António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“La gazza ladra” – Rossini

Julho 18th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Durante muito tempo, tocar determinadas aberturas de Rossini, tipo a “La Gazza Ladra” ou “L’ italiana in Algeri”, era sinal de fraqueza. Até que o pessoal descobriu que podia tocar estas obras com o mesmo empenho de outras e perdeu a vergonha.

La gazza ladra (A Pega Ladra, em italiano… Pega… o pássaro, entenda-se) é um melodrama em dois actos com libreto baseado em “La pie voleuse”, de JMT Badouin d’Aubigny e Louis-Charles Caigniez.

Rossini era célebre, à época, pela velocidade com que compunha as suas obras, e esta não foi exceção; supostamente o seu produtor teria sido obrigado a trancar Rossini num quarto, nas vésperas da primeira performance, para que ele concluísse a abertura. Rossini então passava pela janela cada folha da obra aos seus copistas, que escreviam o resto das partes orquestrais.

(curiosamente, já ouvi esta mesma história sobre “O Barbeiro de Sevilha”)

Foi encenada pela primeira vez em 13 de maio de 1817, no Teatro alla Scala, de Milão, tendo sido revista por Rossini para performances posteriores.

Aqui fica na leitura da Banda de Antas – Esposende, dirigida pelo maestro Diogo Costa e com filmagem de Damião Silva.

 

 

“Fiel” – Ventura Cartagena Guirao

Julho 17th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

As minhas mais remotas memórias filarmónicas são marcadas por esta marcha de concerto. Tocava-se praticamente em todas as festas da Banda de Crestuma. Mais tarde ouvi-a também pela Banda da Trofa mas, tirando estas duas bandas, não tenho conhecimento de mais alguém ter tocado a “Fiel”.

Curiosamente, até há dias, quando fui procurar alguma gravação da mesma, achava que seria obra de algum compositor português perdido nas brumas da memória.

Mas não, o senhor Ventura Cartagena era espanhol (faleceu em 2021).

Alguém conhece a “Fiel”? Alguém se lembra de a ter tocado?

Digam coisas, pois tenho mesmo muita curiosidade.

 

“S. Martinho” – Carlos Marques

Julho 16th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

É verdade que sou apaixonado pelas marchas de procissão monumentais, aquelas de carácter imponente e solene, que duram 10 minutos e carregam sobre si o peso dos andores.

Mas, convenhamos… em dias de Verão, com temperaturas acima dos 30 graus, o alcatrão a queimar-nos os pés, a boca seca, o peso dos instrumentos, piso irregular, subidas e descidas… é uma penitência para a qual não temos pecados suficientes.

Vai daí, a “nova geração” de marchas de procissão mais curtas dá um certo jeito.

Carlos Marques consegue com o seu “S. Martinho” um belo compromisso entre imponência, solenidade, introspecção em menos de cinco minutos. “Less is more” e os músicos agradecem.

“S. Martinho”, na interpretação da Banda de Coimbrões, dirigida pelo Maestro José Alexandre, num registo Afináudio.

“Trivial” – Alberto Madureira da Silva

Julho 15th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Três perguntas rápidas:

  • Alguém ainda se lembra da “Trivial”?
  • Quem nunca tocou a “Trivial”?
  • Quem ainda toca a “Trivial”?

Antes do “Manuel Joaquim  de Almeida“, arrisco-me a dizer que esta seria a marcha de rua mais tocada em entradas, despedidas e “marcha em conjunto”.

Alberto Madureira da Silva, não sendo daqueles compositores com um espólio muito grande, consegue ter obras marcantes em diversas tipologias, populares e tocadas até à exaustão. E isso tem muito valor!

Partilho um vídeo do nosso amigo Damião Silva, no qual não se consegue ouvir a marcha toda, mas onde podemos matar saudades daquele ambiente de festa, que tão bem conhecemos.

Banda Marcial de Fermentelos, sob direcção de Carlos Marques (Balaú).

 

 

“Aguarela Popular” – Manuel Ribeiro da Silva

Julho 14th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Manuel Ribeiro da Silva deixou-nos um legado de 35 marchas militares e de concerto, 7 rapsódias populares, cerca de 40 números ligeiros, hinos, arranjos e outros.

De entre aquelas 7 rapsódias, há três que destaco: “Desfolhando Cantigas” (já aqui abordada), “Portugal a Cantar” e esta “Aguarela Popular”.

Se “Desfolhando Cantigas” é explosão, fulgor, gradiosidade, excitação,              “Aguarela Popular” traz consigo singeleza, pureza, uma certa humildade, sem perder o carácter festivo, dançante e colorido.

Aliás, arrisco-me a dizer que será a rapsódia que melhor combina a vertente mais melódica e cantabile, com a vertente mais rítmica e de bailarico.

Toquei-a diversas vezes na Sociedade Filarmónica de Crestuma. Tem um papel de triângulo que nos pode arrancar um pulso fora e aquele que, para mim, é o melhor “Malhão” das rapsódias portuguesas.

Interpretação da Banda dos Escuteiros de Barroselas, dirigida por Álvaro Barbosa de Sousa, num registo da Afináudio.

 

 

 

“Mornas e Coladeras” – Afonso Alves

Julho 13th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

Ao contrário do que muita gente pensa e diz, as “Mornas e Coladeras” de Afonso Alves, não são um medley com temas de Cabo Verde.

Trata-se de uma obra inteiramente original, para a qual o compositor pesquisou, investigou e estudou durante três meses, tendo sido depois composta numa semana.

Tem um magnífico solo de clarinete que, segundo o próprio compositor, deve ser tocado, com a “ingenuidade e simplicidade de quem não sabe tocar”. Por isso, clarinetistas que enchem o solo de “reviangas” e glissandos e que até cometem o crime lesa-arte de o fazer à oitava superior, párem com isso. Se tiverem dúvidas, o compositor ainda é vivo, está contactável e é muito acessível e disponível.

Em Novembro de 2009, na Casa da Música, a Banda Fórum estreou uma versão com coro.

Lembro-me que, da primeira vez que toquei a obra, precisamente no dia em que conheci o Afonso, ele disse à percussão: “são livres de fazerem o que quiserem, mas lembrem-se que a linha que separa o ridículo do genial é muito fina”.

A verdade é que já toquei as “Mornas” dezenas de vezes com ele e nunca levei nas orelhas.

Aqui fica uma dessas “dezenas de vezes”. Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, ao vivo no Casino da Figueira da Foz, sob a direcção do próprio compositor. Eu sou o cromo sentado na bateria, mas há muita gente bonita a tocar.

 

 

“Persis” – James L. Hosay

Julho 12th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª Temporada – “Qual é que vai?”

 

Um dia sonhei que tocava oboé, fazia o solo da “Persis” e depois destruía o instrumento.

“Persis” (grego para Pérsia) é uma abertura-fantasia, que conta a história de um homem americano moderno que viaja no tempo até à antiga cidade persa de Persépolis.

Entra numa aventura selvagem e maravilhosa ao ser repentinamente cercado por uma arquitetura magnífica, grandes estátuas de mármore e belas obras de arte, numa das primeiras civilizações cultas conhecidas. Vira-se e vê uma bela mulher persa num pátio repleto de flores. É a mulher mais linda que já viu na vida, e está completamente cativado por ela.

Cuidadosamente aproxima-se dela e, milagrosamente, ela o reconhece como alguém que ela havia conhecido antes noutro tempo e lugar. Abraçam-se e compartilham um breve e feliz momento juntos. Mas sua presença no pátio real é proibida e ele é perseguido por guardas armados. Enquanto corre freneticamente pelos corredores da cidade,  reflete tristemente sobre o romance que poderia ter acontecido.

Tudo isto e um papel diabólico para xilofone.

Banda Quinta do Picado, dirigida por Bruno Martins.

 

“Orfeu nos Infernos” – Offenbach

Julho 11th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

3ª temporada – “Qual é que vai?”

É verdade que esta rúbrica continua a surpreender o autor.

Coloquei o “Orfeu nos Infernos” na minha lista e, quando vou procurar gravações de bandas portuguesas no Youtube, surgem apenas duas. Mas, com todo o respeito pelas bandas que as protagonizam, achei que a qualidade não era a suficiente para a partilha.

Sendo uma obra tão tocada, é estranho haver tão poucos registos.

É o que é.

Por isso, recorro hoje à Banda da Marinha dos Estados Unidos, com uma orquestração bem interessante e ligeiramente diferente daquilo que estamos habituados a ouvir por cá.

Ópera burlesca de Jacques Offenbach, “Orfeu nos Infernos”é uma sátira ao mito de Orfeu.

«Orfeu e a sua mulher Eurídice não fazem uma típica vida de casal, estão cansados um do outro e, por isso, já nenhum deles é fiel aos votos do matrimónio. Enquanto Orfeu se encanta com as suas belas alunas, Eurídice jura amor a Aristeu. Depois de descoberta a traição e em prol da sua imagem, Orfeu prepara a morte do amante da mulher e esta corre para lhe contar os planos do marido… Aristeu (na verdade, é Plutão disfarçado) atrai Eurídice e toma o mesmo veneno que ela, em nome do amor. Ela morre e é conduzida por Aristeu/Plutão para o inferno. Orfeu fica feliz com a morte da mulher, mas, para seu desfortúnio, a opinião pública exige-lhe que a vá salvar.
Entretanto, no Monte Olimpo, os deuses exigem mais diversão e melhor comida.
Já no Inferno, em virtude de investigar a difícil situação, na qual se encontra Orfeu, o próprio Júpiter, disfarçado de mosca, apaixona-se por Eurídice. Na festa dos “olimpianos”, Júpiter consente que Orfeu recupere a sua mulher, desde que não se vire para trás no seu regresso. Mas Júpiter provoca Orfeu e este vira-se e Eurídice é forçada a permanecer no Inferno, como bacante.» (in: http://www.teatroaveirense.pt/evento_detalhe.asp?id=1608)

E pronto, está dado o mote para pôr as bailarinas dos cabarets a dar à perna.

Por cá, é mais uma que põe os coretos a abanar. Obra que marcou a minha “infância filarmónica” e que ainda está na estante da Banda Visconde de Salreu.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.