António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

Porque Tu és Tu

Fevereiro 23rd, 2011

Não te posso ver sofrer
Não foi para isso que os Deuses te enviaram

Desenharam-te bela
Sublime
Inatingível
Para um fim maior que habita os teus sonhos

Colocaram-te espinhos nos pés
Apenas para que mostres
Tudo o que de heróico brota de ti…

Quebro e desfaleço
Ao ver-te quebrada e desfalecida

Não…

Não deixes que a dor do Mundo
Se apodere do que é teu
Respira fundo, fecha os olhos
Vê o que a vida te deu

As lágrimas no teu rosto
são apenas um ponto de partida

Tens Arte, Amor, Magia
Em cada gesto que remexe o ar
És Deusa, Musa, Princesa
Diamante a brilhar

Tens um poder infinito
De mudar a noite em dia
Acender estrelas, aquecer o sol
És Mestre de Alquimia

Não há palavras que te cortem
Porque revesti-te de um Amor
Onde as lâminas quebram
E as balas de dissolvem

E caio perante ti
Rendido ao Universo
Que é o teu ser
Divino
Superior

Luta, porque tens armas!
Acredita, porque tens Fé!
Sofre, porque também é preciso!

Mas não desistas…
Não te rendas
Mostra ao Mundo, porque Tu és Tu!

Foi uma viagem

Fevereiro 22nd, 2011

Foi uma viagem
Em que me guiaste pela mão
Mostraste que o Mundo
Vai para além da razão

E subi a um altar
Que jamais tinha sonhado
Num corpo perfeito e branco
Com estrelas tatuado

Falei com os Deuses
Que me levaram até ti
Pintei na minha pele
A magia que na tua conheci

E deixei-me cair
No abismo que eu criei
Belo, terno e profundo
Pelo Universo viagei

E foi num lençol puro
Pelos anjos tecido
Que senti o doce aroma
De um  fruto proibido

Foi o teu abraço
Foi o teu calor
Que me inundou o corpo
Com a dor do amor

Avé Mundi Luminare!

Fevereiro 13th, 2011

Não…
Não vale a pena o esforço, o trabalho, a dedicação, o suor. Bastam as palavras certas, na hora certa. Basta a hipocrisia e a mentira. Basta o cinismo. E aí vêm os aplausos!

Urra!!!

Para quê o estudo? Para quê querer evoluir a cada dia? Para quê a entrega? Basta contares uma história, muito bem contada. Convences meia-dúzia de otários, que se rendem ao teu brilhantismo intelectual e tens o Mundo nas mãos.

Yupi!!!!

Esquece a competência. Esquece o mérito. Esquece o carácter. Basta sorrires com a tua falsa humildade. Basta saberes seres vítima da tua própria burrice. E terás o teu pedestal.

Hey!

Não procures ser o melhor, porque serás sempre o pior. Mas isso não importa. O que importa é que, mais uma vez, toda a gente caiu na tua cantiga e, mais uma vez, sais em ombros pela porta grande.

Olé!

Afinal, foste tu quem secaste toda a competência ao teu redor. Afastaste com um toque de génio todos aqueles que eram melhores que tu para que o ceptro do poder de caísse no colo.

Yes!

Ficaram os descerebrados, os fracos, os indiferentes. E agora és o rei revestido com manto de outro.

Ah!

Ó Glória que tanto desprezas quem luta e recais impunemente sobre os soberbos!

Ah?

O melhor é desistir… Deixá-los continuarem a enganar-se a si próprios, porque um dia a maquilhagem vai secar. E vão-se ver as rugas, as chagas, toda a podridão que reveste aquela carne seca que agora ninguém vê.

Hmmm….

Para já tudo é belo e sublime. Por fora e para fora, porque isso é que interessa.

Ufff….

Se chegaste onde chegaste calcando tudo e todos, isso ninguém precisa saber… até porque é mentira, porque desde há muito que a única verdade que existe foi a mentira que criaste.

Grrrrrr….

Continua no teu mundo pequenino, pequenino, pequenino… triste, triste, triste. Não. Minto. Grande, grande, grande! Feliz, feliz, feliz!

Parabéns a você…

Fevereiro 6th, 2011

Naquela tarde, Catarina chegou a casa mais cedo do trabalho. Nessa noite iria com o marido, Gonçalo, jantar a casa da irmã dele, Dulce, para celebrarem o 5º aniversário do seu sobrinho, o pequeno Jorge.

Catarina adorava o pequeno Jorge. Para além de se darem muito bem e de Catarina ser a melhor parceira de Jorge nas suas brincadeiras, muitas vezes incompreendidas pelos outros adultos, via nele a esperança do filho que ainda não alcançara. Por isso, decidiu tomar um bom banho e preparar-se dignamente para a festa.

Arranjou-se. Não ia formal, mas apresentava-se num “casual cuidado”.

Estava a terminar quando o marido chegou.

Preparou-se psicologicamente, pois Catarina era quase totalmente incompatível com a família de Gonçalo.

Mas, nem de longe, nem de perto, Catarina imaginava o que lhe iria acontecer.

Após tocar a campainha, a porta é aberta pelo pequeno Jorge. Sorridente, saltitante e entusiasmado com a quantidade de prendas que aquela noite prometia.

“Parabéns!”

A alegria e o entusiasmo inicial são rapidamente cortados por uma visão.

Dulce, a mãe do aniversariante, está vestida como se fosse iniciar a limpeza da casa.

Família 1 – Catarina 0

Acto contínuo, Catarina reconhece a voz familiar de Mafalda, uma amiga de Fernando (marido de Dulce) que ela não suporta. Fala sempre com a voz colocada, sotaque quase lisboeta, suborna Jorge com presentes.

Família 2 – Catarina 0

Mafalda agarra-se ao pequeno Jorge e nunca mais o larga.

“Bora lá jantar!”

Frango estufado com um arroz horrível, sendo que a quantidade era manifestamente insuficiente para o numero de convivas.

Família 3 – Catarina 0

Catarina lá faz o esforço para engolir o frango.

Prepara-se para a primeira garfada quando ocorre este diálogo:

– Porque é que o Jorge está a beber esse sumo?

– Para fazer cócó. Já não faz há dias!

– Ai faz faz! Ainda fez em minha casa este domingo e fez bastante!

Isto seguido da descrição da cor e textura do cocó…

Família 4 – pinheiro 0

O pouco apetite de Catarina desvanece-se.

Chega um casal de primos.

Ela é daquele tipo de pessoa que emite opinião sobre tudo e mais alguma coisa, mas no fundo, não percebe de nada.

Entra em discussão com Mafalda.

Discutem cinema francês.

A “prima” detesta.

Mafalda adora.

Mafalda declara que Godard é o melhor realizador de todos os tempos e que quem não gosta ou quem não vê Godard é ignorante.

Família 5 – Catarina knock out:

“Gonçalo, eu vou embora, espero por ti no carro”

No caminho para casa, Catarina pensava “se eu ficasse dentro daquela casa, mais um minuto, explodia”.

 

Travessia

Fevereiro 4th, 2011

– Tens muita fome?

– Nenhuma.

– Eu também não.

– Vamos passear um pouco…

Embalados pelo mar, caminhamos lado a lado, como a estrada nos levasse ao infinito. Eu contava-te quem sou e as minhas histórias faziam-te rir. E o teu sorriso fazia-me amar-te.

Precisava de mais. De sentir nos meus lábios o teu sorriso.

Embalados pelo mar, matamos a saudade e reduzimos a infinita distância das nossas vidas a um beijo que teve tanto de doce, como de salgado; um beijo que resumiu a alguns minutos as histórias que te faziam rir.

Depois veio o silêncio.

Embalados pelo mar, ali ficamos e o silêncio transformou-se em música… aquela música que tanto nos fez perder entre suores e paixões, nas noites de um Verão não muito longínquo.

Um beijo.

Embalados pelo mar, voltamos à estrada que nos levava ao infinito.

“Are you ready for the blues?”

Janeiro 30th, 2011

Acordei, naquela manhã, com a memória da noite em que os teus olhos me encheram de sons.

Acordei sentindo nos lábios o sabor da tua música.

Acordei ouvindo na pele o toque das tuas mãos…

E de novo fui absorvido pelos acordes que nos uniram, naquele noite tão nossa.

Fechei de novo os olhos para de novo encontrar-te e dizer-te, mais uma vez, que te amo.

Um instante de demência

Dezembro 14th, 2010

Há um pensamento dentro de mim.
Pentrado
Profundo

Não me deixa sentir
Nem dormir
Agoniza prisioneiro

E não há armas
Que o libertem
Do medo que o oprime

Virá a luz e o sol
Dizer-me que a liberdade
Não tem apenas um sentido

Será dor
Ou prazer
O turbilhão dentro de mim

Mas grito
Ao Universo distante
Pelos meus medos infinitos

Grito por ti
Que te arrastas pela lama
Vendo o sol por trás das nuvens

Não há estrelas
Nem céu
Apenas sangue

E tu insistes no martírio
De golpe em golpe
Até ao sacrifício final.

Na beira da estrada

Novembro 30th, 2010

O nevoeiro tornava misterioso o destino daquela viagem. Na escuridão procurávamos abrigo, do frio, da noite, do Mundo.

Encontramos na beira da estrada, esquecido naquele deserto triste e frio.

E bastou um beijo, para que o meu coração fosse inundado pela ternura quente do teu amor.

Desejei amar-te como nunca te amei.

Amei-te como nunca te amei.

Vivemos cada segundo daquela noite irrepetível, como sendo o primeiro e o último.

Senti-te tão minha, tão dentro de mim, que te abracei como se quisesse ficar imortalizado naquele gesto.

E voltei a amar-te.

Nasceu o dia quando os meus lábios tocaram a tua pele e suavemente te trouxeram ao Mundo.

E ali ficamos, na beira da estrada, abrigados do frio, da noite, do Mundo.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.