Após a espetacular e pertinente instalação de Bordalo II no palco das JMJ, muita gente tentou desancar o artista com argumentos que, a mim, parecem pouco válidos e facilmente desmontáveis.
A vida e obra de Bordalo II falam por si e, certamente, não precisa que o defendam, mas custa-me ficar quieto perante aquilo que vou lendo por aí.
1 – “Ah… eu nunca tinha ouvido falar dele…”
Bem, isso diz mais sobre ti, do que sobre ele. Bordalo II é, provavelmente o maior e mais influente artista de arte urbana e ecológica em Portugal e uma referência a nível internacional. Há obras suas espalhadas por todo o país e um pouco por todo o Mundo. Algumas, já as deves ter visto e até gostaste.
2 – “Ah… ele recebeu muito dinheiro do Estado…”
E ainda bem! É uma das funções do Estado apoiar a Arte. Mais a mais, caso não saibas, um artista não tem salário e precisa de dinheiro para produzir as suas obras. Além disso, o Bordalo II tem uma equipa que o ajuda na construção das suas obras e, claro, tem que lhes pagar. Numa altura em que a Arte, a Cultura e todas as pessoas que desenvolvem as suas profissões neste meio sofrem tanto com cortes e mais cortes, é de louvar que um artista veja o seu trabalho reconhecido e apoiado pelo Estado.
3 – “Ah… mas porque é que ele não critica outra coisas?”
Critica, sim. Mais uma vez, esse argumento só demonstra a tua ignorância. Por outro lado, desconheces o conceito de “liberdade criativa”. Um artista, seja ele qual for, pintor, músico, compositor, escritor, é livre de falar sobre o que bem lhe apetece. Alguma vez questionaram Wagner o porquê das suas óperas serem maioritariamente sobre mitologia? Porque é que o Nicholas Sparks só escreve romances de “lágrima no olho”?
Uma produção artística sai da Alma de quem a cria. Na Teoria Musical de Artur Fão está escrito que “a Música é a Arte de expressar sentimentos ou impressões através de sons”, mas não tem uma lista de sentimentos, ou impressões, que possam, ou devam ser expressos. O mesmo se aplica a outras formas de Arte.
Era o que faltava um artista ter que pedir licença para se expressar sobre este ou aquele tema.
4 – Por fim…
A Arte não é só Estética. A Arte não é só uma bela sinfonia de Beethoven (alguém também muito interventivo!) ou um quadro de Da Vinci para ficar numa parede, ou num museu. A Arte é questionar, intervir, incomodar, fazer as pessoas pensarem. Quem viu as notas de 500€ do Bordalo II, mesmo que não concorde, pelo menos durante 10 segundos pensou sobre aquilo e a função da obra está cumprida. Quem vê os filmes de Lars von Trier, sente inquietação, pensa até em sair da sala.
E muitos outros exemplos, de artistas que, de certa forma chocaram poderiam ser citados.
Quem ouve o “Talvez F” do Pedro Abrunhosa fica desconfortável, chocado, ou curte este groove: