António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Inspiração Divina” – Joaquim Coelho Lima

Julho 9th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Para quem acredita em Deus, esta marcha faz juz ao título.

E este texto poderia acabar aqui.

“Inspiração Divina” é aquela roupa que os nossos pais nos deram, mas só podemos usar ao Domingo.

É aquele brinquedo que fica guardado para não estragar.

É uma marcha que devia vir com o aviso “Não tentem isto em casa e sem a supervisão de um adulto responsável.”

“Inspiração Divina” é a marcha que mais vezes vi a quase “cair”.

Tem tanto de bela como de difícil e, principalmente, arriscada. É muito arriscado tocá-la em movimento com todo o “ruído” à volta de uma procissão.

Melodicamente, é quase um fado, é a devoção minhota na sua mais pura essência.

Em suma, é daquelas coisas que nós, filarmónicos, temos o privilégio de tocar e devemos fazê-lo com toda a solenidade.

E agora, as notas históricas…

“Família de industriais da área têxtil, os Coelho Lima foram fundadores das empresas “COELIMA – Indústrias Têxteis, S.A.” (em 1922) e “LAMEIRINHO – Indústria Têxtil, S.A.” (em 1948) empregadoras de milhares de famílias no concelho de Guimarães.

No plano cultural, o patriarca desta família – Manuel Martins Coelho Lima – foi o fundador da Sociedade Musical de Pevidém, em 1894, tendo sido regente (ou maestro) da banda desde a sua fundação e até 1928. O seu filho Albano Martins Coelho Lima foi maestro da banda entre 1929 e 1931, tendo depois sido Presidente da instituição durante longos anos. Joaquim Martins Coelho Lima, também filho do fundador da S.M.P., exerceu a função de maestro da banda entre 1960 e 1969, tendo igualmente presidido à instituição.

Albano de Abreu Coelho Lima foi Presidente da Sociedade Musical de Pevidém desde 1988, bem como seu benemérito durante todo esse período, tendo sido atribuído o seu nome à Academia de Música da Sociedade Musical de Pevidém, criada em 2016.”

Como não podia deixar de ser, aqui fica na interpretação da Banda de Pevidém, dirigida por Maciel Matos, num registo Afinaudio.

“Saudação a Mateus” – Fernando Costa

Julho 8th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

 

Na actualidade, a variedade de compositores a soltarem marchas para as nossas cadernetas é grande. Aliás, é por este género de escrita que muita gente se inicia nas lides da composição.

No entanto, em 1993, quando comecei a contactar com a realidade do trrrau – tau – tau – tau – trrrau, dois nomes, com o mesmo apelido, dominavam as marchas que eram executadas em entradas, arruadas e despedidas: Fernando e Ilídio Costa.

“Saudação a Mateus”, de Fernando Costa, foi a primeira marcha que “toquei”. Num sábado à tarde, nas célebres aulas na Sociedade Filarmónica de Crestuma, o sr. Rufino, nosso professor, desafiou o pessoal a pegar nos instrumentos. Eu ainda não tinha instrumento, andava apenas no solfejo, fui para o bombo (e foi o início de uma linda amizade). Estavam por lá alguns colegas mais experientes e ajudaram-nos a tocar a esta marcha.

Curiosamente, tempos mais tarde, quando desfilei pela primeira vez, com uma caixa pendurada ao pescoço, foi precisamente esta marcha a ser tocada.

Apesar de sentir que é uma marcha que, pela sua simplicidade, algumas bandas terão “vergonha” de tocar, tem um grande valor emocional para mim e, por isso, quando há uns anos, na Banda de Souto, o Manuel Luís Azevedo a recuperou para as cadernetas fiquei tão feliz como se fosse tocar a 9ª Sinfonia de Beethoven.

Aqui fica na interpretação da Banda de Golães, dirigida por Filipe Silva.

Vídeo de Damião Silva.

“The Stars and Stripes Forever” – John Philip Sousa

Julho 7th, 2021

CLASSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Andamos há tanto tempo a falar de reportório filarmónico e ainda não tínhamos chegado àquela que será, eventualmente, a marcha militar mais conhecida e tocada em todo o Mundo e que em Portugal proporciona um divertido trocadilho gastronómico.

“The Stars and Stripes Forever” é o nome da bandeira dos EUA e o título da famosa marcha, composta a bordo de um transatlântico, no dia de Natal de 1896. John Philip Sousa acabara de saber da recente morte de David Blakely , o empresário da sua Banda. Compôs a marcha mentalmente e colocou as notas no papel ao chegar aos Estados Unidos.

Foi estreada no Willow Grove Park, nos arredores da Filadélfia, em 14 de maio de 1897, e imediatamente recebida com entusiasmo.

Seguindo um Acto do Congresso dos EUA em 1987, foi oficialmente adoptada como a marcha nacional dos Estados Unidos da América.

Historicamente, no mundo do espectáculo e particularmente no teatro e no circo, esta peça é chamada de “Marcha do Desastre”.

No início do século 20, quando era comum que teatros e circos tivessem bandas residentes, essa marcha era um código tradicional que sinalizava uma emergência com risco de vida. Informava subtilmente o pessoal sobre situações de emergência, permitindo que a saída do público fosse organizada, sem causar o caos e o pânico. Portanto, a marcha só seria executada nestes espaços, em situações extremas como foi o caso do incêndio do circo Hartford em 6 de julho de 1944.

John Philip Sousa escreveu uma letra para a marcha, apesar de ser muito menos conhecida do que a marcha em si.

O resto toda a gente sabe. As “Tripas a Ferver” ouvem-se em todo o lado, em todas as circunstâncias e, obviamente, as bandas não poderiam escapar, ou não corresse sangue português nas veias do compositor.

“The Stars and Stripes Forever”, de John Philip Sousa, na interpretação da Banda de Tarouquela, dirigida por Carlos M. Melo. Vídeo de Damião Silva.

 

“Alegria no Arraial – Rapsódia n.º 8” – Ilídio Costa

Julho 6th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Terceira Temporada – “Qual é que vai?”

Hoje em dia, vamos às festas e ouvimos sempre as mesmas rapsódias.

Na altura em que comecei a tocar, há quase trinta anos, havia mais variedade.

Agora também há, mas na época as bandas diversificavam mais o seu reportório neste género, parece-me…

Uma rapsódia que toquei muitas vezes na Sociedade Filarmónica de Crestuma e que eu acho muito bem conseguida, a nível melódico e orquestral, foi a n.º 8 de Ilídio Costa, “Alegia no Arraial”.

É diversificada em temas, substituindo o tradicional “fado” central por uma “barcarola”,  com uma das melhores “chulas” que conheço e finalizando com um “corridinho” impressionante.

Se algum amigo maestro tiver isso em arquivo, por favor, toque, grave e partilhe muito.

Depois de muita pesquisa encontrei apenas e só esta gravação da Banda Recreativa de Bucelas, sob a direcção do Maestro Luis Fernandes dos Santos, dividida em dois vídeos:

 

 

“Abba Mia” – Luis Cardoso

Julho 5th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Terceira Temporada – “Qual é que vai?”

 

Depois de anos a levarmos com o ABBA Gold (e do ABBA Gold a levar connosco… coitado), surgia finalmente um medley de canções dos ABBA orquestrado à medida das nossas filarmónicas.

É verdade que as canções dos ABBA ajudam. São composições uns níveis acima daquilo que são as simples canções pop. Ricas do ponto de vista melódico, apresentam sempre várias camadas sonoras, o que dá para distribuir jogo pela banda toda. E depois há o talento do Luis Cardoso para estas coisas, mostrando que é um compositor / orquestrador completo.

Os seus arranjos de música ligeira são tão bons que já sabemos que são bons antes de os tocarmos.

E também sabemos que são bons ao tocarmos. Lembro-me de, aqui há uns anos, estar a tocar isto e as lágrimas caírem-me pelo rosto, num concerto memorável da Marcial de Fermentelos, em Espadanedo, Cinfães.

A primeira vez que ouvi a obra foi, precisamente, no concerto que abaixo partilho. Banda de Vilela, sob a direcção de José Ricardo Freitas, ao vivo na Casa da Música:

 

 

“La Boda de Luis Alonso – Intermezzo” – Gerónimo Gimenez

Julho 4th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Terceira Temporada – “Qual é que vai?”

A peça favorita para os clarinetistas brincarem com o registo grave. Se tiveres na mão um clarinete baixo, melhor ainda.

“La Boda de Luis Alonso” ou “La noche del encierro” é uma zarzuela de um ato, dividida em três quadros, em verso, com música de Gerónimo Giménez e libreto de Javier de Burgos. Estreou no Teatro de la Zarzuela em Madrid, a 27 de janeiro de 1897.

Este intermezzo é, provavelmente, o pedaço de música instrumental mais famoso de toda a história das zarzuelas.

É encore quase obrigatório lá para os lados de Madrid e uma boa espanholada para rebentar num coreto aqui para os lados de Portugal. Daquelas obras pequeninas que fica bem em todo o lado e a todo o momento.

Aqui fica numa interpretação cheia de “salero” da Banda de Vilela, dirigida por José Ricardo Freitas.

Voltaremos a Gimenez, daqui a uns tempos, para falar da “La Torre del Oro”.

“Capricho Italiano” – Tchaikovsky

Julho 3rd, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

Terceira Temporada – “Qual é que vai?”

“Obra que eu gosto mesmo de ouvir numa banda é o Capricho Italiano! Quem tocar o Capricho Italiano, a mim, deixa-me satisfeito!”

Disse-me uma vez, o meu tio Zeca, grande apreciador de bandas, com incontida emoção. O meu tio Zeca levantava-se de madrugada para “apreciar a entrada das bandas”.

Lembro-me que nesse dia “discuti” com o meu tio Zeca, pois estava na minha fase “as bandas não devem tocar transcrições.”

As pessoas mudam, amadurecem e, de facto, apesar da imensa dificuldade, o Capricho Italiano, quando bem tocado, resulta.

Aliás, a escrita sinfónica de Tchaikovsky, normalmente, resulta nas bandas.

“Já completei os esboços de uma fantasia italiana fundada em melodias folclóricas, para a qual acredito que pode ser prevista uma boa fortuna. Será eficaz, graças às melodias deliciosas que consegui reunir, em parte de antologias e em parte dos meus ouvidos nas ruas.”

…disse o próprio em carta à sua amiga e patrona Nadejda von Meck.

Inicialmente intitulado de “Fantasia italiana”, foi originalmente dedicado ao violoncelista virtuoso Karl Davidov, e estreou em Moscovo a 18 de dezembro de 1880, com Nikolai Rubinstein à frente da Sociedade Musical Imperial Russa.

Aqui fica na interpretação da Banda de Revelhe – Fafe, sob a direcção do Maestro Paulo Pereira:

 

Parabéns, Sociedade Filarmónica de Crestuma

Julho 2nd, 2021

Ontem, 1 de Julho de 2021, esta instituição completou 100 anos.

Foi em Maio de 1993 que, timidamente, entrei naquela casa pela primeira vez. Em Novembro do mesmo ano tinha a minha primeira aula de percussão. Em Janeiro do ano seguinte o primeiro ensaio com a Banda. A 19 de Março de 1994, o primeiro concerto.

Por lá fiquei até Novembro de 2006. 12 anos durante os quais fiz amigos para a Vida e cresci como músico e ser humano. Orgulho-me do legado que deixei na Instituição mas, acima de tudo, do legado que a Instituição deixou em mim e que agora transmite ao meu filho Lucas e a dezenas de outras crianças.

A SFC, como tantas bandas do nosso país, é a porta de entrada para a formação cívica de muitos jovens. O cumprimento de horários, o honrar uma farda, o respeito pelas hierarquias e pelos mais velhos. O valor do acordar cedo, do trabalho duro, do espírito de grupo. O mérito de nos superarmos. A beleza da Arte.

A SFC tem sido uma fonte de músicos, maestros e professores para todo o país.

É frequente cruzarmo-nos por aí, em festas e romarias, em concertos, em conservatórios e outras escolas.

As duas frases que repetimos uns aos outros são sempre as mesmas:

– E daquela vez na banda de Crestuma?

– Um dia havemos de nos encontrar lá todos.

Parabéns à banda de Crestuma e a todos os que têm um bocadinho da banda de Crestuma no seu ADN musical e humano.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.