António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Dias do Fim – parte 2

Maio 17th, 2020

Imbecil.

Desculpem, em primeiro lugar, bom dia!

Imbecil.

Foi a palavra com que adormeci ontem.

Uma escriba das redes sociais, alguém de quem já não me recordo o nome (nem quero!), lavrou uma extensa prosa sobre os directos do Bruno Nogueira e, a dada altura, define como imbecil quem não viu nada de interessante, ou relevante, nessa “cena”.

(desculpem usar a expressão “cena”, mas não sei como definir essa… “cena”)

Aliás, o dia de ontem foi todo ele repleto de extensas prosas sobre os directos do Bruninho…

Voltanto à imbecilidade… Ora, como eu não vi, nem um segundo, desses famosos lives, arrisco-me a cair nesse grupo de imbecis.

«eh pá! não viste? como é possível? aquilo foi a melhor “cena” desdes últimos meses!»

Malta… calma… acredito que sim.

Reparem… este imbecil aqui, há muitos anos que é admirador confesso e incondicional do Bruno Nogueira. Sabe muito bem do que ele é capaz. Gosta tanto dele, que até gosta das cenas que não têm piada nenhuma!

Mas, desta vez, simplesmente, não tive interesse e/ou tinha outras coisas para fazer.

(a propósito de outras coisas para fazer, se gostam de ler, sigam a saga “Força Sigma” de James Rollins… mas só se quiserem, não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…)

A verdade é que este tipo de apedrajamento é frequente e já levei com umas boas bojardas por nunca ter visto o Game of Thrones, a Casa de Papel e outras “cenas”.

Então com músicas é que é. Como não ouço as rádios mainstream, há muita coisa que (felizmente!) me passa ao lado. “Não conheces, António??? Mas isso passa em todo lado!!!” Não nos lados por onde eu ando, graças a Deus…

Mas não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…

Há tempos pediram-me para tocar uma coisa chamada “You raise me up” num casamento e, quando disse que não conhecia, ia sendo fuzilado. Depois de ouvir, percebi porque não conhecia. Toquei e voltarei a tocar quando me encomendarem… tenho que ser profissional. Mas não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…

Voltando ao Bruno Nogueira, vendo de fora, constato que ele se tornou, consciente ou inconscientemente, numa caricatura dele próprio.

Todo este hype à volta dos directos dele, fez-me lembrar um “Tubo de Ensaio” que fez com o João Quadros sobre o “Fora da Caixa” (procurem no site da TSF que deve andar por lá). De repente, o Bruno Nogueira que quebrava as convenções, chocava, surpreendia, torna-se tudo o que uma celebridade da Internet pode querer: mainstream, influenciador, ao mesmo tempo culto e intelectual e, acima de tudo, trendy. Tão trendy que, quem não foi arrastado pela trend, acaba por ser imbecil.

Presumo que na reabertura das esplanadas, muita gente estará de copo de gin, ou vinho branco na mão (a segurar pelo pé, como é óbvio), óculos de sol, cigarrilha, dissertando sobre esta “cena” tão cool do Bruno. Até ao dia em que ele volte a escrever um daqueles textos que vos fazem espumar de raiva e coloque as vossas elevadas almas a chamá-lo de imbecil…

Estou a caminho dos 41 anos e já fui imbecil, muitas vezes, nesta vida. Continuo a ser. Faz parte. Qualquer um de nós pode tropeçar na imbecilidade, incluindo quando chamamos imbecil a quem não curte as mesmas “cenas” que nós…

Há tempos, em minha própria casa, um convidado dizia que detestava Star Wars. Vivendo eu num verdadeiro Templo Jedi, era, ou não era, suficiente para mandar o gajo pela varanda fora, ou, quando muito, chamar-lhe imbecil?

Claro que não… Podem não gostar do Star Wars, mas não vou chamar nomes a ninguém por causa disso…

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.