Aprendi a ler pautas musicais sozinho.
Fui lá pela lógica e com a ajuda dos livros “Órgão Mágico” e “Álbum Mágico”.
Quando ingressei na Escola de Música da Sociedade Filarmónica de Crestuma, com 13 anos, o solfejo (marcação de compasso, etc.) foi novidade, mas a leitura musical não. Por isso, logo na primeira aula galguei várias lições do 1º Livro de José Firmino e só parei, porque já me sentia embaraçado de ter toda a gente a olhar para mim.
Grande parte da minha formação musical foi assim, no meio das pautas, da teoria e dos cânones tradicionais, primeiro na banda, mais tarde no Conservatório.
Mas um belo dia…
“Ó António, vamos fazer um tributo ao Rui Veloso. Queres vir tocar piano e clarinete connosco?”
“Fogo… claro que quero! Eu adoro o Rui Veloso, pá!2
À época, já me safava muito bem a tocar piano por cifras, ou seja, sem pauta, apenas com a indicação da sucessão dos diversos acordes. Mas, o primeiro ensaio para esse concerto foi um choque. É que nem cifras havia.
“Vamos lá! Esta é em Fá sustenido! 1, 2, 3… vai!”
E o Pinheirinho a nadar.
Então… mas? Toda a gente a curtir e eu perdido com o teclado à frente, sem saber o que fazer.
“Então este gajo andou no Conservatório e o carago e não consegue tocar?”
Essa noite foi uma das mais importantes aulas de Música que tive na vida e o resto é história.
Como eu não podia forçar aquela gente a aprender solfejo, decidi eu aprender a tocar de ouvido.
O concerto seguinte era de tributo aos Beatles.
Levei uma estante e os papéis com as letras e pequenas indicações para saber em que nota começar determinada malha, ou solo.
Fizemos vários concertos com o projecto dos Beatles e nos últimos já não precisava de nada.
Continuo com muitas dificuldades em tocar de cor. Mas perdi o pedantismo de achar que sou melhor músico porque estudei. É melhor músico quem sente melhor.
Onde está a pauta?
Que se lixe!