Regressaram ao salão. Todos ocuparam novamente os seus lugares, incluindo Ester e a chorosa Míriam. “Mais valia que me tivesse matado.”
“Se vocês estavam, novamente, no Palácio da Convénio, o que foi que nós destruímos?”
“O Palácio da Convénio. O edifício é um ser vivo. Respira. Move-se, transforma-se, aparece, desaparece e auto-regenera-se. É verdade que nós na altura não sabíamos disso.
Fomos lá ter desesperados, em fuga, pela única saída que encontramos. Aquela era a Sala de Comando. Com as tais duas paredes de vidro por onde podíamos ver o Salão Principal do Palácio e outras quatro paredes, cada uma com uma mesa encostada, cada mesa com uma cadeira de executivo e um terminal de computador. Ficamos ali um pouco meio perdidos, sem saber, ao certo, onde estávamos e o que fazer. Até que as quatro paredes desmaterializaram-se numa espécie de ecrã, ou tela, como num cinema e lá no meio apareceu uma personagem conhecida.”
“Quem?”
“O Saúl.”
David fez uma pausa para um gole na sua bebida e reacender o cachimbo.
“O Saúl que tinha morrido no ataque…”, atirou Pôncio em jeito de pergunta.
“Ainda hoje não sei se esse gajo é morto, ou vivo. Estive com ele há algumas horas, antes de ter vindo para aqui.”
“Antes de te termos capturado.”, corrigiu Pôncio.
“Antes de eu me ter deixado capturar.”
“Seja. E a partir daí?”
“Saúl apresentou-se como a Memória da Convénio. Explicou-nos que éramos os únicos sobreviventes do ataque e que deveríamos dar início à Nova Convénio.”
“Mas como? Quatro recrutas inexperientes?”
David interrompeu bruscamente:
“Que te foderam a vida durante anos e um deles ainda aqui está, à tua frente, rodeado de gente que está com medo do que possa acontecer se eu estalar os dedos!”
Foi a vez de David perder a postura. Começava a ficar cansado. O dia ia longo e precisava urgentemente de umas horas sozinho para se recompor e recuperar o controlo da situação. Ansiava, agora, que o mandassem de volta à cela.
“Devo admitir que tens razão.”
Os oponentes tratavam-se agora por tu. Eram, de facto, velhos conhecidos e não havia mais razões para cerimónias.
“Voltando à Sala de Comando… O Saúl lá nos explicou que devíamos continuar o trabalho da Convénio, recrutar novos soldados no ano seguinte, ensinar o que sabíamos, etc. É claro que estávamos confusos, fizemos muitas perguntas, estivemos ali horas, até percebermos qual o próximo passo.”
“E qual foi esse passo?”
“Regressar a casa, às nossas vidas, às nossas famílias e aguardar pela primeira missão.”
“E foi isso que fizeram?”
“Eu, não.”