António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Porque também há coisas menos boas

Abril 27th, 2011

Sou músico desde 1994.

Nestes 17 anos de música já tive concertos bons e maus mas, apenas por uma vez, tive vergonha de estar em palco. Não interessa quando, nem onde, nem com quem.

Apenas recordo que foi algo tão mau, tão indescritível, que a minha vontade, da primeira à última nota, era sair do palco a correr e nunca mais voltar àquele local.

Esta angústia pessoal de ver um barco totalmente à deriva, agudizava-se ao perceber que alguns dos meus colegas de palco e, principalmente, a pessoa responsável pela direcção artística daquele agrupamento, não tinham a noção do que estava a acontecer. Pior: estavam convictos de que estava a ser um concerto espectacular. Mais grave ainda: afirmaram e reafirmaram que “o concerto foi excelente”.

Felizmente, outros percebiam que, mais cedo ou mais tarde, o caos iria abater-se sobre aquele palco. Com umas trocas de olhares lá fomos juntando vontades e dando o nosso melhor, até ao limite das nossas forças, para dar alguma dignidade ao que estava a acontecer e que era tudo, menos música.

Mas a vergonha estava lá. Não conseguia olhar o público e, se houvesse um espelho, não conseguiria olhar-me a mim próprio.

Quando saí do palco, uma pessoa da minha família que estava a assistir perguntou-me: “Mas que m*rd* foi esta?”

“Foi um concerto mau de mais e que quero esquecer rapidamente…”

Mas é difícil. Da mesma forma que as actuações positivamente extraordinárias se tornam inesquecíveis, o mesmo acontece com os fiascos. Ficam armazenados na nossa memória para nos lembrar que há erros que não podem ser repetidos.

Mau da fita “a really badass!”

Abril 24th, 2011

No filme Kill Bill, Uma Thurman e Lucy Liu, decepam cabeças e outros membros humanos como quem corta manteiga… mas com estilo. A forma como brandem a espada e a fazem deslizar pela carne humana, dá-nos vontade de nos juntarmos a um esquadrão assassino.

Ainda em Tarantino, Pulp Fiction, Samuel L. Jackson. Em parelha com John Travolta, este assassino mercenário, despacha meliantes à bala, enquanto recita passagens da bíblia, dentro de um elegante fato.

E por falar em tiroteios, o que dizer de Ben Affleck e Matt Damon no filme Dogma? Faz-nos apetecer andar com uma pistola no bolso para aviar pecadores.

Depois há a mítica cena dos helicópteros no Apocalipse Now, tendo como corolário a utilização da música de Wagner como pano de fundo ao ataque. Vou já inscrever-me numa escola de vôo!

A terminar… Darth Vader: o grande imperador dos “badass”. Elegante, assustador, com uma enorme dose de “coolness” e, ainda por cima, uma banda sonora a condizer.

Estou a construir um personagem que seja a mistura de toda a esta gente. Vai reunir o melhor e o pior de cada um deles.

E muito sangue vai correr…

P.S. – Numa cena do A-Team, o Hannibal diz ao mau da fita que ele tem duas maneiras de resolver a questão: “the easy way and the hard way”. Segue-se a descrição de uma série de maleitas que se iriam abater sobre o mau da fita: tiros, bombas, socos nas trombas… muito armamento! Então, o mau da fita pergunta: “E qual é a easy way?”. Responde o Hannibal: “essa acabei de descrever agora mesmo…”

Ensinaram-me

Abril 22nd, 2011

Ensinaram-me…

Aprende com quem sabe, mas não imites, nem copies. Absorve conhecimento para depois seres tu próprio e criares o teu mundo. Mais tarde, tu também vais ensinar, mas não cries clones da tua pessoa. Deixa que aqueles que aprendem contigo sejam livres.

Ensinaram-me…

Ouve muitas opiniões, mas filtra aquelas que realmente te ajudam a crescer. Não dês importância a tudo o que te dizem, pois pode ser dito para te prejudicar. Tu vais percebe, no teu íntimo, quais são os bons e quais são os maus conselhos.

Ensinaram-me…

Defende o teu trabalho e aquilo que construíste. Esconde-te no momento da glória e mostra-te no momento do insucesso.

Ensinaram-me…

Tens que saber desistir, quando o teu esforço é em vão. Não é vergonha admitir que não conseguimos… Não é vergonha admitir que fracassamos. Vergonha é continuar a errar sem a consciência que somos incapazes.

Ensinaram-me…

Errar, toda a gente erra. Agora, errar sucessivamente, achando que estamos a agir bem é sinal de estupidez. Tens que estar atento aos teus erros e perceber se estás a ser estúpido ou não.

Ensinaram-me…

Quanto mais longe chegares, mais dificuldades te irão colocar. O sucesso tem um preço muito alto e tens que saber se estás preparado para o pagar.

Ensinaram-me…

Defende os teus princípios e não abdiques deles. A tua integridade, mais cedo ou mais tarde, será recompensada. Não te prostituas a troco do sucesso rápido. Com a mesma rapidez vem a desgraça.

Ensinaram-me…

Define objectivos para a tua vida e meios para os atingir. Sem dares passos maiores que a perna, fixa os olhos no teu destino e corre na sua direcção.

Ensinaram-me…. que um dia iria reflectir sobre tudo isto…

Síndrome “Ministro da Guerra Iraquiano” ou “Violinista do Titanic” ou “O Rei vai nu”

Abril 19th, 2011

Cosmética.

Areia para os olhos.

Para inglês ver.

Ou, simplesmente, falta de senso, falta de sentido de ridículo, falta de vergonha.

O barco afunda e, no entanto, continuamos orgulhosos de ser o maior barco de sempre, mas ele continua a afundar.

As tropas americanas entravam em Bagdade e o Ministro da Guerra Iraquiano afirmava que os ianques iam arder dentro das fardas.

O amor próprio perdeu-se?

Assumimos, definitivamente, a nossa própria prostituição?

Já diz o povo que “mais vale parecer do que ser”…

E estes parecem. Mas estão longe de o ser. Estão cada vez mais longe de o ser e um dia a máscara tão bem moldada vai cair.

Alguém já gritou “o Rei vai nu”. Mas o Rei, egoísta, orgulhoso, mandou matar tão infame caluniador. Mas continua nu. Despido. Vestido apenas com o manto da ilusão por si próprio tecido.

“O Rei vai nu” grita outro corajoso e novo pelotão de fuzilamento avança. E são sempre os mesmos. O mesmo esquadrão da morte. Tão, ou mais, despido que o próprio rei.

Sucedem-se os gritos de “O Rei vai nu”, “o navia afunda”, “salve-se quem puder” e o esquadrão da morte dispara, degola, assassina.

E o ansiado dia da glória eterna aproxima-se e aproxima-se, também, o dia da suprema humilhação.

“Vou realizar uma vingança terrível contra eles, com violentos castigos, para que saibam que eu sou o Senhor, quando me vingar deles.” Ezequiel, 25:17

Apagam a História, mas não apagam a Memória

Março 27th, 2011

A História faz-se de factos e não daquilo que se diz ou escreve.

Podem ignorar os factos; fazer de conta que não existiram; podem negá-los; podem até apagá-los dos livros.

Contudo, nunca os poderão apagar da Memória de quem os viveu. Não é por reescrevem a História à vossa maneira, que aquilo que aconteceu será diferente.

Aconteceu. Eu estive lá. Outros estiveram lá e, pior que tudo, aqueles que agora apagam pedaços da História, também estiveram lá.

Memória nos sentidos, na visão e na audição mas, acima de tudo, há a Memória afectiva de quem viveu, sofreu, amou, trabalhou para que aquilo, que agora outros assumem como seu, pudesse nascer, crescer e ser aquilo que hoje é.

Podem apagar e reescrever mil e uma vezes. Mas o Passado é imutável. Pode sê-lo aos olhos de gente débil mental. Mas, pessoas com consciência, que estão no Mundo de boa-fé, sabem que não foi assim como agora estão a dizer que foi…

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.