António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.
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“Só se atiram pedras às árvores que dão fruto…”
O lugar de líder é invejado e ambicionado. No entanto, se quem o inveja e ambiciona soubesse o que custa, talvez não o invejasse nem ambicionasse.
Em primeiro lugar, quando chegamos a um lugar de liderança tornamo-nos alvos: alvos daqueles que nos querem tirar o lugar e alvos da crítica.
Com o tempo, aprendemos a lidar com uns e com outros.
Em segundo lugar, há o peso da responsabilidade (isto para quem leva os seus cargos a sério).
Com o tempo, ganhamos maturidade.
Em terceiro lugar, há que transmitir a um grupo mais ou menos alargado de pessoas uma mensagem, uma visão, um objectivo, com vista a obtermos um determinado comportamento dessas pessoas. Nos grupos que lidero, mais que comportamentos, mais do que gestos eu procuro atitudes. Procuro em cada um dos meus colaboradores a personificação da mensagem, da visão, do objectivo.
Com o tempo, aperfeiçoamos a comunicação. Contudo, é quando falhamos neste aspecto que mais nos sentimos “incompetentes”.
É muito fácil culpar os colaboradores. Mas o difícil é perceber porque é que eles falharam e, mais difícil ainda, perceber o que é que fizemos, ou não fizemos, para que isso acontecesse.
Acreditem que é duro, frustrante, perceber que fomos nós que não transmitimos a mensagem da melhor forma. Mas é igualmente reconfortante quando percebemos onde erramos.
Este fim de semana vivi um desses momentos, em que colaboradores meus não apresentaram o comportamento que eu esperava. Mas, quando analisei bem as suas acções, apercebi-me que fizeram exactamente o que eu lhes tinha pedido e foi nesse momento que concluí que o problema era meu. Passei demasiado tempo focado na tarefa e não no resultado, e acabei por obter precisamente o inverso daquilo que pretendia.
Agora sei que tenho que mudar, ainda não sei como, mas já estou no ponto de partida.
“Discurso” de apresentação de “Uma Comédia Pouco Divina”
“Nem sempre se compreende porque que é que alguém decide partilhar parte da sua vida com um público vasto e anónimo que jamais virá a conhecer.”
Foi com esta frase que a minha amiga, Renata Oliveira, iniciou o prefácio que gentilmente escreveu para o meu livro.
Dois dias depois de “Uma comédia pouco divina” ter sido lançado na Internet, a mesma pessoa disse-me: “faças o que fizeres, serás sempre reprovado”.
De facto, ao lançar este livro, tenho a plena consciência de que, no curto prazo estarei sujeito aos comentários menos abonatórios sobre o mesmo e, eventualmente, sobre a minha pessoa.
Contudo, “Uma comédia pouco divina” surgiu de uma vontade acima da minha própria vontade.
Quando criei estes textos, que fui publicando na Internet, ao longo dos últimos três anos, a última coisa que me passou pela cabeça foi lança-los em livro.
No entanto, à medida que cada um desses textos ia sendo divulgado, eu fui sendo incentivado, por vários dos meus amigos e conhecidos que acompanhavam o blog, a continuar a escrever, materializando-se a ideia de que seria viável a sua publicação impressa.
Apesar de me agradar a lisonja e o reconhecimento pelo fruto do meu trabalho, nunca dei muita relevância a essa ideia, dado que o meu principal objectivo era atingido na Internet: partilhar com o Mundo histórias, sentimentos, memórias, experiências…
Apenas em meados deste ano, quando uma janela de oportunidade se abriu, é que me dei conta do considerável volume de material que tinha disponível para publicação.
Tomada a decisão de lançar a “Comédia Pouco Divina”, deparei-me com duas dificuldades:
– A necessidade de seleccionar os textos, devido à abundância de material
– A necessidade de encontrar um fio condutor para os mesmos, dado que cada um dos textos que compõem o livro foi escrito e publicado, na Internet, de forma isolada, não havendo, à partida, uma ligação entre eles.
Vencer a primeira dificuldade foi relativamente fácil. Seleccionei os textos cronologicamente, estabelecendo como limite pessoal as cem páginas.
Muito material ficou de fora, à espera de uma próxima oportunidade.
Contudo, vencer a segunda dificuldade, ou seja, agrupar os textos por temas e dar-lhes uma sequência lógica, foi o principal trabalho que tive com o livro.
À medida que ia relendo palavras que tinha escrito já há algum tempo (algumas há mais de dois anos), fui identificando pontos comuns entre elas, gerando assim os quatro temas em que o livro se divide: Algodão, Lâminas, Incêndio e Ego.
Em qualquer um destes temas os leitores encontrarão:
– Histórias, reais e imaginárias
– Sentimentos: amor, ódio, paixão, ternura, carinho, raiva, ira…
– Memórias: umas mais longínquas, outras mais recentes, outras de tempos que ainda não aconteceram
– Experiências: pessoais e daqueles que me rodeiam
No primeiro tema, Algodão, inclui textos relacionados com a descoberta do amor. Textos que relatam as emoções do ser humano quando descobre que sente algo mais forte por outro ser humano. São textos adornados com alguma inocência e ingenuidade, de onde transparece a ternura e a entrega do nosso coração ao ser que amamos.
No segundo tema, Lâminas, reflicto sobre as dores e o sofrimento que o Amor acarreta. Neste capítulo encontrarão referências à Saudade, à ausência, ao amor não correspondido, ao ciúme, aos amores impossíveis, aos amores proibidos. São textos, no fundo, sofridos e dolorosos.
No terceiro tema, Incêndio, surgem textos que falam sobre a Paixão, o Amor Carnal, o Erotismo. No fundo, a entrega total entre os dois amantes que, anteriormente se descobriram, sofreram um pelo outro e agora unem-se num só.
Por fim, o quarto tema do livro, Ego, como o próprio título sugere, é aquele mais egocêntrico, mais fechado em torno da minha pessoa. São reflexões sobre o Mundo, sobre as nossas lutas interiores, sobre os nossos objectivos de vida, sobre tudo aquilo que nos põe a pensar, sempre contado na primeira pessoa. Na verdade, é nesta parte da Comédia Pouco Divina em que mais me exponho.
Assim sendo, penso ter ficado claro a todos vós que o título “Uma comédia pouco divina” está pouco, ou até mesmo nada, relacionado com humor. Trata-se de comédia no sentido de farsa, de máscara, deixando ao critério de cada leitor a percepção se aquilo que está ler é real ou ficção.
A “Comédia pouco divina”, será tão mais vivida, quanto mais o leitor procurar identificar-se com os textos ou, dito de outra forma, quanto mais o leitor se deixar envolver pelos textos.
Na verdade, o comentário mais frequente aos textos deste livro é: “O que tu escreves tem tanto a ver comigo”.
E é essa a maior recompensa para quem escreve: chegar à vida das pessoas.
Neste sentido, a sugestão que dou é que, quando estiverem a ler “A Comédia pouco divina”, procurem as semelhanças entre o que está escrito e as vossas vidas pois, neste caso, as semelhanças entre a ficção e a realidade não serão pura coincidência.
Villas-Boas
Está a fazer confusão na cabeça de muita gente, o sucesso alcançado por André Villas-Boas à frente da equipa do Futebol Clube do Porto.
Sucesso? Ele ainda não ganhou “nada”. Contudo, a imprensa internacional (sim, a internacional, porque a nacional insiste em ignorar) já o compara a Mourinho e a Fergusson.
Mas então, qual o segredo do sucesso de AVB?
Será o seu conhecimento tecnico-táctico do jogo? Sem dúvida!
Os anos de trabalho com Bobby Robson e Mourinho? Certamente!
A formação que obteve em Inglaterra? Claro!
Mas há algo mais: AVB é Portista e é isso que, na minha opinião, faz toda a diferença.
No banco ele vive o jogo como um treinador, mas sofre como um adepto e tem conseguido incutir esse espírito nos atletas. É preciso ganhar, porque há um clube, uma cidade, uma região que precisam ganhar.
Quando a sua contratação foi anunciada, comentei com algumas pessoas: “Não sei se ele será grande treinador, mas ao menos é portista. É como ter um de nós no banco a berrar lá para dentro, para os jogadores correrem, para darem o litro, para morrerem, se for preciso.”
E confirma-se. E, para além disso é um bom treinador.
25 de Novembro… dia de efemérides!
Em 25 de Novembro de 1999, o Celta de Vigo derrotou a equipa visitante por 7-0. Histórico!
Em 25 de Novembro de 1975, o PCP foi derrotado na sua tentativa de instaurar uma ditadura em Portugal.
Prémio para quem conseguir relacionar estes dois dias históricos.
André Rieu
Há coisas que eu não suporto. Simplesmente não suporto. Uma delas chama-se…
ANDRÉ RIEU
Não consigo gostar. Tudo soa a exagerado. Tudo soa a falso. Tudo soa a plástico.
Não há genuinidade, não há originalidade. Música a metro, empacotada, formatada, disfarçada. O que o André Rieu faz, já outros fizeram antes… mas com bom gosto: James Last, John Williams e a Boston Pops, Luis Cobos, Louis Clark e a Royal Philharmonic…
Para além de que, o senhor ostenta orgulhosamente esse instrumento da minha “predilecção”: o violino.
(Ver este artigo: https://www.antonio-pinheiro.net/?p=571)
Como violinista é, nitidamente, tecnicamente limitado. Como maestro… bem…
Quando vejo os DVDs dele na FNAC, viro a cara para o lado. Quando o vejo na televisão, mudo de canal! Mas a besta parece estar em todo o lado!
Se houver mais gente a partilhar este meu ódio, digam qualquer coisa… Às vezes sinto-me tão sozinho, apesar de já ter encontrado uns grupos jeitosos no Facebook:
E o fascista era ele…
“Ao mudar-se para o palacete de São Bento, adaptado e decorado por Raul Lino, Salazar manda instalar dois contadores: um para a energia do rés-do-chão (zona de trabalho oficial), a ser paga pelo Estado, outro para a do primeiro andar (zona de residência oficial), a ser saldada por si.
O mesmo se passava com a água, o combustível e os telefones.”
Reencontro
Por vezes, os melhores reencontros de amigos e pessoas que marcaram a nossa vida dão-se nos locais mais improváveis.
Sábado passado, andava eu a tocar pela Trofa, quando vejo o meu grande Professor e Mestre: Saúl Silva.
Os anos passam por nós e, no primeiro contacto, não me reconheceu. Contudo, quando lhe disse o meu nome e onde tinha estudado, no seu rosto rasgou-se um sorriso e abraçou-me com intensidade.
Foi difícil, no curto espaço de tempo que em que estivemos juntos, colocar toda a conversa em dia. O nosso último reencontro tinha sido há dois anos, curiosamente na Trofa.
No entanto, lá fomos falando, obivamente, de música, bandas, maestros e o Professor Saúl lá aproveitou para me contar uma ou duas histórias, daquelas que há 10-15 atrás ele me contava e que me faziam sentir nele uma verdadeira referência de vida.
Curiosamente, descobri um forte elo de ligação pessoal entre ele e o meu actual Professor de Direcção.
No meio daquele emaranhado de memórias, algumas já meio dispersas pelo peso da idade, o meu Mestre sai-se com uma daquelas frases que são autênticas sentenças:
“Ó Pinheiro, como é que um tipo frio e sem coração pode ser maestro? Ele é frio e isso nota-se na banda. Não sai nada lá de dentro…”
Fiquei sem resposta. Como sempre fiquei sem resposta às declarações incontestáveis do Professor Sául Silva:
“Mexe-te! Mexe-te! Não te esqueças que os olhos também ouvem!”
ou…
“Os outros professores iam fazer de ti um clarinetista. Eu vou fazer de ti um músico!”
Como é bom conviver, nem que seja por breves minutos, com estas pessoas tão ricas, tão intensas, tão dedicadas. Um ser humano de excelência e sem preconceitos em partilhar a sua experiência com o Mundo.
Obrigado, por tudo, Professor!