Ponto prévio: sou um gajo um bocadinho inclinado para a Direita, Cristão convicto e praticante. Já fui militante do PSD.
Por isso… (pausa para respirar fundo) fico agastado quando vejo a tentativa de associar a disciplina de Cidanania à Esquerda. Os conteúdos e os objectivos abordados não deviam ser de Esquerda ou Direita, desta ou daquela religião, deviam ser da Humaninade.
Acredito que, apesar de eventuais falhas, a disciplina de Cidadania tem mais virtudes que defeitos. E, essas virtudes, espero eu, vamos vê-las daqui a uns anos:
– quando juízes deixarem de por à solta homens que agridem violentamente as suas mulheres;
– quando desaparecer o provérbio “Entre marido e mulher, não se mete a colher…”
– quando deixarmos de acordar com notícias de pretos que são agredidos, assassinados, enquanto ouvem “vai para a tua terra”;
– quando acabarem as perseguições e espancamentos a transexuais, que acabam a morrer lentamente num buranco imundo (caso “Gisberta”, para quem não está recordado);
– quando um adolescente deixar de ter medo, ou vergonha, ao descubrir que é homossexual, ou outra coisa qualquer e reprimir a sua sexualidade durante anos;
– quando terminar o bullying ou, pelo menos, deixarmos de achar que o bullying é uma coisa normal e que até “faz bem”;
– quando revisores da CP deixarem de assediar passageiras só por causa de um decote e terminar de vez a conversa do “pôs-se a jeito”;
– quando deixarmos de pôr a culpa nas vítimas;
– quando pararem os comentários começados por “Eu não sou homofóbico, mas…”;
– quando deixarmos de olhar de lado para dois homens, ou duas mulheres, a trocarem carinhos;
– quando deixarmos de julgar e condenar as pessoas pela roupa que vestem;
– quando percebermos que a sobrevivência do Planeta está nas nossas mãos e nos nossos comportamentos;
– quando animais deixarem de ser torturados para gáudio da multidão;
– quando formos todos mais empáticos e respeitarmos a diferença, mesmo que não concordemos e não se enquadre nos nossos valores.
Acima de tudo, espero que os meus filhos construam um Mundo onde deixe de ser necessária uma disciplina onde se ensine “apenas” a sermos melhores pessoas.