(texto inicialmente publicado no Facebook, a 11 de Maio de 2021)
Aqui há anos, num daqueles concursos televisivos de “chefs”, um mundialmente conhecido crítico gastronómico dizia que “sabemos que um frango no churrasco é bom, quando chupamos os dedos depois de o comer.” A receita não interessa. O que interessa é o sabor.
Na Música, sabemos que uma obra é boa quando nos deixa sem palavras, quando nos emociona de todas as vezes que a tocamos, quando sonhamos com ela, quando nos faz viajar pela imaginação, quando nos deixa em lágrimas e com as pernas a tremer.
Não sei se os “Contos da Lua Nova” são já um “clássico”, mas é das obras que mais me emociona sempre que a toco. E já a toquei muitas vezes…
Não sei se é propositado ou, simplesmente, inspiração mas as melhores obras de Afonso Alves são feitas de momentos. Ou seja, estamos a ouvir e, de repente, acontece algo que mexe connosco. Um acorde, uma frase, um apontamento de um determinado instrumento, que fazem tudo o resto ganhar sentido.
Figura incontornável da nossa Filarmonia, como Músico, Maestro, Compositor e Pedagogo, o Afonso tem o mérito de procurar estar um passo à frente, fugir ao convencional e tem um grande sentido cénico e de espectáculo (algo que falta a muitos de nós: noções de cenografia). Com ele aprendi que não basta sentar os músicos no palco. Tudo deve ser pensado para quem Ouve e para quem Vê.
No dia em que o conheci, a propósito da interpretação das “Mornas e Coladeras” disse ao naipe de Percussão: “A linha entre o ridículo e o genial é muito fina.” E, a partir daí, com ele aprendi que a melhor zona para se estar é mesmo em cima dessa linha.
É verdade que não podemos andar com um coro atrás de nós nas romarias, mas a obra também resulta bem na sua versão instrumental. Agora, se tiverem oportunidade de lhe meter o coro… façam-no, porque as palavras dão outra força à Música.
Aqui fica a arrepiante interpretação da Banda Alvarense com o Orfeão do Porto, Orfeão de Valadares, Orfeão da Foz do Douro, Orfeão Municipal da Maia, Orfeão da Portugal Telecom (Zona Norte), Orfeão da Paróquia da Foz do Douro e Orfeão de Recardães, dirigidos pelo próprio compositor.
“Hoje a Lenda está viva, em quem recorda os Contos da Lua Nova.”