(texto inicialmente publicado no Facebook, a 17 de Abril de 2021)
TRRAU TAU TAU TAU
TRRAU TAU TAU TAU
TRRAU…
– O meu boné? Onde está o meu boné?
– O Maestro está a chamar! Vamos!
– Não sei da minha caderneta!
– Toca de cor!
– Qual é que vai?
– Invocação…
A hora da procissão é sempre aquele caos, entre acabar de comer a bifana à pressa, deitar fora a ponta do cigarro, furar aos empurrões por entre o povo que se amontoa para ver os andores, formar 60 músicos num espaço exíguo atrás da capela…
Eu sei que, hoje em dia, o “cool filarmónico” é tocar aquelas marchas espanholas muito elaboradas (algumas delas, lindas, diga-se com justiça) mas as marchas de procissão portuguesas são as que melhor condizem com as nossas romarias.
A “Invocação a Deus” tem algo… (aliás, todas as marchas de Fernando Costa têm algo).
Começa por um original contraponto nas madeiras agudas logo ao início, algo não muito frequente. E depois aquela melodia final… arrepia.
É curioso que, quando comecei a tocar, todas as bandas que tocavam “contra” a minha tinham a Invocação… mas nós não. Não imaginam, a emoção que foi, quando pude tocar a Invocação pela primeira vez. Mais tarde, quando passei pela Banda de Souto, era sempre essa primeira marcha da procissão.
Alguém ontem dizia que a “Invocação” é a “marcha das marchas”.
É mesmo. Há marchas mais bonitas? Certamente. Há marchas mais imponentes? Sem dúvida.
Mas esta resume não só o espírito filarmónico, como o espírito das romarias e festas por esse Portugal fora.