António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Glossário Filarmónico – Capítulo II

Junho 12th, 2021

 

Autocarro

Meio de transporte;

Vestiário;

Sala de afinação;

Salão de jogos;

Ninho de amor.

 

Boleia

Aquela viagem com estranhos no carro, para um local que não sabes onde fica.

 

Chica

Banda com alguns problemas tímbricos, de afinação, rítmicos e técnicos. Fora isso… toca muito bem.

 

Dinâmica

Diferença obtida entre o Forte (f) e o Aço (fff).

Ver também “Intensidade”.

 

Estante

Objecto aparentemente inanimado, mas decididamente com vida própria. Nunca há em quantidade suficiente, o que leva a crer que há estantes que se baldam aos serviços. 

As que aparecem, muitas vezes, recusam-se a subir, ou a descer e armam-se em esquisitas na hora de montar e desmontar.

 

Foeirada ou foirada

O mesmo que “Gaitada” (ver Capítulo I) mas em excesso de força e de forma intencional.

Ao contrário da “Gaitada”, também se aplica à percussão. 

Técnica para a execução do papel de bombo do 1812, erradamente adoptada noutras obras.

 

Ganso

Quando vais a uma banda que não é a tua, ganhar o dobro e tocar metade.

Passar um dia inteiro com uma farda grande de mais, ou justa de mais.

 

Hoje há ensaio?

Há os distraídos e há sempre quem prefira ir ver a bola.

 

Intensidade

Força aplicada para obtenção da “foeirada”, “foirada” ou Gaitada (ver capítulo I).

As intensidades são 3, a saber: forte (f), fortíssimo (ff) e aço (fff).

 

Junta de Freguesia

Entidade especialista em sacar actuações de borla. “É para a terra, não vão levar dinheiro, pois não?”

 

Lairona

Peça de carácter ligeiro-popular-pimba que se tornou hábito tocar no final da despedida. Momento para a banda descomprimir o povo e o povo comprimir a banda. 

 

Marchar

Acto de tocar em movimento, por papéis ilegíveis, a olhar para o chão, a evitar tropeçar nas escadarias, a fugir de buracos e tampas de saneamento. Tudo isto com o passo certo e alinhado pela frente e pela direita.

Daí não ser de estranhar que poucos o consigam fazer bem. Uma elite de privilegiados. 

 

Noitada

Também conhecida como “festa com fogo”.

O cachet é maior, assim como as possibilidades de o gastar mal gasto.

No fim, uns dormem até casa. Os mais sortudos têm companhia no autocarro para continuar a fazer embocadura.

Quem leva o carro, está lixado, porque nem uma coisa nem outra.

 

O que tem a sair rápido?

Pergunta no restaurante quando tens pouco tempo para almoçar/jantar. 

 

Papéis 

Falta sempre, pelo menos, um. 

  • “Mas ainda na sexta-feira ensaiamos isto!
  • Então ficou lá na banda…”

 

Qual é agora?

Frase muito ouvida nas procissões. Não impeditiva de alguém começar a tocar a marcha errada.

 

Ritmo

O maestro tem um, os percussionistas têm outro.

 

Solo

Tocar sozinho (não, não é isso que estás a pensar)..

Se corre bem é porque és o maior. Se corre mal a culpa é da palheta, do bocal, dos carrinhos de choque, da camada do ozono, do Trump, mas nunca da falta de estudo. Isso não…

 

Tá bom

Forma abreviada de “continua mal, mas temos outras coisas para ensaiar”.

 

Vira rápido 

No tempo em que os papéis eram passados à mão, não havia cá essas mariquices de as viragens de página caírem em compassos de espera ou suspensões. Um gajo virava a página com uma mão e continuava a tocar com a outra. “Mai nada”;

Dança minhota. 

 

Xiu!

O que ouves imediatamente quando te enganas a contar os compassos de espera. A correr bem, o teu colega de estante também se enganou e entram mal os dois. Se fores bom, arrastas o naipe todo contigo. Melhor ainda, é conseguir deitar a banda abaixo.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.