António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Concertino para bombardino” – Arie den Arend

Agosto 27th, 2022

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS – Finalmente encontrei!

A Banda da Trofa da segunda metade da década de 90, foi das melhores que já ouvi até hoje. Dirigida por Francisco Ferreira, que sucedeu ao mítico, histórico e icónico professor António Gomes, era uma verdadeira banda “all star”. Reunia alguns dos maiores (perdoem-me a expressão) “craques” da música à época, alguns já com carreiras consolidadas, outros que despontavam, muitos que hoje em dia continuam ligados à filarmonia, como maestros, executantes, professores.

Só para citar alguns nomes, por ordem alfabética:

Abel Pereira, Acácio Silva, Ana Maria Ribeiro, Bernardo Alves, Carlos Germano, Daniela Anjo, Fernanda Alves, Fernando Ribeiro, Gil Miranda, Hugo Oliveira, Isabel Anjo, Iva Barbosa, João Alves, Jorge Almeida, Jorge Madureira, Júlio Senra, Liliana Reis, Lino Pinto, Manuel Luís Azevedo, Manuel Moura, Nuno Pinto, Paulo Martins, Rosa Oliveira, Sílvia Janete, Telmo Barbosa, Vitor Matos…

…todos passaram pela Banda da Trofa.

Uma banda  que “debulhava” um reportório de grau de dificuldade elevado e que incluía este “Concertino” de Arie den Arend, escrito para tuba, ou bombardino solo, executado à época por Júlio Senra. Era uma obra que se destacava principalmente por ser raro, para não dizer único, uma banda apresentar uma peça solística para este instrumento.

O “Concertino” era de tal forma marcante na estante da Trofa que foi gravado em CD pela mesma.

Sobre o compositor, pouco se sabe, a não ser que nasceu em Pernis, a 3 de fevereiro de 1903, e faleceu em Roterdão a 22 de fevereiro de 1982. De 1916 a 1925 estudou órgão, teoria musical e composição. Foi maestro, professor e organista, dedicou-se principalmente à música para metais.

Na Internet não abundam os registos da peça, pelo que tive que recorrer a esta gravação, ao vivo, da Banda La Primitiva de Alborache – Valencia, com Andres Carrascosa Perez como solista.

 

 

“Xàbia” – Salvador Salvá Sapena

Julho 28th, 2022

CLÁSSICOS FILARMÓNICOS -“Então ainda não falaste desta?”

Estaremos todos de acordo que “Manuel Joaquim de Almeida”, feitas as contas, será a marcha mais tocada em entradas, despedidas e não só.

Mas esse lugar tende, cada vez mais, a ser disputado por outra “marcha” que, na verdade, é um “pasodoble”, mas que o compositor sempre insistiu que fosse considerado “pasacalle”. Um “pasacalle” que já ganhou o estatudo de “Clássico Filarmónico”.

Só podia falar do, ou da, “Xàbia”, de Salvador Salvá Sapena.

Mas há alguém que nunca tenha tocado o, ou a, “Xàbia”?

No entanto, o fenómeno “Xàbia” extravasa a Península Ibérica.

É impossível saber quantas vezes o “Xàbia” foi executado em todo o mundo desde que foi publicado em 1976. Este “pasacalle” levou o nome da cidade Xàbia praticamente aos cinco continentes e tornou-se uma das referências mundiais na música deste estilo.

Mas qual é o segredo desse sucesso? Como é que “Xàbia” apaixona músicos, maestros e público, da Bolívia ao Cazaquistão? Na verdade, a característica mais importante da peça é a sua simplicidade.

Miguel Salvà, filho do compositor:

“Quando o meu pai começou a compor, era uma obra extensa, muito densa”.

Isso foi no início de 1976. Ao longo da primeira metade do ano, Salvador Salvà fez a banda Xàbia – da qual ele era maestro – ensaiar a música repetidamente. E foi retocando-o, simplificando-o, de mais para menos em comprimento, até encontrar a medida certa na introdução. Apesar de já ter quase 50 anos na época, começou a desenvolver a capacidade de criar harmonia, já que durante o seu serviço militar tinha contactado com grandes arranjadores. Em agosto de 1976, decidiu que a obra estava pronta, tendo sido publicada no final do ano.

“Xàbia” foi composto, justamente, para ser tocado pelas ruas durante as festas e começou a espalhar-se sem parar. Além de Espanha, a França foi o primeiro país em que esta música se enraizou. Foi rapidamente ligada ao mundo das touradas mas também a outros eventos festivos. E ainda está presente. Tanto que o pasodoble “Xàbia” serviu de banda sonora para o filme “Le fils à Jo” lançado com sucesso em 2010.

“Xàbia” também cruzou o oceano, primeiramente no México e espalhando-se à restante América Latina.

Essa fama mundial levou a que “Xàbia” fosse tocado em lugares tão distantes quanto a Ucrânia e até mesmo o Cazaquistão.

“Nem hino, nem letra”. A partitura de “Xàbia” destina-se apenas a isso, como música ligada à festa. Não é um hino. E não havia letra. O compositor criou-o apenas com música. As letras que estão atualmente anexadas à peça foram adicionadas por outros.

Salvador Salvà (Xàbia, 1927-2011) deixou a sua marca no Centro Musical Artístico de Xàbia, não só pela composição do “pasacalle” tão universalmente conhecido. Durante os 9 anos em que foi maestro (1969-1978), a banda viveu dois momentos históricos: primeiro, a incorporação de mulheres na entidade e, segundo, a primeira viagem ao estrangeiro, especificamente para a Alemanha.

Fonte: http://blog.xabia.org/el-secreto-de-xabia-el-pasodoble-que-emociona-en-todo-el-mundo/

Aqui fica na interpretação da Banda da Trofa, dirigida por Luís Campos, num registo de Damião Silva.

 

Partiram “os” Vangelis

Maio 19th, 2022

Partiu o Vangelis. Músico, compositor, produtor grego que muita gente achava ser uma banda: os Vangelis.

 

Parece ridículo, mas é legítimo. O nome termina em S: plural.

 

Já ouviram bem as obras de Vangelis? É impossível aquilo ser tocado por apenas uma pessoa. Tem que ser uma banda.

 

E o tema épico do filme “1492”? É um coro: os Vangelis.

 

Parece ridículo, é ridículo, mas esta conversa aconteceu mesmo, precisamente na época em que o tema “Conquest of Paradise” bombava em todo o lado, até nas campanhas do Guterres.

 

A dada altura desisti de argumentar e deixei-os acreditar que Vangelis era mesmo uma imensa orquestra com coro.

 

Só me arrependo de, há tempos, ter destruído o orgulho daquele colega que se gabava de ser grande apreciador da música dos Enaudi.

 

Idiossincrasias da música electrónica ambiental.

 

Problemas que o “trio” francês “Jean Michel Jarre” nunca teve.

 

 

 

 

 

 

“Damião Silva” – Vitor Resende

Abril 18th, 2022

Hoje, 18 de Abril, o Grande Curador do Reportório Filarmónico, autor de muitos dos vídeos desta rúbrica, Damião Silva, completa mais um aniversário e, por isso, faz todo o sentido partilhar esta marcha, de autoria de Vitor Resende, composta em sua homenagem.

Aqui fica na interpretação da Banda Marcial de Fermentelos, sob a direcção de Hugo Oliveira (e comigo ali no bombo).

Parabéns, Sr. Damião! Espero encontrá-lo, muito em breve, numa romaria algures por aí:

“Poeta e Aldeão” – Franz von Suppé

Abril 16th, 2022

Por incrível que pareça, estava perfeitamente convencido que já tinha dedicado um artigo a esta obra, um clássico a todos os níveis. Mas não. Estava no fundo da pasta à espera de vir para a estante dos Clássicos.

“Poeta e Aldeão” estreou-se como música incidental para uma comédia de Karl Elmar, com o mesmo título, mas viria a ser transformada, após a morte de Suppé, numa opereta em três actos.

Contudo, foi a sua abertura que ficou popularizada no reportório sinfónico e filarmónico. É um verdadeiro hit nos arraiais de Norte a Sul de Portugal.

E sim, os arraiais estão a regressar.

Este é um daqueles exemplos que demonstra que uma obra sinfónica para ser bela, não precisa ser difícil. Contudo, a sua “facilidade” é aparente. Já vi muito bom clarinetista a dar nós nos dedos a tocar isto.

Aqui fica “Poeta e Aldeão” na interpretação da Banda Musical de Souto, sob a direcção do meu grande amigo, Manuel Luís Azevedo, num registo da Afinaudio:

 

“Rapsódia Hilariana – N.º3” – Sousa Morais

Abril 8th, 2022

Toquei a “Hilariana” uma vez na vida, curiosamente no meu primeiro concerto filarmónico, a 19 de Março de 1994.

O valor desta obra, para mim, é mais sentimental do que propriamente musical e ouvi-la tantos anos depois é uma autêntica viagem no tempo.

Curiosamente, esta partilha surge na véspera de um concerto de tributo à filarmonia, pela Banda Sinfónica Portuguesa, no qual a “Hilariana”, de Sousa Morais, será interpretada.

Aqui fica na interpretação da Orquestra de Sopros da Universidade de Aveiro, dirigida por Luis Carvalho:

Andamentos

Março 31st, 2022

O medley “Francisco Magalhães” de Luís Cardoso já foi abordado neste espaço em tempos.

Uma obra relativamente recente mas, definitivamente, um clássico.

Para hoje, proponho um pequeno exercício:

1º – Vamos ouvir os próprios Scorpions a interpretar o “Rock you like an hurricane”, aqui:

2º – É neste andamento que tocam nas vossas bandas? Em caso negativo, justifiquem.

3º – Concordam com a frase “No andamento em que os Scorpions tocam, fica bem melhor, com um groove mais poderoso!” ? Justifiquem.

As romarias estão a regressar…

E se fosse contigo? Ria às gargalhadas.

Março 29th, 2022

Quem nunca contou (ou riu de) uma piada parva, racista, homofóbica, de humor negro, maldosa, que atire o primeiro estalo.

Quem nunca riu ao ver os cromos esbardalharem-se ao comprido no “Isto Só Vídeo”, que atire o segundo.

Quem nunca ofendeu ninguém na vida, propositada, ou acidentalmente, que atire o terceiro.

Somos assim, enquanto humanos. Por muito que enverguemos uma hipócrita capa de educadinhos, atinadinhos e respeitadores, há sempre um momento das nossas vidas em que rimos da desgraça alheia.

A pantomina entre Will Smith e Chris Rock levantou novamente a lebre dos limites no humor. Enquanto defensor acérrimo que, no humor, principalmente no humor, não deve haver limites, ouço muitas vezes “e se fosse contigo?”. Se fosse comigo eu ria-me.

Posso ser um gajo estranho, mas acho que uma das melhores formas de lidar com a tragédia é o humor. É rir e mostrar que estamos vivos.

Sei que nem todos pensam assim e entendo. É sempre mais fácil chorar.

“Oh… estás doente? dói muito, não é? tenho tanta pena de ti…” Mas, se algum dia (cruzes canhoto!) eu for visitado por uma doença grave, por favor, façam-me rir e não tenham pena.

A pantomina entre Will Smith e Chris Rock revelou também a extensa hipocrisia das últimas semanas, relativamente à invasão da Ucrânia.

Muitos dos que enchem as redes sociais com “stop the war”, aplaudiram o estaladão. Muitos dos pacifistas de pacotilha acham bem uma pessoa ser agredida enquanto (bem ou mal) faz o seu trabalho. Muitos dos “fuck Putin”, legitimam a violência.

“Ah… mas o Chris Rock ofendeu a mulher do Will Smith!”

Pronto, e o Putin também se sentiu ofendido por a Ucrânia querer aderir à NATO. E agora?

É frequente os mais velhos manifestarem preocupação com a “perda de valores da sociedade”. Eu preocupo-me com a perda do sentido de Humor, da capacidade de nos rirmos das situações mais tristes, duras e negras da nossa vida. Preocupo-me que estamos a construir uma sociedade cinzenta, esterilizada, sem cor, sem cheiro, insípida.

Aqui há dias, ouvia uma figura da rádio portuguesa, falar da sua doença, de uma forma bem humorada, divertida, que me fez aprender mais sobre essa doença, do que qualquer discurso carregado de seriedade e cinzentismo.

Não acham piada? Ofende-vos? Estão no vosso direito, mas esse direito não implica agredir ninguém.

O Chris Rock não se pôs a jeito para levar um estalo. A Ucrânia não se pôs a jeito para ser invadida. Uma rapariga seminua não se põe a jeito para ser violada.

A violência é sempre, sempre, sempre culpa do agressor e normalizar isso é ser cúmplice.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.