António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Suspiros Maiatos” – Hermínio Santos Leite

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 31 de Maio de 2021)

Amigos,
Chega hoje ao fim a Primeira Temporada dos Clássicos Filarmónicos. Ao longo de praticamente dois meses, todos os dias, fui partilhando obras marcantes na minha “carreira” filarmónica que começou em 19 de Março de 1994.
Na escolha do reportório, contei com a colaboração do Hugo Rocha e do João Rocha.
Agradeço também o apoio técnico do Hugo Oliveira nalgumas publicações, nomeadamente no post sobre a “Boris Godunov”.
Uma palavra aos compositores Afonso Alves, Carlos Marques, Luís Cardoso, Nelson Jesus e Valdemar Sequeira pelo feedback (público e privado) que deram sobre as suas obras. Assim como aos maestros nos vídeos apresentados António Ferreira, Luís Macedo, Manuel Fernando Marinho Costa, Paulo Veiga, entre tantos outros.
Como não podia deixar de ser, um grande abraço para uma grande figura da nossa filarmonia, o senhor Damião Silva, responsável por grande parte dos vídeos publicados.
O meu último e mais importante agradecimento vai para todos os que reagiram e comentaram (em público e em privado) ao longo destes dois meses. Sei que há muita gente que acompanha a rúbrica diariamente, apesar de não se manifestar.
Não fiquem tristes, porque a segunda temporada começa amanhã. Com um tipo diferente de reportório, uma nova abordagem, para desanuviar um pouco. E porque, na filarmonia, também temos que olhar para o presente e para o futuro.
A terminar, deixo aqui um clássico “daqueles”. De um compositor realmente clássico. Acho que nunca toquei, mas foi uma obra sugerida várias vezes.
Orquestra Filarmónica 12 de Abril, sob a direcção de Luís Cardoso, com “Suspiros Maiatos” de Hermínio Santos Leite.

“Boris Godunov” – Mussorgski

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 30 de Maio de 2021)

 

Hoje fui buscar um calhau daqueles… Uma obra que, definitivamente, não é para qualquer um.
Citando um professor que tive na faculdade, esta obra “é como a lampreia, ou se ama, ou se detesta.”
Eu amo. Borro-me todo quando tenho que a tocar, mas amo.
Modest Mússorgski teve uma vida complicada. Dificuldades financeiras, doença psíquica e alcoolismo… muito alcoolismo. Aliás, o alcoolismo destruiu a sua carreira e a sua vida.
“Aos 29 anos de idade começou a compor Boris Godunov, sua ópera mais conhecida e uma das peças mais importantes da história da música russa, baseada no drama homónimo de Pushkin e na História do Estado Russo de Karamzin. Utilizando o ritmo da fala dos mujiques ao invés de melodias líricas; harmonias excêntricas porém expressivas, como a harmonia sacra eslava; e coros e personagens populares com papéis importantes, Boris Godunov causou grande polémica, sendo que a versão original de 1870 foi recusada. A estréia ocorreu no Teatro Mariinski em 1873, após diversas alterações feitas por Mússorgski e Rimski-Kórsakov, embora ainda tenha causado controvérsias. Após uma nova apresentação de apenas alguns trechos em 1878, a ópera deixou de ser encenada.”
Mussorgsky era semi-analfabeto enquanto músico. Era muito intuitivo. Ele não orquestrava, não sabia… As suas composições eram todas com redução de piano. E terá sido Korsakov quem orquestrou a ópera Boris Godunov.
Partilho hoje a melhor e mais completa versão que conheço para banda da Fantasia da Ópera.
O Maestro Hugo Oliveira pegou num arranjo já antigo e com uma instrumentação reduzida (nem flautas tinha) e modernizou-o, utilizando a partitura de orquestra como apoio. Aproveitando a escolha das secções da Fantasia já existente, adaptou e orquestrou para banda moderna. E está um trabalho magnífico que já tive a honra de tocar.
São quase 20 minutinhos de música…
São raras as bandas que tocam esta versão. A da Trofa é uma delas. Aqui fica uma gravação em duas partes, na Casa da Música, sob a direcção do Maestro Luís Filipe Brandão Campos.
Parte 1:

Parte 2:

“Guilherme Tell” – Rossini

Junho 19th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 29 de Maio de 2021)

O violoncelo é um instrumento espectacular. Tão espectacular que Rossini espeta-lhe um longo solo, com acompanhamento do naipe, no início da abertura da ópera “Guilherme Tell” e, muito provavelmente sem saber, espetou uma dor de cabeça naqueles que se aventuraram em transcrever essa abertura para banda.
Ao longo dos meus 27 anos como músico filarmónico, já ouvi de tudo um pouco para aquele início: sax-barítono + bombardino + sax tenor + clarinete; bombardino, fagote… sax-alto.. oboé, requinta, flauta… Dá para tudo. A verdade é que não é fácil. A tecitura do violoncelo permite esticar muito, sem problemas de embocadura.
De todas as soluções que por aí circulam, a mais sábia terá sido do maestro Fernando Costa, que colocou tudo ali nos saxofones.
Questões orquestrais e organológicas à parte, esta é daquelas que resulta bem na banda, principalmente se a banda até tiver um Corn Inglês para a secção pastoral. E se a banda tiver um flautista que não se cuspa todo… e trombones dispostos a ter uma luxação…
Tem tudo para correr bem a partir da cavalgada dos trompetes… “The Looooooone Ranger!”, os clarinetes que se lixem a dar ao dedo, que o povo gosta disto.
Agora a sério: gosto muito do Guilherme Tell e foi daquelas obras que nunca me cansou.
Aqui fica na leitura da Banda dos Arcos, dirigida por Gil Magalhães:

E, já agora, na leitura de Claudio Abbado, pela Filarmónica de Berlim (só por causa do impressionante solo de violoncelo)

“Canções da Tradição” – Luís Cardoso

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 28 de Maio de 2021)

Pum – pum – pum
Pum – pum pum – pum
É uma rapsódia, mas podia não ser. Podia ser um poema sinfónico sobre temas tradicionais portugueses.
A forma como os temas se sucedem, as harmonias (os arrepios que aquelas sétimas dão), os contrapontos, a orquestração, a escrita rendilhada para a percussão (sem simplesmente colocar pandeiros a dobrar a caixa) e o “Milho Verde”… O “Milho Verde” é, a meu ver, um brilhante exercício de orquestração (e uma delícia para quem toca triângulo). Aliás… podíamos isolar o “Milho Verde” do resto da obra e tocá-lo sozinho.
“Canções da Tradição”, obra “top” na última década, é o exemplo de como se pode inovar numa rapsódia, sem que os temas percam o carácter tradicional português. É Luís Cardoso a mostrar-nos que, ao contrário do que postulam certos eruditos, a música tradicional é rica harmonica e ritmicamente. Mas é preciso saber fazer… e o Luís sabe.
Pode haver quem olhe para as “Canções da Tradição” com um certo desdém “ah… não tem nada de especial”, se não tivesse “nada de especial” seria tão tocada?
Aqui fica tocada num coreto, pela Banda de Amares, dirigida pelo meu amigo António Ferreira.
Bom fim de semana!

“Pela Ordem e Pela Pátria” – Ilídio Costa

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 27 de Maio de 2021)

“Ofereço este meu trabalho ao Sr. Major Silvério Campos, digníssimo Chefe de Banda pela sua persistência e tenacidade em favor do bem estar dos músicos e da Música em Portugal. O Autor: Ilídio Costa”.
“Pela Ordem e Pela Pátria” é mais uma pedra basilar no reportório filarmónico nacional, pela estrutura, pelo carácter e pela inconfundível chancela criativa de Ilídio Costa. Gosto dela a cada momento, mas é a primeira fanfarra dos trompetes e o forte posterior dos graves que me enchem as medidas.
Aqui fica na interpretação de mais um Maestro que marcou o meu percurso filarmónico. O José Moura foi a primeira pessoa a dar-me uma batuta para a mão e a dizer “Vai.”
Confiou em mim, sem ter que lhe provar nada. Adorava a relação que tínhamos em palco, mesmo que às vezes eu lhe pusesse os nervos em franja. Trabalhamos juntos durante 10 anos, uma década de aprendizagem e crescimento como Músico. 10 anos que jamais serão apagados.
“Pela Ordem e Pela Pátria”, pela Banda Marcial de Arnoso, sob a direcção de José Moura.

“Rapsódia Húngara n.º 2” – Liszt

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado a 26 de Maio de 2021)

“Fortemente influenciado pela música que ouviu na infância, particularmente a música folclórica húngara, com forte influência cigana, espontaneidade rítmica e expressão sedutora, o compositor e pianista húngaro Franz Liszt compôs 19 rapsódias.
Entre todas, a segunda, composta em 1847 e dedicada ao Conde Laszlo Teleky, foi aquela que atingiu maior popularidade, permitindo ao compositor revelar a sua excepcional capacidade, para além de oferecer uma irresistível e imediata apreciação musical.”
…e quem é o clarinetista que não gosta disto?
‘Rapsódia Húngara Nº 2’, de Franz Liszt, com arranjo de Hugo Oliveira, na interpretação da Marcial de Fermentelos. E é com orgulho que digo que já toquei este arranjo, nesta banda, sob a direcção deste maestro com quem tenho uma amizade de quase 40 anos.
“Vai, Rambóia!”

“Capricho Varino” – Silva Marques

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 25 de Maio de 2021)

E agora, discos pedidos!
Esta obra foi aparecendo numa ou outra sugestão desde o início da rúbrica.
Nunca a toquei, apesar de ter tocado alguns anos na banda cuja gravação hoje partilho.
“Capricho Varino”, escorço sinfónico, é uma das obras referência de Silva Marques, compositor que nos deu preciosidades como “Serranesca” ou “Rapsódia Portuguesa”.
Silva Marques fez carreira como músico militar e integrou também a Orquestra Sinfónica Portuguesa da Emissora Nacional e a Orquestra Sinfónica do Porto. Foi maestro da Banda da Sociedade Filarmónica Palmelense “Loureiros” e da Banda da Sociedade Euterpe Alhandrense.
“Silva Marques baseia muitas das suas obras, sobretudo as peças de concerto, na linguagem melódica tradicional e popular portuguesa (…)” – dados biográficos constantes da edição da obra “Capricho Varino” pela UA Editora (Universidade de Aveiro), ISMN 979-0-707713-15-0, coordenação editorial de Rodolfo Campos, Andre Granjo e Silas Granjo.
Hoje serei assumidamente tendencioso e partilharei a interpretação da Banda Musical de Souto, sob a direcção de um dos meus maestros favoritos Manuel Luis Azevedo.

“Filarmonia” – Afonso Alves

Junho 18th, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 24 de Maio de 2021)

 

Há coincidências…
No meu planeamento de publicações hoje estava a “Filarmonia” de Afonso Alves. E, quando fui procurar vídeos, encontrei um da Banda da Póvoa, dirigida por um dos mais assíduos frequentadores deste espaço, o Paulo Veiga. E não é que o Veiga faz anos hoje?
Mas, antes de dar os parabéns  ao Veiga, uns bitaites sobre a “Filarmonia”.
Aqui há anos, perguntei ao Afonso o porquê das tonalidades fora do comum que usa nas suas marchas. Respondeu-me que Amílcar Morais ensinou-o que cada nota tem uma cor e é papel do compositor escolher as cores que quer usar nas suas obras.
A “Filarmonia” tem muita cor. E é curioso que é a antítese da maior crítica que costuma ser apontada ao reportório do Afonso: o excesso de repetições.
Pelo contrário, esta marcha tem uma quadratura fluída, sem voltas e voltinhas, sem o habitual “forte central”, saltando do primeiro tema para o segundo (e último), sem o tantas vezes desnecessário salto ao S, com uma ponte épica antes do forte final e com um final não muito habitual nas marchas portuguesas.
Talvez por todos estes ingredientes seja das marchas mais tocadas nas nossas entradas e despedidas.
Aqui fica na interpretação da Banda da Póvoa, sob a regência (“adoro” esta palavra) de Paulo Veiga, insigne representante da ínclita geração de 79.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.