António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.
Category Archives: Poesia e prosa
Ladaínha
A honra das pessoas (ou a falta dela)…
vê-se pelas atitudes que tomam e pelas que não tomam;
vê-se pelo respeito (ou falta dele) que têm pela pessoa humana, até na hora da morte;
vê-se pelo respeito (ou falta dele) para com os adversários;
vê-se pela forma como dizem a verdade (ou como mentem);
vê-se pela forma como assumem (ou não) os seus erros;
vê-se pela forma como assumem os louros pelo sucesso dos outros;
vê-se pela ostentação de um riso cínico;
vê-se pelo clientelismo;
vê-se pela difamação;
vê-se pela cobardia do anonimato;
vê-se pela hipocrisia;
vê-se pela usurpação;
vê-se pela vitimização;
vê-se pela ignorância;
vê-se pela sobranceria;
vê-se pela arrogância;
vê-se pelo despotismo;
vê-se pela ética (ou falta dela);
…
E fica tanta gente com dívidas à honra…
Chegou o meu livro!
“Uma Comédia Pouco Divina” e uma compilação de poemas, contos e outros textos que relatam história de amor reais e abstractas, vividas entre o prazer e a dor, entre a felicidade e o desespero. Fala também das lutas de cada um de nós consigo próprio e com o Mundo.
Para comprar: http://www.bubok.pt/libros/2283/Uma-comedia-pouco-divina
Jura
Ia jurar que o Tempo parou de correr.
Ia jurar que a Terra parou de girar.
Ia jurar que seríamos o último homem e a última mulher.
O Princípio e o Fim de tudo.
Ia jurar que o teu Amor era o meu Ar
Ia jurar que os teus Olhos eram a minha Luz
Ia jurar que o teu Coração era o meu Coração.
O teu Corpo o meu Corpo.
Ia jurar que te amei desde sempre
Ia jurar que serias tu todos os rostos
Ia jurar que seriam teus todos os lábios
Uma Mulher, todas as Mulheres
Mas jurarei mover o Tempo
Mas jurarei mover o Mundo
Serei o teu Ar, a tua Luz e o teu Coração
Amar-te para sempre
Requiem dos vencidos
A dor era suave
Profunda
Sentida nas mais escondidas entranhas
De um corpo cansado.
Derrotado.
Pela luta de uma guerra
Que já era perdida antes de declarada.
Doía lentamente
Surda
Mas mortífera.
Corria o sangue
E os corpos tombavam
Antes da dança dos gatilhos.
Estilhaços rasgaram
A última hoste
A última guarnição
O último baluarte
Da vitória que nunca viria
Da vitória que nunca existiu
A não ser nos loucos sonhos
De tão loucos soldados
Que loucamente acreditaram
Que a loucura seria lei
Vencidos procuravam palavras
Que pintassem aquela dor
Com uma cor mais real
Quiseram cinzelar na rocha
Cada esgar, cada gemido, cada lágrima
Eternizar nos mais perfeitos acordes dissonantes
Cada som de uma loucura banhada em suór
E lutaram
Mesmo depois da derrota
Mesmo sem adversário
Contra moinhos de vento
Contra eles próprios
E aniquilaram-se
Definitivamente?
Para sempre?
Ou até uma nova traição dos sentidos
Que declarasse uma nova guerra
Novas batalhas
E sangue?
Haveria mais sangue para correr?
Ou estariam os corações secos e vazios?
Secos… vazios… mas pulsantes
E rendidos à traição
Entregavam-se à luta
Sabendo sempre
Que só pode haver um resultado
A derrota…
Para que tudo comece…
Para que tudo recomece…
Onde?
Não havia maneira de aquela noite arrefecer. O calor que, depois de um dia tórrido, vibrava ainda nas paredes, trazia ao meu corpo as memórias da nossa última noite. Uma noite com um dia de intervalo, para o meu corpo recuperar forças e para o meu coração recuperar a saudade.
Recordei cada centímetro da tua pele, cada olhar de ternura e paixão, cada gesto de entrega e partilha que só tu sabes criar.
Recordei a dança do teu cabelo e a força com que os teus braços me prenderam.
A noite não arrefecia e era eu que ficava cada vez mais quente. Desejo, amor, saudade… E eu ficava desperto, à tua espera…
Procurei-te no firmamento e calculei que não fosses tu a tímida estrela que brilhava sobre os montes.
Procurei-te no horizonte, ainda pintado pelo rubro do sol que se afasta.
Procurei-te na escuridão, mas o teu sorriso já mais se ofuscaria no breu.
Então, onde estarias tu?
Olhei para mim e vi-te finalmente.
À noite…
O teu nome é entoado pelas estrelas
Na lua o teu rosto é uma pintura
A noite é escultura do teu corpo
Estranha paz
Que a solidão da tua ausência evoca
E apenas memórias
Me fazem sentir-te em mim
E são as galáxias
Acordes de sinfonias sublimes
Vibrantes na perfeita inspiração que é amar-te
É já uma Fé este Amor que me prende a ti
Este prazer que sinto perdido
Queda livre em num mágico céu
Infinito e interior a dois seres
Dançantes ao ritmo da carne
Sente o cheiro da relva que nos embala
Sente o perfume das flores que beijas
Sente a minha mão que te leva
Por viagens irracionais
Por noites de sol radiante
Tão perto…
Encontrei-te perdida numa noite em que o tempo parecia ter parado.
Encontrei-te num rosto de mil faces, que entre metamorfoses de sonhos, me dizia que a madrugada era a tua mão.
O cansaço abriu-me o espírito para te conduzir ao meu mundo.
Falei-te de beijos, de sorrisos, de suor e de palavras desconexas e despidas de significado.
Foram horas em que construi para ti o palácio onde agora habitas.
“Entra… estás em casa…”
E ao dar aquele primeiro passo o teu corpo tremia.
Precisavas de uma mão que te conduzisse, que te dissesse que ali só tu serias soberana.
E houve uma mão que te levou a um beijo tão doce e tão profundo que, quando as bocas se separam, tinhas levado todo o ar do corpo que abraçavas.
Agora era eu que tremia. Tremia com a ansiedade de aprisionar o teu olhar no meu coração. Tremia com a vontade de guardar cada centímetro da tua pele no toque dos meus dedos.
Deste-me tudo isso e muito mais. Deste-me o que não pedi, o que nem sequer sonhava possuir.
E depois de te encontrar, agora tão encontrada, agora num único rosto, agora numa única metamorfose vivida a dois, adormeci tão longe da noite e tão perto da madrugada.