António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Jogos Olímpicos: o que Portugal precisa de aprender sobre Desporto

Agosto 21st, 2016

1988.

Pela primeira vez na minha curta vida (tinha 8 anos) assistia a uns Jogos Olímpicos.

Assistia religiosamente. Todas as manhãs, em frente à TV (ainda a preto e branco) esperava que aparecesse uma bandeira portuguesa. Não, não estou a falar nas cerimónias de entrega de medalhas. Para mim, seria mais que suficiente ver portugueses competir… competir! Eu queria lá saber se ganhavam ou não… Queria era ver Portugal no meio de tantos países. Mas nada..

Para quem não se lembra, naquela altura, íamos aos JO com “meia-dúzia” de atletas. Em 1988 tivemos apenas o José Garcia na canoagem. Tínhamos o Alexandre Yokochi na natação e alguns corredores de fundo e meio-fundo no atletismo, dos quais se destacou a Rosa Mota ao ganhar a medalha de ouro na Maratona (numa altura em que os países africanos, nomeadamente o Quénia, ainda não tinham “aprendido” a correr).

Lembro-me de termos ficado tristes pelos gémeos Castro e pelo José Regalo terem falhado as medalhas por um “bocadinho assim”. O mesmo “bocadinho assim” que, em 2016, travou a canoa do Fernando Pimenta, ou representou os 10 segundos entre os nossos atletas de triatlo e o pódio.

E milésimos. Milésimos de segundo que ficaram entre o K2 português e a medalha de bronze.

Mas voltemos a 1988. Horas e horas em frente à TV e a bandeirinha portuguesa teimava a não aparecer nas starting lists.

1992.

Barcelona aqui ao lado. Desta vez, a comitiva pareceu maior (também eu já era mais crescido). Mas medalhas: zero! Zero!

E agora?

2016.

Finalmente a bandeirinha portuguesa estava por todo o lado, em modalidades que em Portugal ainda são “amadoras”. De tal forma que a bandeirinha chegou a várias finais e a milésimos dos pódios. A bandeirinha portuguesa foi a melhor da Europa em disciplinas técnicas do atletismo, algo impensável nos anos 90, ou nos anos 80 que tantos saudosistas gostam de recordar.

A bandeirinha andou por lá, no ténis de mesa, na vela e até no hipismo! Na canoagem de slalom a disputar a final! Carago, isto não vos enche as medidas? Pela primeira vez tivemos um atleta nesta modalidade (tão difícil de treinar em Portugal) e ele apura-se logo para a final!

Estamos todos loucos com a conquista do Europeu pelo Futebol. Uau… sabem quantos títulos europeus já nos deram o atletismo, a canoagem, o judo e até o Ténis de Mesa?

E agora pensem: quantos anos foi preciso para, finalmente, termos um título europeu no futebol?

Sabem quantas medalhas internacionais tem o tão criticado Fernando Pimenta? 67. 67!

Aos críticos dos atletas olímpicos portugueses deixo uma pergunta:

  • Vocês são um dos 3 melhores do mundo na vossa profissão?

Não? Então, pelo vosso próprio critério aplicado aos desportistas, tenho uma coisa a dizer: vocês são uma vergonha e uma desilusão. Andam apenas a passear nos vossos empregos.

Durante 4 anos, ninguém quer saber dos atletas olímpicos. Mas, de 4 em 4 anos, estão todos de dedo em riste a criticar.

Em Portugal, não gostamos de Desporto. Gostamos de Futebol.

Quando somos crianças, ensinam-nos que “perder ou ganhar” é Desporto. Pois… mas quando perdemos: “vergonha”, “fiasco”, “desilusão…”

Pela lógica de muitos comentadores e comentaristas, em cada modalidade olímpica só deveriam concorrer 3 países, um para cada medalha, porque não faz sentido ficar em 4º, em 5º, ou em 100º. “Se não for para ganhar, fiquem em casa.”, li eu, hoje, algures no Facebook.

Em 2020, estarei novamente à procura da bandeirinha portuguesa.

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.