Apareci no local do costume. À hora de sempre. Estavas atrasada… era normal, chovia e o trânsito era caótico.
Abriguei-me como pude debaixo de um velho toldo de uma loja falida. Um vulto… não, não eras tu.
Cinco, dez minutos. O telemóvel chamava, chamava, mas do outro lado ninguém atendia. Será que te tinhas esquecido dele em casa? Estaria em silêncio? Ou, simplesmente, o barulho da chuva abafava o ruidoso toque?
Quinze, vinte…
Entrei no café. Estava encharcado até aos ossos.
Vinte e cinco, trinta.
Olhei para o telemóvel com vontade de o desfazer. Nem um sinal. Lá fora, os zombies continuavam a correr para as suas vidas patéticas, enquanto a minha corria para o fim.
Trinta e cinco, quarenta.
Decidi que era altura.
Peguei na arma. Disparei mesmo antes de dizeres “desculpa”.
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.
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Adeus (2)
Aquela era a hora.
Os astros o diziam.
O vento cantava.
A estrada pela frente.
Sabia que o dia viria.
Desde o início.
O dia do adeus.
Um adeus tão triste quanto feliz.
Um adeus que partia um coração em dois.
Respira.
Olha em frente.
Avança.
Adeus…
As flores
Quando a dor o fustigava e olhava impotente para as feridas que o matavam, encontrou um jardim.
O suave aroma daquelas flores, rapidamente, o fez esquecer que sangrava, amenizou-lhe a dor e pintou um novo sorriso no seu rosto.
Deliciou-se com o calor daquelas pétalas. Colheu-as apenas com o olhar, pois nada o faria arrancar tal candura àquela terra.
Agradeceu sorrindo e tornou-as suas.
(dedicado à Filipa, à Mafalda, à Rita e à Sara )
Sempre
Mesmo quando habitamos planetas diferentes.
Mesmo quando os nossos relógios marcam horas opostas.
Mesmo quando caminhamos sob diferentes sóis.
Mesmo quando os nossos sorrisos estão invertidos.
Mesmo quando amamos com outros corações…
Guardei um beijo…
Era já noite alta quando me procuraste.
Vieste como se fosse dia e, sem dizer mais nada, entregaste-me um beijo.
Era um beijo com um sabor único, temperado pela saudade e pela dor profunda de estarmos longe.
Recebi-o.
Guardei-o.
E, quando acordei, senti-o.
Ecos da Solidão
Pensava eu estar no meio de tanta gente, mas a multidão era o deserto.
Todos me abandonaram, deixando-me nas mãos do acaso e daquilo que a Fortuna quis fazer comigo.
Espancaram-me, feriram-me, sangraram-me e eu nunca virei a cara à luta.
Quando me julgavam morto, apareci no meio deles e de imediato a Morte atingiu-os sem piedade. Libertei-me, enfim, das garras da solidão.
Caminhei por cima dos cadáveres daqueles que me condenaram, espezinhando as vísceras, os ossos e o sangue daquela gente abjecta.
Limpei o mundo da podridão e descobri que só eu, apenas eu, poderia continuar aquela demanda infinita.
Não sei
Não sei
Que música ouvir
Que filmes ver
Que perfumes sentir
Que livros ler
Que muros subir
Que mundos conhecer
Que portas abrir
Que estradas correr
Que vidros partir
Que barreiras vencer
Não sei
Por onde andar
Viajar
Dançar
Quando tu não estás
E eu fico louco
E nada faz sentido
?
O barmanemes capo-mà neneruné getefu qomdete sandageti.