(texto inicialmente publicado no facebook, a 5 de Junho)
“Mais Alto e Mais Longe” (que durante uns tempos se chamou “Mais Alto e Mais Além”), foi a primeira obra de maior complexidade e carácter “sinfónico” de Afonso Alves com a qual contactei, tendo o privilégio de a ter tocado, diversas vezes, sob a direcção do próprio.
“Não foi uma boa inspiração, mas foi uma forte inspiração.”
«Inspirada no tsunami que varreu a costa asiática em 2003, foi composta a pedido da Cruz Vermelha para um concerto de angariação de fundos. No entanto, como coincidiu com o 95º aniversário do Orfeão do Porto, a obra acabou por contemplar os dois acontecimentos, retratando a criação desta instituição e tendo recebido o seu lema como título.
A estrutura desta obra é, na generalidade, contrastante nos vários temas por onde nos transporta. Exemplo disto é a última secção do Allegro. No Adágio, são retratados os momentos de dor e sofrimento após a catástrofe do tsunami. No final deste andamento, aumenta a complexidade do tema, caminhando para o Allegro que, com complexidade crescente e compassos irregulares, nos faz sentir o nervosismo da busca pelos entes queridos e a confusão quando as águas desceram.
Esta obra, sempre densa e muito complexa, leva-nos até ao andamento final solene, majestoso e cheio de esperança.»
“Mais Alto e Mais Longe” revela a versatilidade composicional de Afonso Alves e a sua capacidade de nos surpreender a cada novo trabalho. A sua assinatura está lá, nas linhas melódicas (principalmente na parte mais introspectiva), na interligação dos diversos planos sonoros, nos pormenores quase “barrocos” das madeiras agudas, na escrita cuidada para a percussão…
Interpretação da Banda dos Arcos de Valdevez, direção de Idílio Nunes.