Impedido de participar na Maratona do Porto 2016, procurei rapidamente uma solução no estrangeiro para poder fazer a mítica distância.
Sevilha surgiu como opção quase natural: fica aqui ao lado e de lá sempre recebi relatos muito positivos sobre a prova.
E lá parti eu para Espanha com o objectivo único de chegar ao fim, porque isto de apontar a tempos tem-se revelado problemático nas últimas corridas. Por isso, há que desfrutar da prova, da cidade e do prazer único de cruzar a meta.
O slogan impresso nos cartazes espalhados por toda a cidade dizia: “Voa na maratona mais plana do Mundo!”. Não sei se é “a mais plana”, mas é muito plana. Tão plana que me fez correr abaixo do que eu tinha planeado. Comecei a acompanhar o balão das 4h15m (tolo!) e, quando o perdi de vista pensei “daqui a pouco passa-te o balão das 4h30”. Esse “daqui a pouco” foi só aos 38km, o que me fez falar e rir sozinho no centro histórico de Sevilha, apinhado de gente. Gente a correr e que assistia. Muita gente que assistia.
Se o percurso de Sevilha pouco tem de entusiasmante, exceptuando a última meia-dúzia de quilómetros que atravessa a zona histórica, guiando-nos ao Estádio Olímpico (e quando temos o Porto como referência, numa linha contínua de rio e mar, é difícil encontrar algo mais entusiasmante), o mesmo não se pode dizer das milhares de pessoas que, do primeiro ao último quilómetro, do primeiro ao último atleta, incentivam os corredores de forma permanente.
E, para mim, foi essa a grande surpresa da Maratona de Sevilha: o público! “Vamos! Vamos! Vamos! Animo! Animo! Animo! Soys uns campeones! Ya no queda nada!” São incentivos que ouvimos ao longo de todo, mas mesmo todo, o trajecto. Não há quilómetros mortos ou desertos. Há sempre alguém que te olha nos olhos, sorri para ti e te incentiva a dar mais um passo. E, para quem corre, isso é fantástico!
E este é um ambiente vivido também nas zonas de abastecimento. Os voluntários não se limitam a segurar os copos de água e isotónico com cara de frete. Sorriem, incentivam, apoiam e estão cheios de bom-humor: “Este Aquarius sabe a cerveja! Mojitos! Mojitos fresquinhos! Tirem-mo da mão, senhores! Tirem-mo da mão! Aquarius fresquito! Tirem-me da mão!”
Com um ambiente destes, o que pode correr mal?
Em 42km195m, há muita coisa que pode correr mal. Desta vez, a mim tudo correu bem.
Ao ver os cartazes “Força Papá!” pensei sempre nos meus filhos; a cada bandeira portuguesa que encontrei pelo caminho (e foram muitas!), gritei sempre “Portugal!”; ao ver a Teresa à entrada do Estádio fui a correr em direcção a ela e parei 2 segundos para um beijo tão especial que me faria correr mais 42km; fiquei triste por ver o Echtelion da Fonte em sofrimento aos 20 e poucos quilómetros, mas, como ele é um fixe, esqueceu a sua dor naquele momento e mandou-me para a frente “Vai que tu estás bem! Há cerveja no fim!”
Somos uns doidos, ao fazer tantos quilómetros, longe de casa, “só” por estes “pequenos” prazeres da vida: um sorriso, um beijo, uma cerveja…