E como me senti só
Cada gota de chuva
Era como uma faca
Que me rasgava a pele
E abria no chão
Poças de lama e sangue
Senti-me nu
Perdido
Gelado
Era o vazio
A escuridão
O silêncio apenas interrompido
Pela chuva que caía
Lentamente
Fui-te perdendo
Não mais te senti
Os meus lábios
Perderam os teus
A minha pele esqueceu a tua
Os teus seios tornaram-se uma miragem
O teu corpo uma ilusão
O teu perfume perdeu-se na treva
E as tuas palavras foram surdina
Os teus olhos apagaram-se
E o teu cabelo voou com o vento
E a vida
Deixou de fazer sentido
Nem os poemas
Nem a música
Nada vale nada
Sem a tua presença
Sem aquele brilho
Que só tu sabes dar à minha vida
Volta
Preciso daquela música
Que compões num piano de estrelas
Preciso dos poemas que nascem no teu corpo
Preciso que me beijes com o teu olhar
Preciso de nadar na tua pele
Mergulhar em beijos sem fim
Sentir as tuas unhas cravadas no meu coração
Agarra-me
Prende-me
Possui-me e não me libertes
Não mais te deixes perder na noite
Não mais permitas que a tempestade nos afaste
Não mais adormeças sem mim
Não mais me deixes adormecer sem ti
Porque somos um só
Somos a escultura do amor
Que na luz de uma noite se tornou maior
Agora eu tenho o teu nome
E tu tens o meu
É o meu sangue que corre em ti
É o teu ar que respiro
São os teus cabelos que penteio
É a minha barba que aparas
Já não existimos
Somos uma constelação que brilha no céu
Somos o Amor