos”, acho que finalmente percebi porque é que o Afonso Alves se emociona tanto a dirigir isto. Quem já tocou sob a sua batuta, sabe do que falo.
Desculpem, mas hoje não consigo desenvolver mais. A Música fala por si.
“Três Oceanos” (mas podia ser o Planeta inteiro), de Antero Ávila, na interpretação da Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, dirigida por Afonso Alves.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.