António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Incógnita” – Ângelo Moreira

Junho 1st, 2021
(texto inicialmente publicado no Facebook, a 2 de Maio de 2021)
Este clássico é mesmo clássico. É daqueles lá do fundo da pasta, já com papeis amarelados.
Lembro-me do primeiro despique a que assisti, poucos meses antes do meu concerto de estreia. Setembro de 1993, Festa da Sra. dos Remédios, Seixo-Alvo. Banda de Lever e Banda de Paramos.
A dada altura, sai isto do coreto da Banda de Paramos. No quadro onde era apresentado o nome das obras: “Incógnita”.
E, durante anos, fiquei a pensar que ninguém saberia o título da obra e, portanto, passou a ser a Incógnita.
O autor desta abertura no estilo filarmónico clássico português é Ângelo Moreira, nada mais nada mesmo, que o Ângelo Moreira da Pérola 59.
Se alguém souber porque é que a Incógnita se chama Incógnita e há um 59 à frente da Pérola, partilhem. Quero mesmo saber.
Ah… aquele solozinho de trompete para fazer chorar as pedras do adro.
Sim, porque a esta hora já está o adro cheio de gente à volta do coreto.
É Domingo e esta obra soa mesmo a Domingo.
Sociedade Filarmónica de Vilarchão, dirigida por Eduardo Carvalho.

“Arco-Íris” – Duarte Pestana

Junho 1st, 2021
(texto inicialmente publicado no Facebook a 1 de Maio de 2021)
Série Pestana – Fantasia n. 2
Quanto a vocês não sei mas, para mim, bastava o Arco-Íris para decidir que Duarte Pestana era um génio da composição e orquestração.
1952.
Ano de composição desta grandiosa e complexa obra que, ainda hoje se reveste de actualidade.
Tocar isto, para além da exigência técnica, é um desafio interpretativo e de concentração.
Mas vale bem a pena, transpirar cada compasso.
Arco-Íris é tudo, é marcha, fado, jazz e rapsódia. É ingenuidade, amor, paixão, sofrimento e loucura. É Música para além da Pauta e Arte para além da Música.
Aqui na leitura do maestro Manuel Fernando Marinho Costa à frente da Banda Sinfónica do Conservatório de Música do Porto.

“Transfiguração” – António Almeida da Silva

Maio 31st, 2021

Texto inicialmente publicado no Facebook, a 30 de Abril de 2021

 

Hoje até está um dia lindo de sol, vamos à procissão?

Lembro-me da primeira vez que ouvi isto, no carro de um amigo músico que, infelizmente, já não está entre nós:
“Ah… que marcha de procissão gira… ui… isto é uma marcha de procissão? Parece uma balada rock aqui a meio…”
A seguir à “Invocação a Deus” esta deve ser a marcha de procissão mais tocada (a “Invocação” também mais antiga…).
Sei muito pouco sobre a marcha. A mesma está creditada a António Almeida da Silva, com harmonização de Amílcar Morais. E é verdade que soa bem a Amílcar Morais.
Se alguém puder dar algum contributo adicional sobre a origem da marcha, agradeço.
Fica aqui a “studio version” da Banda de Coimbrões, dirigida por José Alexandre Sousa.

“Ross Roy” – Jacob de Haan

Maio 31st, 2021

Texto inicialmente publicado no Facebook, a 29 de Abril de 2021

Olhando com uma certa distância para esta obra, acho que, em essência, não é nada de extraordinário. Mas teve um importante papel na altura em que caiu nas nossas estantes. Abriu as nossas mentes para outros tipos de música e outras sonoridades.
Antes de Ross Roy, Jacob de Haan já andava por aí disfarçado de Ron Sebregts, com os seus arranjos ligeiros, e em nome próprio com o famoso “Oregon”, que também chegou a ter bastante protagonismo em finais dos anos 90, inícios dos anos 2000.
Mas foi Ross Roy que nos fez perceber, de forma lapidar, que as bandas poderiam soar de outra forma, que não estávamos condenados a tocar transcrições para o resto da vida e que os naipes de percussão tinham que, forçosamente, começar a alargar em recursos humanos e materiais. Os tempos de caixa, bombo e pratos. Tinham chegado ao fim.
E, ainda hoje, o Ross Roy continua a ser “rompidinho”. Como outras peças já abordadas aqui, fica sempre bem e dá para preencher aquele espacinho antes da missa, ou da procissão.
Obra encomendada a Jacob de Haan pela “St. Peters Wind Symphony” de Brisbane, Austrália. “Ross Roy” é o palacete monumental de finais do século XIX onde o St. Peters Lutheran College foi fundado em 1945. O palacete sempre foi o símbolo da escola. Nesta composição, Jacob de Haan vê o “Ross Roy” como uma metáfora dos anos passados na escola (um monumento no tempo), onde se forma a personalidade.
“Ross Roy” aborda temas como a disciplina, a amizade e a multiplicidade de culturas da escola. Foi estreado a 22 de Agosto de 1997.
Aqui fica na interpretação da Banda Comércio e Indústria das Caldas da Rainha, dirigida pelo próprio compositor.

“Palha Blanco” – Afonso Alves

Maio 31st, 2021
Texto publicado originalmente, a 28 de Abril de 2021, no Facebook:
Hoje eu teria tanto, mas tanto para escrever… Vou tentar não dispersar.
A secção 2/4 desta obra é das coisas mais lindas jamais escritas para banda. Em Portugal e no Mundo. Há ali qualquer coisa na melodia, na harmonia, no ritmo, que me faz arrepiar de alto abaixo… Não sei bem o quê, não consigo descrever, mas quando chega aos compassos entre o minuto 2’09 e 2’14 eu viajo sei lá para onde… Aquilo “bate” de uma maneira…
Claro que sou suspeito, porque sou amigo e admirador do compositor, mas acho que pouca gente ficará indiferente ao “Palha Blanco”.
“Palha Blanco” é uma obra recente (15 anos) mas é e será um clássico.
Em 2006, realizava-se a primeira edição do concurso de Vila Franca e Afonso Alves recebia a encomenda para escrever a obra obrigatória da secção “Tauromaquia”. Nascia assim um dos mais belos e emocionantes pasodobles “taurinos” do Mundo. E não estou a exagerar. Ou, talvez esteja, mas a música é emoção e esta, em concreto, emociona-me.
Curiosamente, foi nesse ano que comecei a privar com o Afonso e, aquilo que começou por ser uma relação de Maestro-Músico, tornou-se numa relação de amizade que muito prezo.
Daqui a uns tempos falaremos de outra obra marcante de Afonso Alves mas, para já, fiquem com estas palavras:
“Compor é uma necessidade, é algo que faz parte de mim.
Preciso de respirar, alimentar-me, cuidar-me fisicamente e … compor.
Quando deixar de o fazer é porque uma parte de mim morreu.”
E aqui fica a música de Afonso Alves, pela Banda de Vilela, sob a batuta do José Ricardo Freitas:

“1812” – Tchaikovsky

Maio 31st, 2021
Texto inicialmente publicado no Facebook, a 27 de Abril, de 2021
“Abertura Solene para o Ano de 1812 op. 49”
Abertura de Concerto para Orquestra Sinfónica com Banda, Artilharia e Sinos.
Um dia tinha que ser… Vamos lá ganhar fôlego.
Porque é que as bandas gostam tanto disto?
A resposta deve estar nas duas primeiras linhas da partitura original de orquestra.
Banda.
As primeiras duas linhas são para “Banda”: instrumentação “aberta” que consiste em “quaisquer instrumentos de metal extra” disponíveis. Nalgumas apresentações em ambientes fechados, a parte pode ser tocada num órgão. Bandas militares ou marciais também desempenham esse papel. Nota: a banda de música ou seu substituto deve tocar apenas durante o final.
Não sei se quando Tchaikovsky incluiu este “acrescento” na sua partitura tinha a noção de que séculos mais tarde, o “1812” seria um hit nas bandas. E, como todos os hits, é muito mal tocadinho.
Mas, curiosamente, até acho que, na última década temos assistido a interpretações cada vez melhores do “12” em arraial. Mais equilibradas, menos gritadas, no fundo, com mais cuidado.
Mas também, o que podemos esperar de uma obra onde o bombo tem que mandar tiros de canhão? Onde temos que malhar no carrilhão até aquilo empenar? É inevitável.
Partilho a interpretação da Banda de Golães, dirigida pelo Filipe Fonseca.

“Manuel Joaquim de Almeida” – Carlos Marques

Maio 31st, 2021
Texto inicialmente publicado no Facebook, a 26 de Abril, de 2021
Eu acho que vamos todos morrer e os nossos filhos e netos continuarão a tocar esta marcha.
Quando esta marcha apareceu, foi algo tão diferente, que muita gente nem acreditava que era de um compositor português, de seu nome Carlos Marques.
Inovadora na estrutura, nas melodias, na orquestração… Tão boa, tão boa, que é tocada por “toda a gente”, à entrada, à saída e até em palco.
E é tão fácil marchar isto a 120… apesar de haver, por vezes, quem ultrapasse o limite de velocidade.
Agora… podemos falar de algo que eu abomino?
Aquele momento em que duas bandas, na despedida, tocam isto em conjunto e os músicos decidem “avacalhar” totalmente a marcha, incluindo o célebre acelarando no fim…
Ó pá… não… é do pior que há na “filarmonia”. Aliás, acho que nem se pode chamar “filarmonia” a isso.
Fica o desabafo.
Mais uma vez, partilho a Banda de Melres, sob a batuta do Professor Luís Macedo.

“Uvas do Douro” – Duarte Pestana

Maio 31st, 2021
Texto inicialmente publicado no Facebook, a 25 de Abril, de 2021
Série Pestana – fantasia n.º1
Tocar, ou ouvir, a música de Duarte Pestana é como ir a um bom restaurante, comer e beber bem, com direito a entradas, sobremesa e digestivo e, no final, também pagar bem. Um dia não são dias e, de vez em quando, é bom ser extravagante.
Duarte Pestana deixou-nos cerca de 175 composições registadas na SPA, para além de centenas de arranjos e muitos rascunhos inacabados.
“A primeira das suas composições, ‘Uvas do Douro’, composta em 1935, foi originalmente tocada pelos 4 irmãos e um primo, e destinada a acompanhar uma ‘teatrada’ realizada em Gouviães, que mais tarde reorquestrou para Banda da GNR e um arranjo simplificado para filarmónica de Gouviães.”
Aqui fica a leitura da Banda de Melres, dirigida pelo Professor Luís Macedo, com quem tive o privilégio de tocar na Banda Musical de Gondomar e iniciar os meus estudos de Direcção.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.