“Ó menino, anda tomar o leite e depois voltas p’rá cama…”.
Era assim que começavam as minhas férias de Natal. A voz doce da minha mãe vinha acordar-me, como fazia todos os dias, mas com a diferença de que, após tomar o pequeno-almoço, poderia voltar a dormir.
Regressado à cama, ligava o rádio e adormecia embalado pelo ambiente natalício emanado pelas ondas hertzianas.
Quando ainda criança, a primeira coisa que fazia quando, definitivamente, me levantava era ir a correr para o Presépio e ficar ali uns instantes a admirá-lo, imaginando que aquelas humildes figuras de barro ganhavam vida. Imaginava sons, diálogos, pensamentos…
Depois era agarrado pela televisão, onde abundavam os desenhos animados, mini-séries, filmes e especiais de Natal. Algumas vezes, a minha existência solitária de filho único era alegrada pela visita do Carlos.
Mais tarde, mais crescido, os dias de férias eram preenchidos na companhia do Paulo. Entre longas partidas de ténis de mesa, ou na mítica consola Atlantis, íamos matando o tempo, contando os dias até ao Natal…
Eram tempos em que o Natal era vivido segundo a segundo, com uma intensidade que só a ingenuidade pueril permite. Ando à procura dessa ingenuidade, ando à procura de um Natal em câmara lenta…