António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Rienzi” – Wagner

Agosto 13th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

“O libretto de Wagner tem por base a novela Rienzi, O Último dos Tribunos de Edward Bulwer-Lytton (1835) e a peça teatral de Mary Russel Mitford (1828) sobre o mesmo tema. A acção desenrola-se em Roma, em meados do século XIV, e narra a senda do patriótico tribuno romano Cola Rienzi, na sua tentativa de restaurar o carácter imperial de uma Roma em decadência, libertando a cidade do jugo da nobreza corrupta que a dirigia. Apesar do sucesso inicial, Rienzi acabaria por ser excomungado pelo Papa e, finalmente, apedrejado pela populaça juntamente com a sua irmã Irene, no Capitólio que é entretanto incendiado.

A Abertura apresenta-se -nos como uma forma tradicional e é baseada nos temas da ópera. Abre num andamento lento, iniciado pelos trompetes e que anuncia um primeiro tema nas cordas, a “Prece pelo Povo de Rienzi”, de grande ênfase e lirismo. A peça prossegue à medida que toda a orquestra entra em cena, seguindo de algum modo um esquema clássico de exposição e reexposição temática, mas acenando à técnica do leitmotiv wagneriano. Uma coda de grande intensidade, baseada no tema da batalha, termina a abertura.”

in: Casa da Música

A dada altura do meu crescimento musical, as minhas tardes de domingo eram passadas à volta de vinis e K7s, com os meus amigos Hugo Oliveira e Marco Cancela, a ouvirmos, gravarmos e regravarmos muita música sinfónica, nomeadamente, Wagner.

Tornei-me um “Wagneriano” convicto, o que até teve consequências na minha aprendizagem de clarinete: “não podes tocar tudo como se fosse Wagner!”, dizia-me o professor Saul Silva.

A abertura da “Rienzi” é daqueles calhaus que, ou se toca bem, ou é melhor estar quieto. Toquei-a nas bandas de Crestuma, Avintes e Marcial de Fermentelos e é sempre bom revisitá-la, aqui na leitura da Banda de Revelhe, sob direcção de Paulo Pereira, num registo da Afinaudio.

“Virginia” – Jacob de Haan

Agosto 12th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

É lugar comum dizermos que as obras de Jacob de Haan são todas “iguais”. Não andaremos longe da verdade para grande parte delas. Estruturalmente, melodicamente e tímbricamente, há uma estética muito própria.

No entanto, para mim, há uma obra que se destaca e que toco sempre com imenso prazer.

“Virgínia” marcou as minhas últimas épocas na banda de Crestuma, assim como um período muito interessante na banda de Salreu.

O seu significado para mim é mais sentimental do que musical, no entanto, não deixa de ser a minha composição favorita da Jacob de Haan, principalmente pela avassaladora secção central.

“O estado americano da Virgínia tem uma forma triangular um tanto recortada no mapa. Isso pode ser reconhecido metaforicamente nesta composição, que lança luz sobre esse estado de três ângulos. Esses ângulos representam três períodos que desempenham um papel importante na história da Virgínia: a colonização, a escravidão e a Guerra Civil Americana.”

Aqui na interpretação da Sociedade Filarmónica de Vilarchão, sob direcção do Maestro Eduardo Carvalho, num registo Afinaudio.

 

 

 

“Danças Guerreiras, da ópera Príncipe Igor” – Alexander Borodin

Agosto 11th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

Príncipe Igor, Danças Guerreiras, Danças Polovtsianas… o que quer que seja.

Falo por experiência própria: é das obras mais difíceis e arriscadas de uma banda tocar. Principalmente arriscada. Anda-se muito tempo no arame sem rede.

O arranjo mais comum é o que partilho abaixo, mas gosto muito mais de um outro que começa assim:

Confesso: para mim, esta é a dança mais espectacular do “Príncipe Igor”.

Na banda de Crestuma tocávamos essa versão, numa edição manuscrita que encontrei também quando fiz provas para a Orquestra dos Templários.

Era também o arranjo executado pela banda da Força Áerea. Fora isso, não ouvi mais ninguém fazê-lo.

Seja como for, este é um calhau daqueles e que tem tudo: melodias delicadas, solos para quase toda a gente, cavalgadas de virtuosismo e o famoso andamento onde tímpanos e bombo lutam para ver qual deles esgalha mais.

No entanto, essa secção é uma boa ajuda para a afinação de um instrumento:

Me-te!

Me-te!

Me-te!

Me-te!

Tiiiiiiiiira

Tira, tira, tira, tira, tira, tira.

JÁ ESTÁ!

(ok… passei-me…)

O final da obra é como um carro descontrolado por uma ribanceira abaixo.

Brincadeiras à parte, Borodin é um compositor extraordinário que tratava muito bem a orquestra e quando as bandas tratam bem Borodin o resultado é delicioso.

Aqui ficam as “Danças Guerreiras” na interpretação da Banda de Vale de Cambra, sob a direcção do grande Valdemar Sequeira, num registo de Damião Silva.

 

 

“Alda” – Francisco Marques Neto

Agosto 10th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

Todas as bandas terão as suas histórias que passam de geração em geração, repetidamente contadas até por quem não as vivenciou.

Em Crestuma, um dos relatos mais famosos falava do célebre concerto nocturno em S. Mamede de Ribatua, em que, durante a execução da “Alda”, aluz do palco apagou-se, continuando a banda a tocar a obra até ao final.

A “Alda” era uma obra “de bandeira” na Sociedade Filarmónica de Crestuma, muito pelo virtuosismo do seu naipe de clarinetes: António Moreira Jorge, António Mota, José Moura e o recentemente falecido Vitor Ribeiro.

Uma execução que saía das entranhas dos músicos e do maestro, à época, Joaquim Costa, tendo sido registada na primeira edição fonográfica, em K7, da banda. E eu ainda tive o prazer e a honra de a tocar durante, sensivelmente, duas épocas.

Não havendo no Youtube esse registo, partilho na mesma uma interpretação do Maestro Joaquim Costa, à frente da Banda de Carregosa, numa gravação da Afinaudio.

A filarmonia é muito isto. As melhores obras serem aquelas que nos fazem viajar no tempo.

E se, nos arquivos das vossas bandas, tiverem a “Alda”, toquem-na. É demasiado bela para ficar num armário.

À memória de Vitor Ribeiro.

 

“El Camino Real” – Alfred Reed

Agosto 9th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

 

Ainda me lembro do entusiasmo que esta obra provocou quando começou a ser tocada nas bandas filarmónicas portuguesas, principalmente entre os trompistas…. vá-se lá saber porquê…

“El Camino Real” abriu portas para um leque de compositores e reportório que se entendiam quase como inacessíveis, impossíveis, ou desadequados ao ambiente de romaria.

A verdade é que esta fantasia latina, vinda dos EUA, acaba por ser uma boa “espanholada” e todos sabemos como as “espanholadas” soam bem nas nossas bandas.

É claro que tem uma instrumentação “ambiciosa”, nem toda a gente pode andar com vibrafones e afins atrás, mas toca-se e toca-se bem.

Muito mérito do compositor e na deliciosa combinação de timbres que faz. Aqui há anos eu comentava com alguém que identificamos facilmente as obras de Reed pelo timbre.

Foi encomendada e dedicada à 581ª Banda Força Aérea Americana (AFRES) e  ao seu comandante, o tenente-coronel Ray E. Toler. Composta na segunda metade de 1984 e concluída no início de 1985, inclui o subtítulo: “Uma fantasia latina”.

A peça é baseada numa série de progressões de acordes comuns aos grandes guitarristas de flamenco (e outros), que conferem um carácter intrinsecamente espanhol à obra. A primeira seção da obra é baseada na forma de dança conhecida como “Jota”, enquanto a segunda seção, contrastante, é derivada do Fandango, mas aqui alterada consideravelmente tanto no tempo quanto no andamento de sua forma usual. No geral, a música segue um padrão tradicional de três partes: rápido-lento-rápido.

A primeira apresentação pública de “El Camino Real” aconteceu no dia 15 de abril de 1985 em Sarasota, Flórida, com a 581ª Banda da Força Aérea sob a direção do Tenente Coronel Ray E. Toler.

Convosco partilho a interpretação da Banda de Paços de Ferreira, sob a direcção de Alexandre Coelho, num registo de Damião Silva.

 

“O Barbeiro de Sevilha” – Rossini

Agosto 8th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

A abertura da ópera “O Barbeiro de Sevilha” foi a primeira obra clássica que o meu pai me apresentou. Teria eu uns 4 ou 5 anos, já sentia uma certa atracção por aqueles clássicos mais “orelhudos”, tipo “Guilherme Tell” ou “Orfeu nos Infernos”, mas não lhes conhecia o título. O “Barbeiro” teve direito a apresentação oficial.

Ele coloca o vinil a tocar e, a dada altura, diz-me:

– Esta é “O Barbeiro de Sevilha”, queres ver?

Acto contínuo, o meu pai começa a cantar uma letra da sua autoria em cima da primeira melodia do “Allegro”:

Ai! Faz-me a barba!

Ai! Faz-me a barba!

Ai! Faz-me a barba!

e corta-me o cabelo…

(imaginem se conseguirem…)

Anos mais tarde viria a tocá-la na Banda de Crestuma, na Marcial de Fermentelos e na Banda Visconde de Salreu. Terei tocado esta obra em mais algum lado? Talvez.

Il barbiere di Siviglia, Alma Viva o sia l’inutile precauzione (O barbeiro de Sevilha, Alma Viva ou a inútil precaução) é baseado na comédia Le Barbier de Séville, do dramaturgo francês Pierre Beaumarchais (livro que fiz questão de ler quando comecei a tocar a obra).

Esta famosa abertura foi composta originalmente para outra obra do compositor, “Aureliano in Palmira”, e usada posteriormente em “Elisabetta, regina d’Inghilterra”.

Rossini era bom nestas coisas de despachar expediente.

Quem também é muito bom nestas coisas dos arranjos é Franco Cesarini, cujo arranjo abaixo escutamos, pela Banda Comércio e Indústria das Caldas da Rainha.

 

“Carnaval de Veneza” – Jean-Baptiste Arban

Agosto 7th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

O “Carnaval de Veneza” é baseado em uma melodia folclórica napolitana chamada “O Mamma, Mamma Cara”, aquela que, quando éramos miúdos, aprendemos como “O meu chapéu tem três bicos…” (de vez em quando o Herman José canta a versão em alemão “Mein Hut, der hat drei Ecken”)

O violinista e compositor Niccolo Paganini escreveu vinte variações da melodia original, que intitulou de “Il Carnevale Di Venezia”, Op. 40. Em 1829, ele escreveu a um amigo: “As variações que compus sobre a graciosa cantiga napolitana, ‘O Mamma, Mamma Cara’, ofuscam tudo. Não consigo descrever.”

Desde Paganini, muitas variações sobre o tema foram escritas, principalmente as de Jean-Baptiste Arban, para trompete solo, contendo exibições virtuosas de duplo e triplo staccato.

Em Portugal, tornou-se uma obra mítica no reportório filarmónico graças à interpretação de Jorge Almeida, colocando num patamar olímpico as peças solísticas virtuosísticas.

Aliás, há um antes e um depois de Jorge Almeida. Há um antes e um depois do “Carnaval de Veneza”.

E aqui fica  o próprio, com a Banda de Fajões, sob a direcção de Américo Nunes.

P.S. – A propósito deste género de reportório, recordo também a “Fantasia do Minho”, de Afonso Alves, a qual, original para bombardino, foi também adaptada ao trompete de Jorge Almeida.

 

“Portugal a Cantar” – Manuel Ribeiro da Silva

Agosto 6th, 2021

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS

4ª Temporada – “Procura aí o papel…”

 

E mais uma da série Ribeiro da Silva.

A meu ver “Portugal a Cantar”, juntamente com “Desfolhando Cantigas” e “Aguarela Popular”, formam a trilogia perfeita daquilo que é uma rapsódia com “R”.

São obras com som, cor e cheiro, que mexem com todos os nossos sentidos. Ao ouvi-las, viajamos automaticamente para uma qualquer romaria entre Douro e Minho, concerto da noite, arcos iluminados, a igreja decorada, cheiro a pipocas e bifanas, luar de Agosto, casacos nas costas das cadeiras.

O trompetista que ainda tem lábio para mais um solo, a outra banda que vai descendo do coreto para a despedida. É o dar tudo até ao fim, porque nem só de calhaus vive o homem.

A nostalgia filarmónica… a nostalgia popular… “a Festa da Senhora da Agonia e o cansaço…”

De todos os textos escritos para esta rúbrica este será o mais escasso, porque há emoções que não se escrevem.

“Portugal a Cantar”, num registo atribuído à Banda da Trofa, mas não posso afirmar com exatidão que o seja.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.