Há aquelas provas que, antes de as fazermos, achamos que não vão ter grande história. 21km é um treino normal de fim-de-semana, inscrevemo-nos naquela de treinar, porque se não houver nada que nos obrigue a sair da cama, por lá ficamos, tal é o cansaço e o desgaste da vida profissional e familiar.
Portanto, manhã de Abril, ‘bora lá fazer meia-maratona para esticar as pernas, ali em Matosinhos, entre a Ponte Móvel e o Cabo do Mundo. Para trás e para a frente.
O percurso convidava a ritmos elevados: à beira-mar, plano, maioritariamente em alcatrão… Mas, há sempre um “mas”… Retornos e mais retornos e retorninhos. Para trás e para a frente.
“Ó Pinheiro, mas tu até fazes provas em circuito!”. Pois… circuito é uma coisa, é andar às voltas. Na “meia” de Matosinhos a sensação é de não sair do sítio. Parece a mesma coisa, mas não é.
De qualquer modo, na minha arrogância, decidi arriscar o PB nesta prova. “Fogo… é sempre a direito…”, pensei.
E foi até aos 7km, onde começo a sentir o peso do calor e da falta de treino. Sim, o calor pesa e eu, que nem sou de exibir o cabedal, dei por mim a tirar a t-shirt e a correr em tronco nu. Ao calor juntaram-se cólicas e um mal estar generalizado. O corpo parou e a cabeça deixou de funcionar. Comecei a ser ultrapassado em barda. Iniciavam-se 3 penosos kilómetros. “Ok… hoje não é o meu dia, vou desistir…”
Ia eu perdido nestes nefastos pensamentos quando ouço “Ó António! Deixa-te de m*rd*as e corre!” Era o Ecthelion Da Fonte (alcunha facebookiana do Pedro) que vinha atrás de mim, segundo o próprio “prestes a falecer”. “Anda lá!” E eu lá fui.
Depois do abastecimento dos 10km e da Ponte Móvel, o meu corpo deu sinais de vida. Mas a cabeça perdia-se: “olha ali a meta… afinal não, tenho que ir mais à frente…” E, depois do Cabo do Mundo, quando eu achava que era sempre a direito, surge um dos retornos mais ridículos que já vi. Mas pronto… tem que ser, tem que ser.
O calor parecia ser cada vez mais insuportável e a meta cada vez mais longe. “Olha que lindo peitoral vem ali!”, ouvi umas senhoras gritarem à minha passagem. Afinal, o meu “cabedal” ainda fez algum sucesso. Na recta da meta, desfraldei a minha camisola e erguia-a bem alto. Afinal, “os símbolos que trazes no peito são mais importantes que o nome que trazes no dorsal…”
Por fim, nem uma foto de jeito. Um gajo já nem se pode gabar aos amigos.
E 2h11 para fazer uma meia-maratona… correu mesmo mal, António!
Siga para a próxima!