António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Vinho do Porto” – Ilídio Costa

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 10 de Maio de 2021)

Ora vamos lá dar entrada.
Os quatro primeiros compassos dizem tudo sobre esta marcha. Vigorosa, alegre, determinada e um êxito nas cadernetas de Norte a Sul.
Antes do “Manuel Joaquim de Almeida”, era aquela marcha curtinha ideal para as mais variadas situações e que dispunha bem, quer à entrada, quer à despedida.
Ilídio Costa costuma apresentar dois formatos de marcha. Aquele mais tradicional e longo, com secções de 32 compassos, salto ao S e um trio, com re-exposição em forte no final. E este mais curto, em que o forte final, imediatamente após da ida ao S, é repetido.
A variação dos clarinetes na última repetição é um bom estudo para escala de Fá Maior.
Pormenores técnicos à parte, esta é uma marcha mítica… até pelo próprio nome, que dá sempre aso aos trocadilhos habituais.
Banda Nova de Fermentelos, dirigida por João Neves

“Avé Maria” – Alberto Madureira da Silva

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 9 de Maio de 2021)

– Está a chover… a procissão vai sair?
– São umas pinguinhas… isto já passa…
2h depois… tudo encharcado.
Voltamos a Alberto Madureira, com a sua “Avé Maria”, marcha de procissão que faz sucesso tremendo entre os devotos:
“Sobre os braços daaaa azinheiraaaaa…”
De facto, a inclusão de um popular tema mariano na repetição final, faz as delícias daqueles padres mais papistas que o papa e dos fiéis da Virgem.
“A vossa Banda levou uma coça na procissão, porque a outra tocou a música de Fátima”, ouvi eu uma vez…
A verdade é que a marcha é uma linda inspiração de Alberto Madureira e, em boa hora, chegou às nossas cadernetas.
Banda de Coimbrões, dirigida pelo Maestro José Alexandre.
Bom Domingo!
(sem querer tirar mérito à qualidade da banda, aqui está um exemplo daquilo que considero ser um andamento demasiado lento na procissão…)

“Recordações do Passado” – Alberto Madureira da Silva

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 7 de Maio de 2021)

 

Cinfães deu (e continua a dar) grandes nomes à Música.
Com uma vida dedicada à filarmonia, como músico, maestro e compositor, Alberto Madureira da Silva é autor de algumas das obras mais emblemáticas do reportório filarmónico, nomeadamente marchas de rua e procissão e as suas deliciosas rapsódias, nas quais os temas, sempre conhecidos, fluem de forma natural e bastante agradável.
A pedido de “várias famílias”, para abrir este fim-de-semana, recordamos recordações.
“Recordações do Passado”, rapsódia que me traz memórias dos meus fins-de-semana de infância, ainda antes de ser músico, quando passava horas a ouvir música com o meu pai, na qual encontrava as famosas “Melodias de Sempre”.
Mais uma vez, José Ricardo Freitas e a sua Banda de Vilela numa exímia interpretação.
Bom fim de semana!
(é impressionante como não encontro um vídeo disto ao vivo, dado que tanta gente toca…)

“Abraço a Portugal” – Duarte Pestana

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 8 de Maio de 2021)

 

Série Pestana – Fantasia n.º 3
Hoje é sábado e abro uma excepção nos meu próprios critérios editoriais, mas é por uma boa causa. Para dar continuidade à “Série Pestana”, tive que passar por esta obra.
“Abraço a Portugal” (1953) é a terceira fantasia de concerto de Duarte Pestana, e não é propriamente daquelas obras que se ouça muito por aí (acho eu).
Portanto, primeiro aplauso para a Banda do Pejão por ter “arriscado” gravar esta obra, deixando este registo para a posteridade.
De acordo com a Tese de Mestrado de Hernâni António Petiz Figueiredo “A forma da Fantasia nº3 de Duarte Ferreira Pestana traduz-se, genericamente, na divisão dos temas. Cada um caracteriza uma região do país: Angola (pertencia a Portugal
na data de composição), Algarve, Ribatejo, Beira Baixa, Beira Alta, Trás-os-Montes, Douro e Estremadura. Desta forma, o compositor faz corresponder cada tema de uma região a uma secção da obra, originando 8 secções. Além destas, contabilizam-se mais três secções (uma correspondente à Introdução e mais duas correspondentes à Coda) perfazendo um total de 11 da secção A à secção K.”
(espero que não venha ninguém tentar censurar a obra por incluir Angola no território português)
Confesso que não conhecia esta fantasia e só me arrependo. Mais uma vez, estamos perante uma obra belíssima, de fino recorte orquestral e harmónico.
E esta interpretação da Banda do Pejão, dirigida por Francisco Moreira, merece o nosso aplauso.

 

“Una Noche en Granada” – Emilio Cebrian Ruiz

Junho 3rd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 6 de Maio de 2021)

 

Sempre que abordei reportório espanhol neste espaço, foi-me sugerido também falar sobre “Una Noche en Granada”, poema lírico de Emilio Cebrián Ruiz.
Não foi fácil encontrar no Youtube uma banda portuguesa a interpretar esta obra mas, em boa hora, surgiu-me na pesquisa a Banda de Riba de Ave, dirigida pelo maestro Hugo Ribeiro.
O meu primeiro contacto com esta obra terá sido em 1994/95, toquei-a vários anos na Banda de Crestuma e é algo que se ouve bastante por aí.
Intercala momentos de orquestração “fina”, expondo várias vezes os instrumentos solistas, sem rede (por exemplo, o solo de oboé acompanhado apenas pela caixa), com momentos de grande intensidade instrumental, mesmo “à espanhola”. Olé!
Parece fácil, mas é muito exigente para quem toca e quem dirige. Qualquer passo em falso pode criar situações desconfortáveis.
Mas resulta muito bem, mesmo em arraiais, obrigando o público a estar quieto e atento (coisa difícil…).
É uma obra à medida de maestros, músicas e bandas “com salero”. Pede alma, paixão e intensidade!
É realmente um poema.

“14 minutos no parque” – Ilídio Costa

Junho 1st, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 5 de Maio de 2021)

Outra obra emblemática do não menos emblemático Ilídio Costa são estes “14 minutos no parque”.
Qual parque?
Porquê 14 minutos e não 15?
Não sei, mas esta obra teve alta rotação nos idos anos 90. Quando comecei a conviver com músicos de outras bandas e perguntava “que ligeiros vocês têm?”, respondiam “14 minutos no parque.”
De facto, comparado com os “Momentos Menores” ou os “Ecos de Espanha”, será uma escrita mais leve, mas com o selo de qualidade Ilídio Costa.
Apesar de ser uma obra bem popular, toquei-a menos de meia-dúzia de vezes, a primeira delas, no meu primeiro “ganso”, na Banda de Avintes.
Aqui fica na interpretação da Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba, dirigida pelo Maestro João Neves.

“Português Suave” – Carlos Marques

Junho 1st, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook a 4 de Maio de 2021)

Todos reconhecemos que as rapsódias “à moda antiga” são inigualáveis, mas houve uma altura em que já estávamos fartos de terminar as festas com meia-hora de marchas, fados, viras e malhões, depois e termos passado todo o dia a “malhar”.
Por isso, quando ouvimos o “Português Suave” pela primeira vez, ficamos rendidos.
8 minutos, temas bem conhecidos do nosso imaginário, numa linguagem actual, por vezes swingada, outras vezes “rockada”, com a banda soar como uma big band, sem faltar a tradicional marcha final, com um flautim feérico.
Carlos Marques mostra-se nesta obra um exímio conhecedor da linguagem da música ligeira, fruto da sua experiência nesta área, nomeadamente nos 9 anos em que tocou trompete na Orquestra Ligeira do Exército. Aliás, para esta orquestra foi também compositor e, nesse reportório, há um tema chamado “Memórias I”. Procurem no Youtube e depois digam-me se reconhecem.
Por incrível que pareça, tive dificuldade em encontrar boas gravações disto no Youtube.
Por isso, novamente a Banda de Famalicão, dirigida pelo Manuel Fernando Marinho Costa.

“A Divina Comédia -1ª parte – Inferno” – Cesare San Fiorenzo

Junho 1st, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 3 de Maio de 2021)

Antes de Robert Smith, quando a malta das filarmónicas queria invocar os 9 Círculos do Inferno recorria a Cesare San Fiorenzo (e não Camilo, como se vê por aí, às vezes).
Compositor italiano, viveu entre 1833 e 1909 e ganhou notoriedade com suas inúmeras obras instrumentais e corais. As mais proeminentes no género dramático e sinfónico foram a ópera “O Taumaturgo”, estreada no Teatro Dal Verme em Milão em 1879, e a trilogia da “Divina Comédia”, inspirada em Dante.
A filarmonia portuguesa deteve-se n’ “O Inferno” e, em boa hora.
Obra monumental (que até já vi creditada a Carl Friedmann…), tem de tudo um pouco e puxa, como poucas, por todos os naipes da banda. É certo que a maior parte do pessoal concentra-se no violento e grandioso forte final, mas a obra tem outras secções interessantes, como a imediatamente anterior a essa, a imediatamente anterior a essa, a imediatamente anterior a essa… e por aí adiante até ao obscuro início com a melodia depositada nos graves.
Para tocar o Inferno é preciso Técnica, Força, Técnica com Força e Força com Técnica.
O Inferno é um “calhau” dos antigos, mas belo… muito belo.
Com esta obra tenho duas histórias engraçadas:
1º – Uma vez quase desmaiava durante a secção final. Calor imenso, coreto pequenino e baixinho, quando o maestro cortou a suspensão final eu já via tudo a andar à roda;
2º – Estava eu num “ganso” e sai o Inferno para a estante. Quer o Maestro, quer o chefe de naipe (meu amigo), mandaram-me para os pratos. Preparo-me para tocar e pergunta o colega do bombo: “conhece isto?”
Vi logo que a pergunta tinha rasteira e respondi: “Não.” (na altura já tinha o papel mais que de cor).
“Isto é complicado… sabe… e muito rápido.”
“Pois… eu fico atento…”
Quando a obra entra no final, o colega que estava tão preocupado comigo, meteu àgua de tal forma que fez naufragar a Barca de Caronte (se não sabem o que é a Barca de Caronte, não são dignos de tocar o Inferno).
No fim, pousei os pratos e conclui: “Pois… isto é complicado e muito rápido.”
Uma boa semana a todos e que esta segunda-feira não seja um Inferno.
Banda da Trofa, sob a direcção de Luís Filipe Brandão Campos.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.