António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

100 a dividir por 4

Março 31st, 2018

5, 10, 15, meia-maratona, maratona, ultra… 3 dígitos. Um percurso, uma progressão comum a muitos corredores.

Quando, em Setembro de 2015, o Vitor Dias me falou na primeira edição dos 100k Portugal, achei que era coisa para se fazer, tanto mais que, num belo Domingo de Novembro, fui o primeiro a inscrever-me na prova.

E, poucos meses depois, lá estava eu na linha de partida, para desistir umas horas mais tarde, com 67km percorridos, derrotado pelo frio.

No ano seguinte, 62km… dessa vez foram as bolhas nos pés.

De regresso a casa, após a segunda desistência, disse à Teresa: “Para o ano faço isto em estafeta, arranjo quatro amigos, 25km a cada um… é na boa!”

E, o primeiro a convencer, foi o Sr. Silva, amigo e colega de trabalho, que começou a correr, precisamente, inspirado pelos relatos das minhas corridas, à hora de almoço. O Sr. Silva corre, religiosamente, todos os Domingos, 20km. Em 2017, durante o ano todo, correu mais de 1.200km, logo, pareceu-me uma boa contratação.

O segundo, foi o Marcos Soares. Companheiro de aventuras filarmónicas, também ele ingressou no mundo da corrida e os seus resultados são cada vez mais interessantes. Assim, como era preciso alguém para correr a sério na equipa, convidei-o.

Faltava-me uma alminha para ter a equipa completa. Bem que coloquei anúncio no Facebook, mas ninguém se ofereceu. Percorri mentalmente a minha lista de amigos corredores e travei na letra D: Diamantino Monteiro, músico, maestro e… corredor!

O passo seguinte foi pedir autorização ao Dr. Merino para correr com o nome e as cores da equipa. Era algo arriscado, porque não íamos para ganhar, nem tão pouco, mais ou menos. O speaker Hugo Água, numa das nossas primeiras passagens pela meta, ainda disse: “Eles que todas as semanas lutam pelos primeiros lugares nas provas de trail…” “Eles”… mas não nós…

O Silva foi o primeiro a correr. Eleito por unanimidade e aclamação, já que foi o único que se apresentou no local da prova já de t-shirt e calções, enquanto os outros três marmanjos estavam encolhidos de frio. Ainda por cima, obrigou-me a dar uma volta de aquecimento ao circuito.

Depois corri eu, o Diamantino, o Marcos… e assim foi durante todo o dia, até à tão desejada 62ª volta.

Estas provas em circuito (100K e 24H Portugal), organizadas pelo Vitor Dias e pelo João Paulo Meixedo, são sempre muito mais que provas de corrida: são festas onde, pelo meio, o pessoal vai correndo. Há comes e bebes, animação, um speaker incansável, um staff atencioso, divertido e afável e gente que se apoia mutuamente. Apesar das várias equipas, parece que somos todos da mesma equipa e, no final, todos ganham. Há sempre um “força”, “vamos”, “ânimo”, “está quase…”

Há sempre um Rui Pinho que nos grita “Anda, Pinheiro!”; há sempre um Gonçalo com quem partilhar momentos; há sempre gente com “cambrias”.

Desta vez, houve também um Silva que não cabia em si de contente e orgulhoso pela sua primeira medalha, um Marcos “super-sónico” a passar veloz em cada volta e um Diamantino esforçado mas sempre com aquele ar de galã tranquilo.

No fim, houve um Pinheiro realizado por, à terceira tentativa não ter saído de Lousada como desistente e por ter proporcionado momentos inesquecíveis a três amigos.

100 a dividir por 4 não custa, mas não é tão fácil como parece…

Quanto aos três dígitos a solo, ficam prometidos para Setembro.

P.S. – Só Deus sabe o que me custou ter passado o dia em Lousada, quando a minha família precisava tanto de mim em casa. Mais do que as dores nas pernas, a dor na alma… Por isso, a minha reacção no fim da última volta, ter ficado ali sem conseguir dizer nada… Teresa, tenho muitas medalhas e algumas muito especiais, mas esta quero que guardes.

Maratona de Barcelona – “Molt bé!”

Março 21st, 2018

Barcelona. Cidade olímpica, com uma História milenar e que, sendo uma cidade do Mundo, guarda uma cultura e um modo de vida muito próprios. Em Catalão, essa língua tão estranha mas, ao mesmo tempo, tão próxima do Português (por vezes, até mais que o Castelhano), muito bem diz-se “Molt bé!” e, foi assim, que ao longo de 42km e 195m, durante 4 horas e 37 minutos, fui sendo incentivado pelo povo da capital catalã.

Mas, comecemos do kilómetro zero. Tendo a sorte de estar instalado num hotel mesmo em cima da partida/chegada, saí tranquilamente para a prova meia hora antes da partida. E bem que podia ter saído mesmo na hora da partida. Isto porque, a multidão de atletas era tão densa (perto dos 15.000, calculo) que só passei na linha de partida, já a prova contava com quase 20 minutos de duração.

Cá atrás, muito cá atrás, donde partiam os atletas que apontavam para tempos superiores a 4 horas, não ouvimos o tiro de partida, o “Barcelonaaaaaaaa” de Freddy Mercury e Montserrat Caballé, mas reinava a boa disposição. Pelas inúmeras conversas numa panóplia de idiomas, apercebi-me da presença de muitos estreantes, com aquele misto de entusiasmo, incerteza, arrojo e nervosismo.

A minha expectativa para a prova era baixa. O último treino antes da partida para Barcelona tinha corrido muito mal e duvidava até de chegar ao fim. Mas, como costumamos dizer na Dr. Merino / 4moove: “Nós não viemos para tão longe, só para dizer que viemos para tão longe”. Então, coloquei-me entre os pacers das 4h e das 4h30. A ideia era perseguir uns e não ser ultrapassado pelos outros, sem acelerar demasiado, ir ouvindo o corpo, os pulmões, o coração e as pernas.

Até ao Camp Nou (Barça!!!!), fui tranquilo como numa corrida de fim de semana, ali na marginal, entre o Freixo e a Foz. Ao contornar o mítico estádio, surge a primeira subida, que até tinha uma inclinaçãozita… “Ó António… um gajo do trail preocupado com uma subida?”. É, porque comecei a ver gente a passo logo ali, e a vontade de cair na tentação é muita.

A partir daí fui desfrutando da prova e da cidade. Foi uma “curte”. Muita música ao longo do trajecto. Para além dos habituais grupos de percussão, muito bem coordenados e sempre a dar o litro no incentivo aos atletas, bandas de pop / rock de muito boa qualidade. Não pude deixar de comparar com a pobreza com que a Maratona do Porto nos apresenta neste aspecto, com aqueles duos e trios de brasileiros a tocarem versões manhosas e desafinadas de música anglo-saxónica.

Nos abastecimentos, registei o mesmo calor humano que já tinha verificado em Sevilha, no ano passado. Os voluntários tinham o cuidado de olhar para o nosso dorsal e chamarem-nos pelo nome, não se limitando a darem-nos a água, ou o isotónico, mas sempre incentivando e apoiando. É muito fácil estender a mão, mas é melhor estender o coração.

Kilómetro 33. A minha coxa esquerda parecia ter sido rasgada por um x-acto. Tive que parar. Fiz uns metros a passo à procura dos corredores “phisio”: atletas que andavam para trás e para a frente na prova, dado apoio a quem estivesse com dores, dificuldades musculares, etc. (tipo os teus Safety Runners, Eduardo Merino). Esperava eu uma massagem, uma borrifadela do “spray milagroso”, qualquer coisa que me tirasse aquela dor.

E nisto, passam os pacers das 4h30… “Bolas! Logo agora que eu ia tão bem…”

Aos poucos fui recuperando o ritmo. Naquele ponto, já só via a meta. “Quero lá saber do spray… agora é até cair!”

Kilómetro 40… “A sério? A sério que o final da prova é a subir?” Confesso: a inclinação era quase inexistente, mas depois de 40km, qualquer coisa parece o Everest… Nesta fase, o apoio do público adensa-se. “Molt bé! Molt bé!”, “Come on, guys!”, “Venga! Venga! Ya la teneis!”, mas nada em português… Aliás, ao contrário de Sevilha onde, praticamente, corremos “em casa”, não vislumbrei qualquer apoio lusitano nas ruas, a não ser uma jovem com uma bandeira pelas costas, mas que estava sentada num passeio, quase a dormir…

E pronto, o resto vocês já sabem. No Porto, em Sevilha, em Barcelona, em qualquer parte do Mundo (penso eu), o final de uma Maratona é sempre como a primeira vez. Naquele momento tudo valeu a pena. Abrir os braços, abrir o sorriso e um salto na meta. Milhares de pessoas a aplaudir, milhares a cortar a meta! Mais uma meta…

Acaba a prova, recolho a medalha… Envio um SMS para o Gonçalo Dias: 4h37. Não dizia mais nada. 4h37. Praticamente o mesmo tempo que tinha feito em Sevilha, poucos segundos menos. “Afinal, até correu bem…”

O coração acalma, os músculos protestam. O caminho de regresso ao hotel, curto, demora uma eternidade. Os maratonistas ganham sempre um andar novo.

A Teresa tinha estado indisposta durante a noite e não arriscou sair de casa com o Eduardo ao colo. Não importa. Estiveram sempre comigo.

A porta do quarto abre-se, a Teresa sorri. No preciso momento em que ela pergunta “Como é que correu?”, o Eduardo, deitado na cama, começa a bater palmas e a sorrir para mim… Comecei a chorar e não consegui responder à Teresa… De facto, “não viemos para tão longe, só para dizer que viemos para tão longe…”

A minha primeira Arga

Outubro 4th, 2017

Desde que comecei a correr que queria ir ao Grande Trail Serra D’Arga. Nunca dava. Por um motivo, ou por outro, Arga era sempre uma miragem. Até que, em 2017, ocorre este diálogo:

– Olha o Trail da Serra D’Arga… gostava de ir lá fazer os 33km…

– Passear? Vamos!

Inscrição feita.

Desde a Maratona de Sevilha que não me divertia tanto numa prova, principalmente pela sensação de liberdade que a mesma provocou, do primeiro ao último metro.

Liberdade.

Correr “desenfreadamente” pelos primeiros 5kms “descendentes”. Sentir a frequência cardíaca a subir, juntamente com todo o prazer que a corrida assim te dá.

– Caraças… o que se passa?

E ao km 5 as pernas não andam. Mas não andam mesmo. Sabem quando queremos correr num sonho, para fugir de algo ou alcançar algo, e não conseguimos? É isso.

– Vou desistir no abastecimento.

3km a lutar contra a falta de vontade das minhas pernas. Não andavam.

Abastecimento.

– Que se lixe… Mais um bocadinho.

E lá fui eu.

Liberdade.

Uma ultrapassagem, duas… e numa zona técnica!

– Isto afinal até está a correr bem…

Desce. Com “pedrinhas” como eu gosto.

– O que vem aí atrás?

Eram os primeiros da prova de 21km. Passam por mim como flechas. “Deixa-os ir que a minha corrida é outra.” Subir.

– Será que é desta que eu vou abaixo?

Nada disso.

– Faça como o seu colega Mário “Wilson”: entrar a matar, acabar a morrer!

(eu sabia que algum dia iam chamar Mário Wilson ao Mário Elson… coisas de se ter um nome estranho)

E a subida parecia não ter fim, mas tinha, num abastecimento. Já? 15km.

Comer, beber e ligar para casa. Entenda-se “casa” como o adorável bangalow que alugamos para o fim de semana e onde a prova até passava. Siga que é a subir.

Liberdade.

– Vou apanhar aqueles dois, mas com calma. Não vou atacar, mas não os vou deixar sair do meu campo de visão. E não posso ser apanhado por quem vem atrás.

É assim, quando corremos na cauda do pelotão. Temos que desenhar as nossas próprias batalhas mentais, para isto ter alguma piada.

Fim da subida. É agora!

Destravei o camião e lá fui eu: uma, duas, três, quatro, cinco, talvez seis… ultrapassagens.

Olha… está ali a casa! (sim, o bangalow).

– Amor, estou à porta!

E acho que toda a gente que eu tinha ultrapassado na descida passa por mim… incluindo aqueles dois.

Carago…

– Amor, estás a ver aqueles dois ali em baixo? Tenho que chegar à frente deles! Xau! Vai para dentro que está frio para o Edu!

Apanhei-os no abastecimento. Um arrancou primeiro que eu. Outro depois.

“Só” faltava a última subida. Aquela que me fez soltar um palavrão quando vi o gráfico altimétrico.

Formou-se no início da subida um grupo de 4. E começou a chover. Deixei-os ir na frente. Quando senti o ritmo deles a abrandar, avancei. Ficaram para trás e nunca mais os vi.

A chuva, o vento, o frio e o nevoeiro adensavam-se. Parar para vestir o impermeável ou seguir em frente?

Que se lixe o impermeável!

Liberdade.

Galguei a p*** da serra de t-shirt. Dentes serrados. A minha guerra ainda não estava ganha. Temia que, a qualquer momento, viesse alguém por trás (salvo seja…).

Olhava para cima e via pequenos pontos coloridos lá no alto. “Não olhes para cima, não olhes para cima…”

Um pé atrás do outro. Rápido para não ter frio. E mais uma ultrapassagem… e mais duas!

Ao chegar ao topo, um grupo ruidoso de apoiantes, por quem tinha passado em vários pontos ao longo da prova, fazia-se ouvir no meio do nevoeiro:

– Só mais 50m e a subida acaba!

Entre outros incentivos, aos quais consegui responder com um “Obrigado, pessoal!” (esta gente também merecia uma medalha!)

Para conseguir falar depois de uma escalada daquelas, eu devia estar mesmo bem.

Era agora ou nunca.

Havia torneiras e abasteci-me de água o mais depressa que consegui.

“Agora é sempre a descer… livra-te de ir a passo! Corre!”

O nevoeiro não me deixava ver mais de 10 metros à frente.

– Onde raio estão as marcações?

Volta para trás… anda em círculos…

– Eles não me podem apanhar…

Finalmente de volta ao trilho!

À medida que ia descendo, a visibilidade voltava ao normal e eu tentava acelerar.

Lutava agora contra mim próprio e o desgaste provocado pela anterior subida. Corria, mas com dificuldades em manter o equilíbrio. E mais uma ultrapassagem.

Música, barulho lá ao fundo… É já ali!

Telefone.

– Estou quase a chegar à meta. Já te ligo!

E aí estava eu de novo na Montaria! E o ruidoso grupo de apoiantes!

Uma enorme sensação de liberdade culminava ali. Braços abertos. Sorriso no rosto!

Foi assim a minha primeira Arga!

 

Free Trail Solidário Trepa Trilhos

Agosto 13th, 2017

Numa altura em que há provas de trail por todo o lado, com algumas organizações que deixam muito a desejar os Trepa Trilhos Trail Team organizaram um “free trail” delicioso, apesar de servido em “chávena a escaldar”.

Para mim, a diferença entre uma prova de trail competitiva e um “free trail”, está simplesmente na ausência de dorsal e cronometragem. Por isso, encarei o evento desta manhã com todo o empenho, para tentar obter o melhor resultado possível.

Por regra pessoal, não faço trails nesta altura do ano (por causa do calor) mas, sendo aqui ao lado de casa, organizado por amigos e solidário, não pude deixar de estar presente, mesmo calculando que fosse uma manhã penosa, principalmente devido ao calor e ao perfil altimétrico.

E foi. Muito penoso… Eu sei que não me dou bem com o calor e hoje tive mais uma evidência disso mesmo, com o meu corpo a entrar desde cedo em excesso de temperatura. Fui rapidamente ao vermelho!

Os Trepa Trilhos desenharam um percurso excelente, sem dúvida, num local onde tal não parecia ser possível, aproveitando tudo o que a orografia proporciona. E, meter 1.100 m de D+ em 30km, obriga a um carrossel constante… e que carrossel! E o carrossel deu-me com a marreta aos 20km.

Vantagem de se correr perto de casa, principalmente quando a casa da tua tia está no meio trajecto: “ok… fico por aqui…”

E “só” faltavam 5km. Mas eram uns 5km do Demo, com uma temperatura já a rondar os 40 graus. As minhas pernas já tinham bloqueado e a minha cabeça já não queria mais nada com aquilo.

Posto isto…

Este “free trail” tem tudo, mas mesmo tudo, para se tornar numa prova competitiva. A organização foi excelente. O staff muito simpático, saudava-nos com um “Obrigado!”, caloroso e sentido, sempre solícitos e entusiasmantes. Mas nós é que deveríamos agradecer a possibilidade de desfrutar de trilhos tão bons.

Não deixa de ser impressionante que, uma prova solidária, que começou com um orçamento inicial de 0 cêntimos, tenha-se mostrado muito mais bem planeada e organizada que outras que até fazem parte dos campeonatos nacionais.

“Botem” os olhinhos nesta gente, senhores que organizam provas de trail!

É claro que há coisas que podem ser melhoradas:

  • sendo o “free trail” em pleno mês de Agosto, seria de equacionar uma partida mais cedo. Com um arranque quase às 9h da manhã… é difícil. Assim como o Trail Kids poderia ter sido de manhã…
  • a ideia de espalhar mensagens divertidas ou motivadoras ao longo do trajecto é gira, com conta peso e medida, mas acho que TTTT pecaram pelo exagero. A dada altura já cansava estar sempre a ler as mesmas coisas, principalmente quando já temos a cabeça em água.
  • Exagerados também foram os posts de Facebook, principalmente nas últimas duas semanas. Notificações a caírem quase minuto a minuto… Numa próxima iniciativa convém dosear melhor a comunicação e comunicar o que realmente interessa aos participantes.

Resta-me agradecer aos Trepa Trilhos a manhã que nos proporcionaram e… continuem!

Desde que pratico corrida, que ansiava poder ter uma prova aqui à volta de casa e, finalmente, aconteceu, depois de o ano passado estar a trabalhar no dia do vosso “Free Trail”.

Fico à espera do próximo!

Querido Porto

Maio 10th, 2017

Querido Porto,

Já chega. Foram 4 anos de sofrimento e dor. Sei que vais dizer que, no passado, foram muitos mais. É verdade, mas esse passado é longínquo. Um passado no qual o Campeão era sempre um de dois e os outros clubes estavam lá para enfeitar.

Houve uma madrugada que mudou o País e mudou isso também. E nós mostramos que havia Portugal para lá de Lisboa.

Mas a coisa tem corrido mal e os adeptos já não aguentam mais.

Dói muito.

Os outros ainda não ganharam o campeonato deste ano e já andam de peito feito. Vamos ter que aguentar com eles, mais um ano. E, acredita, é a parte pior de perder.

E a culpa é tua! Só tua! O apoio dos adeptos, esta época, foi incondicional e extraordinário. E tu teimas na auto-destruição.

Mas nós continuamos a acreditar em ti e, por isso, fazemos uns pedidos para a próxima época:

1 – A começar por aí: a próxima época. Prepara-a! As últimas quatro épocas ou, não foram preparadas, ou foram preparadas em cima do joelho. Não se sente um rumo, um fio condutor, a não ser obter lucro da venda de camisolas. (e, por falar em camisolas, aquele castanho… nunca mais, pá!);

2 – Dá jeito ter um treinador. Alguém respeitado pelos jogadores, admirado pelos adeptos e temido pelos adversários. Já tivemos tantos assim. É difícil encontrar outro?

3 – Queremos jogadores “à Porto”. Já sei que isso é um lugar comum, mas tu, meu Porto, pareces esquecido. Um jogador “à Porto” não é aquele que enche as redes sociais de bonitas hashtags. Não é aquele que vende muitas camisolas. Não. É um que dá o que tem e o que não tem em campo. É um que não festeja um 3º lugar, nem sorri depois de ter perdido o campeonato em casa do maior rival, nem troca camisolas como se nada fosse. É um que chora e sofre como nós! Temos muitos assim nas equipas de Andebol, Basket e Hóquei. E até acho que devemos ter alguns assim no plantel actual. Tu sempre os soubeste encontrar…

4 – Tens que voltar a perceber que isto é muito mais que Futebol. São 1.000 anos de História da nossa Cidade. É a permanente luta contra o centralismo reinante neste país, luta essa, da qual temos sido o principal expoente. Lembra-te que somos respeitados em todo o Mundo… excepto em Portugal e isso tem sido uma das nossas principais forças.

5 – Por fim, mesmo que não consigamos voltar a ganhar, pelo menos que fique a sensação que demos luta, que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, que fizemos o possível e o impossível.

Honestamente, a choradeira pelas arbitragens não nos fica bem. Isso sempre foi característica dos nossos rivais, que nunca nos souberam dar valor.

Este ano tivemos 10 empates! 20 pontos perdidos. Pensa onde estaríamos neste momento com esses 20 pontos, ou apenas com metade deles.

Este campeonato não foi ganho pelo Benfica… foi perdido pelo Porto, entregue de mão beijada! Chego a pensar que perdemos de propósito. E é isso que nos faz desesperar. Uma coisa é perder porque o adversário é superior. Outra coisa é perder por negligência.

Sinto que perdemos e ninguém se preocupa… a não ser os adeptos. Não há raiva, não há nervo, não há frustração… Onde andas, Porto?

Sei que muitos portistas vão ler isto e acusar-me de não ser um verdadeiro adepto, de não apoiar o Clube, bla, bla, bla…

Tretas.

Parece que agora o apoio vem por obrigação, que ninguém pode gritar “o Rei vai nu!”. Estamos mais preocupados em criticar uns aos outros, do que em ver o que, realmente, está mal…

Bolas… sou filho e pai de sócios do Porto. Cresci no Estádio das Antas e não me canso de defender o Porto. Mas chegamos a um ponto em que temos que pôr o dedo na ferida, se não continuamos na mesma… na mesma…

Querido, Porto:

Continuo, continuamos, a amar-te e a acreditar em ti. Mas precisamos de sentir-te connosco.

Para o ano há mais. Esperamos ver-te rejuvenescido, determinado e guerreiro.

É assim que te conhecemos. É assim que gostamos de ti.

Maratona de Sevilha 2017

Fevereiro 25th, 2017

Impedido de participar na Maratona do Porto 2016, procurei rapidamente uma solução no estrangeiro para poder fazer a mítica distância.

Sevilha surgiu como opção quase natural: fica aqui ao lado e de lá sempre recebi relatos muito positivos sobre a prova.

E lá parti eu para Espanha com o objectivo único de chegar ao fim, porque isto de apontar a tempos tem-se revelado problemático nas últimas corridas. Por isso, há que desfrutar da prova, da cidade e do prazer único de cruzar a meta.

O slogan impresso nos cartazes espalhados por toda a cidade dizia: “Voa na maratona mais plana do Mundo!”. Não sei se é “a mais plana”, mas é muito plana. Tão plana que me fez correr abaixo do que eu tinha planeado. Comecei a acompanhar o balão das 4h15m (tolo!) e, quando o perdi de vista pensei “daqui a pouco passa-te o balão das 4h30”. Esse “daqui a pouco” foi só aos 38km, o que me fez falar e rir sozinho no centro histórico de Sevilha, apinhado de gente. Gente a correr e que assistia. Muita gente que assistia.

Se o percurso de Sevilha pouco tem de entusiasmante, exceptuando a última meia-dúzia de quilómetros que atravessa a zona histórica, guiando-nos ao Estádio Olímpico (e quando temos o Porto como referência, numa linha contínua de rio e mar, é difícil encontrar algo mais entusiasmante), o mesmo não se pode dizer das milhares de pessoas que, do primeiro ao último quilómetro, do primeiro ao último atleta, incentivam os corredores de forma permanente.

E, para mim, foi essa a grande surpresa da Maratona de Sevilha: o público! “Vamos! Vamos! Vamos! Animo! Animo! Animo! Soys uns campeones! Ya no queda nada!” São incentivos que ouvimos ao longo de todo, mas mesmo todo, o trajecto. Não há quilómetros mortos ou desertos. Há sempre alguém que te olha nos olhos, sorri para ti e te incentiva a dar mais um passo. E, para quem corre, isso é fantástico!

E este é um ambiente vivido também nas zonas de abastecimento. Os voluntários não se limitam a segurar os copos de água e isotónico com cara de frete. Sorriem, incentivam, apoiam e estão cheios de bom-humor: “Este Aquarius sabe a cerveja! Mojitos! Mojitos fresquinhos! Tirem-mo da mão, senhores! Tirem-mo da mão! Aquarius fresquito! Tirem-me da mão!”

Com um ambiente destes, o que pode correr mal?

Em 42km195m, há muita coisa que pode correr mal. Desta vez, a mim tudo correu bem.

Ao ver os cartazes “Força Papá!” pensei sempre nos meus filhos; a cada bandeira portuguesa que encontrei pelo caminho (e foram muitas!), gritei sempre “Portugal!”; ao ver a Teresa à entrada do Estádio fui a correr em direcção a ela e parei 2 segundos para um beijo tão especial que me faria correr mais 42km; fiquei triste por ver o Echtelion da Fonte em sofrimento aos 20 e poucos quilómetros, mas, como ele é um fixe, esqueceu a sua dor naquele momento e mandou-me para a frente “Vai que tu estás bem! Há cerveja no fim!”

Somos uns doidos, ao fazer tantos quilómetros, longe de casa, “só” por estes “pequenos” prazeres da vida: um sorriso, um beijo, uma cerveja…

Ganhas alguma coisa com a Música? Sim: asas!

Janeiro 29th, 2017

É uma pergunta que ouço com frequência. Toda a gente quer saber quanto pode ganhar um Músico, mas aquilo que recebemos a tocar não pode, jamais, ser quantificado em euros, dólares ou qualquer outra unidade monetária.

Outra pergunta que me fazem é: “mas, vais tocar de borla? o que ganhas com isso?”

Asas.

Prova disso, foram os momentos vividos este fim de semana.

Na sexta-feira, mais um concerto da Invicta Big Band. É cada vez mais difícil descrever as sensações que cada actuação da IBB proporciona. Uma orquestra que completou, semana passada, 5 anos desde a sua apresentação oficial e que nasceu da forte vontade de um grupo de pessoas extraordinárias, que me conseguiram convencer de que poderia ser o seu líder. Contudo, se há algo que me orgulha na IBB, para além da sua solidez enquanto instituição e de nunca ter dado um passo maior que a perna, é a forma como todos os envolvidos contribuem para a sua construção. E o que aconteceu na preparação da actuação de sexta-feira, materializa isso mesmo. Acho que pela primeira vez em 5 anos, pouco mais tive que fazer do que… dirigir. E, quando o peso de tudo o resto sai dos nossos ombros, torna-se mais fácil sentir a Música e fazer com que 20 artistas diferentes toquem a uma só Alma. Conseguimos.

A IBB dá-me também o privilégio de trabalhar com músicos de grande qualidade, alguns deles já profissionais e com os quais aprendo a cada compasso que passa. E eu gosto tanto de aprender…

Depois, no sábado, o Harmonic 4 Concept – Best Philarmonic Rock Ever. Depois do sucesso do Symphonic Clapton, em 2016, a fasquia estava muito alta. Mas em Santa Maria da Feira, não se brinca em serviço. Há um grande timoneiro, Gil Ferreira, um Vereador da Cultura como deve ser um Vereador da Cultura. Por vezes, parece mágico, dada a sua capacidade de estar, basicamente, em todo o lado. Mexe-se e faz mexer. E Santa Maria da Feira transformou o tradicional, gasto e enfadonho modelo de “encontro de bandas: desfile – concerto – concerto – concerto – concerto – marchinha em conjunto”, num espectáculo original, único, criativo, extraordinário, que de facto envolve e compromete as pessoas e que não abdica de elevados padrões de qualidade. E que qualidade têm os arranjos do Luís Cardoso! Assentam como uma luva nos temas originais e entusiasmam quem toca e quem ouve.

Este ano, o concerto de encerramento da Festa das Fogaceiras, deu-nos o prazer de partilhar o palco com músicos de projecção nacional. E isso não tem preço. E depois, em vez de colocar as filarmónicas em posição antagónica, quase em despique, junta-as no mesmo palco, a trabalhar para o mesmo fim, não só no concerto, como nos ensaios durante as semanas antecedentes. E aprendemos uns com os outros.

Assim se faz Música. Assim se faz Arte.

O Professor António Saiote costuma dizer que “é a Arte que nos eleva.”

E tão alto voamos por estes dias… Saibamos, pois, continuar a desfrutar do vento sob as nossas asas.

“Please keep fighting, keep fighting, together we can build something beautiful.”

O meu presente de Natal

Dezembro 22nd, 2016

A nossa sociedade está cada vez mais agressiva. Vê-se nas caixas de comentários da Internet e redes sociais; vê-se no trânsito, nos centros comerciais, nos debates desportivos; vê-se nas notícias.

As pessoas explodem por dois motivos, por tudo e por nada. Não temos capacidade (nem queremos) para argumentar os nossos pontos de vista forma cortês e com urbanidade. Aliás, perante a falta de argumentos, partimos de imediato para o insulto. Não se podendo atacar a ideia, ataca-se a pessoa, para descredibilizar a ideia.

E tem muito a ver com algo que já abordei anteriormente neste artigo: https://www.antonio-pinheiro.net/analfabetos-que-sabem-ler-e-escrever/

E tudo porque encaramos uma opinião diferente da nossa como uma agressão, um insulto, algo pessoal. Somos incapazes de aceitar e lidar com a diferença. Metemos a faca nos dentes e partimos ao ataque.

Eu próprio me penitencio.

Por isso, o presente que gostaria de receber neste Natal seria uma consciencialização colectiva de Tolerância e Respeito pelo Outro, enquanto ser Diferente e Único. Tanta coisa seria melhor se percebêssemos que os Outros são diferentes e não podem ser iguais a nós; se percebêssemos que é esta Diferença que enriquece o Ser Humano. Viveríamos mais felizes, tranquilos e em verdadeira Paz.

É este o meu desejo para este Natal e o meu maior propósito para o Novo Ano.

Feliz Natal, Amigos!

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.