António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Fiel” – Ventura Cartagena Guirao

Julho 17th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

As minhas mais remotas memórias filarmónicas são marcadas por esta marcha de concerto. Tocava-se praticamente em todas as festas da Banda de Crestuma. Mais tarde ouvi-a também pela Banda da Trofa mas, tirando estas duas bandas, não tenho conhecimento de mais alguém ter tocado a “Fiel”.

Curiosamente, até há dias, quando fui procurar alguma gravação da mesma, achava que seria obra de algum compositor português perdido nas brumas da memória.

Mas não, o senhor Ventura Cartagena era espanhol (faleceu em 2021).

Alguém conhece a “Fiel”? Alguém se lembra de a ter tocado?

Digam coisas, pois tenho mesmo muita curiosidade.

 

“S. Martinho” – Carlos Marques

Julho 16th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

É verdade que sou apaixonado pelas marchas de procissão monumentais, aquelas de carácter imponente e solene, que duram 10 minutos e carregam sobre si o peso dos andores.

Mas, convenhamos… em dias de Verão, com temperaturas acima dos 30 graus, o alcatrão a queimar-nos os pés, a boca seca, o peso dos instrumentos, piso irregular, subidas e descidas… é uma penitência para a qual não temos pecados suficientes.

Vai daí, a “nova geração” de marchas de procissão mais curtas dá um certo jeito.

Carlos Marques consegue com o seu “S. Martinho” um belo compromisso entre imponência, solenidade, introspecção em menos de cinco minutos. “Less is more” e os músicos agradecem.

“S. Martinho”, na interpretação da Banda de Coimbrões, dirigida pelo Maestro José Alexandre, num registo Afináudio.

“Trivial” – Alberto Madureira da Silva

Julho 15th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Três perguntas rápidas:

  • Alguém ainda se lembra da “Trivial”?
  • Quem nunca tocou a “Trivial”?
  • Quem ainda toca a “Trivial”?

Antes do “Manuel Joaquim  de Almeida“, arrisco-me a dizer que esta seria a marcha de rua mais tocada em entradas, despedidas e “marcha em conjunto”.

Alberto Madureira da Silva, não sendo daqueles compositores com um espólio muito grande, consegue ter obras marcantes em diversas tipologias, populares e tocadas até à exaustão. E isso tem muito valor!

Partilho um vídeo do nosso amigo Damião Silva, no qual não se consegue ouvir a marcha toda, mas onde podemos matar saudades daquele ambiente de festa, que tão bem conhecemos.

Banda Marcial de Fermentelos, sob direcção de Carlos Marques (Balaú).

 

 

“Aguarela Popular” – Manuel Ribeiro da Silva

Julho 14th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Manuel Ribeiro da Silva deixou-nos um legado de 35 marchas militares e de concerto, 7 rapsódias populares, cerca de 40 números ligeiros, hinos, arranjos e outros.

De entre aquelas 7 rapsódias, há três que destaco: “Desfolhando Cantigas” (já aqui abordada), “Portugal a Cantar” e esta “Aguarela Popular”.

Se “Desfolhando Cantigas” é explosão, fulgor, gradiosidade, excitação,              “Aguarela Popular” traz consigo singeleza, pureza, uma certa humildade, sem perder o carácter festivo, dançante e colorido.

Aliás, arrisco-me a dizer que será a rapsódia que melhor combina a vertente mais melódica e cantabile, com a vertente mais rítmica e de bailarico.

Toquei-a diversas vezes na Sociedade Filarmónica de Crestuma. Tem um papel de triângulo que nos pode arrancar um pulso fora e aquele que, para mim, é o melhor “Malhão” das rapsódias portuguesas.

Interpretação da Banda dos Escuteiros de Barroselas, dirigida por Álvaro Barbosa de Sousa, num registo da Afináudio.

 

 

 

“Mornas e Coladeras” – Afonso Alves

Julho 13th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Ao contrário do que muita gente pensa e diz, as “Mornas e Coladeras” de Afonso Alves, não são um medley com temas de Cabo Verde.

Trata-se de uma obra inteiramente original, para a qual o compositor pesquisou, investigou e estudou durante três meses, tendo sido depois composta numa semana.

Tem um magnífico solo de clarinete que, segundo o próprio compositor, deve ser tocado, com a “ingenuidade e simplicidade de quem não sabe tocar”. Por isso, clarinetistas que enchem o solo de “reviangas” e glissandos e que até cometem o crime lesa-arte de o fazer à oitava superior, párem com isso. Se tiverem dúvidas, o compositor ainda é vivo, está contactável e é muito acessível e disponível.

Em Novembro de 2009, na Casa da Música, a Banda Fórum estreou uma versão com coro.

Lembro-me que, da primeira vez que toquei a obra, precisamente no dia em que conheci o Afonso, ele disse à percussão: “são livres de fazerem o que quiserem, mas lembrem-se que a linha que separa o ridículo do genial é muito fina”.

A verdade é que já toquei as “Mornas” dezenas de vezes com ele e nunca levei nas orelhas.

Aqui fica uma dessas “dezenas de vezes”. Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, ao vivo no Casino da Figueira da Foz, sob a direcção do próprio compositor. Eu sou o cromo sentado na bateria, mas há muita gente bonita a tocar.

 

 

“Persis” – James L. Hosay

Julho 12th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

 

Um dia sonhei que tocava oboé, fazia o solo da “Persis” e depois destruía o instrumento.

“Persis” (grego para Pérsia) é uma abertura-fantasia, que conta a história de um homem americano moderno que viaja no tempo até à antiga cidade persa de Persépolis.

Entra numa aventura selvagem e maravilhosa ao ser repentinamente cercado por uma arquitetura magnífica, grandes estátuas de mármore e belas obras de arte, numa das primeiras civilizações cultas conhecidas. Vira-se e vê uma bela mulher persa num pátio repleto de flores. É a mulher mais linda que já viu na vida, e está completamente cativado por ela.

Cuidadosamente aproxima-se dela e, milagrosamente, ela o reconhece como alguém que ela havia conhecido antes noutro tempo e lugar. Abraçam-se e compartilham um breve e feliz momento juntos. Mas sua presença no pátio real é proibida e ele é perseguido por guardas armados. Enquanto corre freneticamente pelos corredores da cidade,  reflete tristemente sobre o romance que poderia ter acontecido.

Tudo isto e um papel diabólico para xilofone.

Banda Quinta do Picado, dirigida por Bruno Martins.

 

“Orfeu nos Infernos” – Offenbach

Julho 11th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª temporada – “Qual é que vai?”

É verdade que esta rúbrica continua a surpreender o autor.

Coloquei o “Orfeu nos Infernos” na minha lista e, quando vou procurar gravações de bandas portuguesas no Youtube, surgem apenas duas. Mas, com todo o respeito pelas bandas que as protagonizam, achei que a qualidade não era a suficiente para a partilha.

Sendo uma obra tão tocada, é estranho haver tão poucos registos.

É o que é.

Por isso, recorro hoje à Banda da Marinha dos Estados Unidos, com uma orquestração bem interessante e ligeiramente diferente daquilo que estamos habituados a ouvir por cá.

Ópera burlesca de Jacques Offenbach, “Orfeu nos Infernos”é uma sátira ao mito de Orfeu.

«Orfeu e a sua mulher Eurídice não fazem uma típica vida de casal, estão cansados um do outro e, por isso, já nenhum deles é fiel aos votos do matrimónio. Enquanto Orfeu se encanta com as suas belas alunas, Eurídice jura amor a Aristeu. Depois de descoberta a traição e em prol da sua imagem, Orfeu prepara a morte do amante da mulher e esta corre para lhe contar os planos do marido… Aristeu (na verdade, é Plutão disfarçado) atrai Eurídice e toma o mesmo veneno que ela, em nome do amor. Ela morre e é conduzida por Aristeu/Plutão para o inferno. Orfeu fica feliz com a morte da mulher, mas, para seu desfortúnio, a opinião pública exige-lhe que a vá salvar.
Entretanto, no Monte Olimpo, os deuses exigem mais diversão e melhor comida.
Já no Inferno, em virtude de investigar a difícil situação, na qual se encontra Orfeu, o próprio Júpiter, disfarçado de mosca, apaixona-se por Eurídice. Na festa dos “olimpianos”, Júpiter consente que Orfeu recupere a sua mulher, desde que não se vire para trás no seu regresso. Mas Júpiter provoca Orfeu e este vira-se e Eurídice é forçada a permanecer no Inferno, como bacante.» (in: http://www.teatroaveirense.pt/evento_detalhe.asp?id=1608)

E pronto, está dado o mote para pôr as bailarinas dos cabarets a dar à perna.

Por cá, é mais uma que põe os coretos a abanar. Obra que marcou a minha “infância filarmónica” e que ainda está na estante da Banda Visconde de Salreu.

“O Cornetim do Mestre Alfredo” – Darlindo Duarte (orquestração de Amílcar Morais)

Julho 10th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Aqui há anos ouvi uma uma história engraçada sobre esta marcha de concerto.

– Não gosto desta marcha…

– Porquê?

– Tem um título feio!

– Muda para inglês!

 

“Master Alfred’s Cornet” ou “Master Alfred’s Bugle”

(não está mau, não senhor)

Tenho a impressão que o “Cornetim do Mestre Alfredo” já foi mais tocado do que é actualmente. Foi ultrapassado por composições mais arrojadas e impactantes, mas não fica nada mal para desenjoar do reportório que toda a gente toca.

Aqui na interpretação da Banda Nova de Fermentelos, dirigida por João Neves.

 

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.