António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

CODEVI

Março 4th, 2019

Antes de vos explicar o título (para aqueles que não sabem o que esta sigla representa)…

O meu primeiro professor de Música, em boa verdade, terá sido o meu pai que me fez ouvir de tudo, mas de tudo mesmo, desde Pink Floyd a Marco Paulo. Aprendi a gostar de Música no berço e, no meu íntimo, sempre soube que ser músico seria uma questão de tempo, algo que só concretizei aos 14 anos.

Entre a infinidade de coisas que o meu pai ouvia, estavam as edições discográficas da CODEVI (Comunidade De Vida). Aliás, o meu pai participou no coro de dois desses discos.

Naquelas K7s que giraram uma infinidade de vezes no velho aparelho da nossa casa, eu ouvia as mesmas palavras que ouvia na Missa, mas com um ritmo e uma harmonia diferente, com guitarras, baterias, sintetizadores arrojados… Que fixe!

A “música de igreja” com uma roupagem avassaladora, moderna e que me fascinou desde sempre.

Ouvi as K7s vezes sem conta até romper as fitas. Decorei as letras, os solos instrumentais, as malhas, os “patterns” e os breaks da bateria.

Quando, anos mais tarde, me confiaram a direcção de um coro litúrgico, a primeira coisa que decidi foi: “finalmente vou tocar isto!”

Algumas partituras o meu pai tinha guardadas desde as gravações (finais dos anos 70, inícios de 80). Outras foram-me gentilmente cedidas pelo meu amigo José Fernando Ferreira, membro activo da CODEVI, produtor de alguns dos discos.

Ao longo de todo este tempo, tornei-me admirador do grande homem por trás daquele som: o Pe. Rocha Monteiro.

Nunca houve, nem haverá, alguém como ele.

Conheci-o há poucos anos. O Fernando tinha-me convidado para tocar nas Bodas de Prata dele. “O Padre Rocha vai lá estar”. Bolas… eu não cabia em mim. Ao mesmo tempo, morria de medo de meter algum “prego”… que vergonha… toquei o melhor que pude e sabia.

No fim, veio ter comigo. Eu queria dizer tanta coisa, mas só consegui dizer obrigado. Elogiou o meu trabalho e fez-me prometer que, se a Invicta Big Band voltasse a tocar em Lisboa, eu o convidaria para assistir.

Infelizmente, a IBB ainda não voltou a Lisboa e, recentemente, o Pe. Rocha deixou-nos.

Depois disso, ainda voltei a tocar “para ele” novamente. Agora mais confiante e descontraído, mas sempre emocionado.

Estou a falar no Pe. Rocha, mas podia falar no Rui Vilhena, no Carlos Rocha (com quem também já toquei), no António Ferreira (que grande compositor!!!), no António Campeã e em muitos outros nomes que, sem saberem, me ajudaram a crescer como músico, principalmente na complexa tarefa de louvar a Deus pela Música.

Na passada sexta-feira, enquanto rumava a Estarreja para mais um ensaio, pus no meu carro um CD da CODEVI. Viajei no tempo e no espaço, voltei a ser a criança fascinada e sonhadora, a brincar entre as saias da minha Mãe. Emocionei-me. Juro que chorei. Senti muitas saudades da minha Mãe que também punha as K7s muitas vezes; senti uma enorme gratidão ao meu Pai por ter feito de mim o que sou; senti saudades do Pe. Rocha; senti-me triste por não me ter despedido dele como devia ser.

Obrigado Pe. Rocha.
Obrigado a toda a CODEVI.

Continuarei a ouvir-vos.

 

 

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.