“Nem sempre se compreende porque que é que alguém decide partilhar parte da sua vida com um público vasto e anónimo que jamais virá a conhecer.”
Foi com esta frase que a minha amiga, Renata Oliveira, iniciou o prefácio que gentilmente escreveu para o meu livro.
Dois dias depois de “Uma comédia pouco divina” ter sido lançado na Internet, a mesma pessoa disse-me: “faças o que fizeres, serás sempre reprovado”.
De facto, ao lançar este livro, tenho a plena consciência de que, no curto prazo estarei sujeito aos comentários menos abonatórios sobre o mesmo e, eventualmente, sobre a minha pessoa.
Contudo, “Uma comédia pouco divina” surgiu de uma vontade acima da minha própria vontade.
Quando criei estes textos, que fui publicando na Internet, ao longo dos últimos três anos, a última coisa que me passou pela cabeça foi lança-los em livro.
No entanto, à medida que cada um desses textos ia sendo divulgado, eu fui sendo incentivado, por vários dos meus amigos e conhecidos que acompanhavam o blog, a continuar a escrever, materializando-se a ideia de que seria viável a sua publicação impressa.
Apesar de me agradar a lisonja e o reconhecimento pelo fruto do meu trabalho, nunca dei muita relevância a essa ideia, dado que o meu principal objectivo era atingido na Internet: partilhar com o Mundo histórias, sentimentos, memórias, experiências…
Apenas em meados deste ano, quando uma janela de oportunidade se abriu, é que me dei conta do considerável volume de material que tinha disponível para publicação.
Tomada a decisão de lançar a “Comédia Pouco Divina”, deparei-me com duas dificuldades:
– A necessidade de seleccionar os textos, devido à abundância de material
– A necessidade de encontrar um fio condutor para os mesmos, dado que cada um dos textos que compõem o livro foi escrito e publicado, na Internet, de forma isolada, não havendo, à partida, uma ligação entre eles.
Vencer a primeira dificuldade foi relativamente fácil. Seleccionei os textos cronologicamente, estabelecendo como limite pessoal as cem páginas.
Muito material ficou de fora, à espera de uma próxima oportunidade.
Contudo, vencer a segunda dificuldade, ou seja, agrupar os textos por temas e dar-lhes uma sequência lógica, foi o principal trabalho que tive com o livro.
À medida que ia relendo palavras que tinha escrito já há algum tempo (algumas há mais de dois anos), fui identificando pontos comuns entre elas, gerando assim os quatro temas em que o livro se divide: Algodão, Lâminas, Incêndio e Ego.
Em qualquer um destes temas os leitores encontrarão:
– Histórias, reais e imaginárias
– Sentimentos: amor, ódio, paixão, ternura, carinho, raiva, ira…
– Memórias: umas mais longínquas, outras mais recentes, outras de tempos que ainda não aconteceram
– Experiências: pessoais e daqueles que me rodeiam
No primeiro tema, Algodão, inclui textos relacionados com a descoberta do amor. Textos que relatam as emoções do ser humano quando descobre que sente algo mais forte por outro ser humano. São textos adornados com alguma inocência e ingenuidade, de onde transparece a ternura e a entrega do nosso coração ao ser que amamos.
No segundo tema, Lâminas, reflicto sobre as dores e o sofrimento que o Amor acarreta. Neste capítulo encontrarão referências à Saudade, à ausência, ao amor não correspondido, ao ciúme, aos amores impossíveis, aos amores proibidos. São textos, no fundo, sofridos e dolorosos.
No terceiro tema, Incêndio, surgem textos que falam sobre a Paixão, o Amor Carnal, o Erotismo. No fundo, a entrega total entre os dois amantes que, anteriormente se descobriram, sofreram um pelo outro e agora unem-se num só.
Por fim, o quarto tema do livro, Ego, como o próprio título sugere, é aquele mais egocêntrico, mais fechado em torno da minha pessoa. São reflexões sobre o Mundo, sobre as nossas lutas interiores, sobre os nossos objectivos de vida, sobre tudo aquilo que nos põe a pensar, sempre contado na primeira pessoa. Na verdade, é nesta parte da Comédia Pouco Divina em que mais me exponho.
Assim sendo, penso ter ficado claro a todos vós que o título “Uma comédia pouco divina” está pouco, ou até mesmo nada, relacionado com humor. Trata-se de comédia no sentido de farsa, de máscara, deixando ao critério de cada leitor a percepção se aquilo que está ler é real ou ficção.
A “Comédia pouco divina”, será tão mais vivida, quanto mais o leitor procurar identificar-se com os textos ou, dito de outra forma, quanto mais o leitor se deixar envolver pelos textos.
Na verdade, o comentário mais frequente aos textos deste livro é: “O que tu escreves tem tanto a ver comigo”.
E é essa a maior recompensa para quem escreve: chegar à vida das pessoas.
Neste sentido, a sugestão que dou é que, quando estiverem a ler “A Comédia pouco divina”, procurem as semelhanças entre o que está escrito e as vossas vidas pois, neste caso, as semelhanças entre a ficção e a realidade não serão pura coincidência.