António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

“Zamora 1143” – Nelson Jesus

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 13 de Junho)

Pensavam que me tinha esquecido?
Aqui está a obra de hoje, dia em que tenho o trabalho muito facilitado pelo próprio compositor:
“A peça que vos deixo hoje foi possivelmente a que escrevi mais depressa. Tinha acabado de enviar a partitura de “Porto de Saudades” para um concurso e, com fortes convicções sobre essa, decidi não enviar a mesma peça para o concurso vizinho. No entanto, durante uma guarda de honra, uma entrada algo inusitada no nosso hino nacional, fez luz sobre as minhas ideias e mal cheguei a casa comecei a esboçar algumas variações que são encontradas nesta peça. Em três semanas estavam a partitura e partes prontas para envio e o prémio veio confortar o esforço.
Zamora 1143, Op. 21 é um poema sinfónico baseado na História de Portugal onde podem escutar nas quatro notas iniciais dos timpanos o verso “Heróis do mar…” onde se pode sentir o ambiente medieval do torneio de arcos de valdevez e onde o terceiro andamento recria a batalha de Ourique numa violenta fuga a 13/16 que tem afastado os compradores desta peça!
Vencedora do Prémio Inatel/Banda Sinfónica do Exército e eleita para o Top 20 da Imms Portugal, foi estreada pelo capitão Artur Cardoso e pela Banda Sinfónica do Exército e gravada pelos mesmo intérpretes pela Afinaudio.”
“Zamora 1143” por Nelson Jesus, na interpretação da Banda Sinfónica do Exército, dirigida por Artur Cardoso.
P.S. – 13/16, Nelson???? Que raio te passou pela cabeça????

“Fantasia do Minho” – Afonso Alves

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 12 de Junho)

Primeira peça portuguesa de concerto, virtuosa, para bombardino, composta por convite da “Besson Brass Instruments” pertencente ao grupo “Boosey & Hawkes” e Cardoso Conceição, interpretada por Steven Mead.
Na sua “Fantasia do Minho”, Afonso Alves foi desafiado a criar uma composição realmente difícil. A verdade é que ainda ninguém a executou com o “à vontade” que Mead fez. Ele próprio disse que era uma obra tecnicamente complicada e ao mesmo tempo muito expressiva, pois o compositor tinha captado muito bem o espírito etnomusical do nosso país e já se sentia em Portugal quando estudava a peça.
Mais tarde, a obra foi adaptada para ser executada em trompete por Jorge Almeida Lourenço Sousa.
Já tive a sorte de tocar as duas versões e isto é difícil… não só para os solistas como também para a banda.
“Fantasia do minho”, de Afonso Alves, para bombardino solo e banda, com Steven Mead no bombardino, Banda Alvarense, sob a direcção do compositor.

“Fanfarre Overture” – Lino Guerreiro

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 11 de Junho)

Conheci esta obra na Banda de Souto, onde a toquei por diversas vezes. Para desenjoar de pasodobles, ou marchas de concerto, é uma boa opção para abertura de actuações.
Gosto bastante, cai bem. Podia ser a banda sonora de um filme da Guerra das Estrelas, ou de super-heróis.
Escrita por Lino Guerreiro, que nos tem dado material bem interessante nos últimos anos.
Aqui na interpretação da Banda de Vimioso, sob a direcção de Ana Cavaleiro e com gravação da Afinaudio.

“Caminho para a Índia” – Samuel Pascoal

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 10 de Junho de 2021)

Nos dias de hoje, é quase um “crime” festejarmos o Dia de Portugal. Parece que devemos ter vergonha da nossa História e ocultar o nosso orgulho enquanto Nação.
Parece…
Mas como ainda penso pela minha cabecinha, o CLÁSSICOS FILRMÓNICOS assinala o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portugueses com “O Caminho Para a Índia” de Samuel Pascoal, compositor e maestro com quem me cruzei num curso de Direcção, na Banda de Gondomar, aqui há uns anos
“Obra inspirada na viagem de Vasco da Gama à Índia, retratada na epopeia “Lusíadas” de Luíz de Camões. Escrita em 5 partes diferentes, ilustra as vicissitudes e as alegrias vividas a bordo de um navio, nesta que foi uma das muitas viagens épicas dos descobrimentos portugueses.”
Toquei esta obra algumas vezes na Banda de Souto e, durante algum tempo, foi bastante tocada por aí. Hoje é um bom dia para a recordar.
Bom feriado a todos!

“Freitas” – Luís Cardoso

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 9 de Junho)

Gosto tanto desta obra, que nem sei o que dizer sobre ela.
Lembram-se de quando, na primeira temporada, falei das espanholadas?
Aqui fica uma das minhas favoritas, escrita já em pleno século XXI e dedicada a um minhoto de gema.
O som, o timbre, a força..
E isto resulta tão bem em concerto, em arraial, no concerto da tarde, no da noite e, se não me falha a memória, até já toquei isto de manhã.
Conheço bem a partitura, dado que o Prof. Luís Macedo “obrigou-me” a analisá-la e a estudá-la. Longas tardes a dirigir isto em frente ao espelho…
Como diz o Paulo Veiga, Luís Cardoso sabe usar a banda muito bem. Olé!
“Freitas”, dirigida pelo próprio Freitas, ao vivo, na Casa da Música (este concerto foi qualquer coisa de magnífico…).

“A Cidade” – Antero Ávila

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 8 de Junho de 2021)

Há quem avalie os compositores pelo tamanhão, dificuldade e impacto das suas obras. Está certo.
Eu avalio também e principalmente pelas emoções que despertam.
E pode uma pequena e simples marcha emocionar-nos? Claro. Há muitos exemplos nas nossas cadernetas, onde deveria andar “A Cidade” de Antero Ávila.
“Ah… é uma marcha de concerto.” Mas eu acho que se abdicarmos daquele ritardando, dá para se tocar na rua, às voltinhas da capela, para desenjoar do “Xabia”.
Uma marcha que tem o seu quê de americana, alemã, italiana e açoriana.
O timbre é inconfundivelmente do Antero.
Aqui na leitura da Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa, dirigida, como sempre, por Afonso Alves.

“Innuendo” – Jorge Salgueiro

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 7 de Junho)

 

Hoje estou um bocado amargo…
Na literatura, não podemos pegar num texto numa língua estrangeira, metê-lo no Google Translator e considerar que está traduzido. É preciso dominar a língua estrangeira, compreendê-la como se fosse a nossa língua, compreender o sentido do texto e, só depois, transpô-lo para o nosso idioma.
Assim é, ou deveria ser, com os arranjos de temas pop-rock.
No seu “Inuuendo”, Jorge Salgueiro, não se limitou a “arranjar”.
Entrou no tema, compreendeu-o, sentiu-o, viveu-o e depois veio cá fora contar-nos o que viu lá dentro. E o que viu foi belo. Freddy Mercury a dançar o bolero de Ravel com a Carmen.
Mas… há o reverso da medalha. Por se tratar de um tema “ligeiro”, algumas bandas acham que é fácil. Depois dá asneira. Achar que o “Innuendo” é fácil, é desconhecer Queen e desconhecer Jorge Salgueiro.
“O tema Innuendo, de 1991, é uma composição de cerca de sete minutos (na sua versão original) que transpõe os limites do pop-rock. Fazendo uso do modo frígio de inspiração cigana, que no início surge ainda em ambiente rock, deixa adivinhar desde logo uma segunda secção assumidamente flamenca. Não é por acaso que o arranjo de Jorge Salgueiro, escrito em 2000, recorre à técnica da citação, encontrando-se nele breves referências à Carmen de Bizet e ao Bolero de Ravel – obras de clara inspiração espanhola.” in site oficial da Casa da Música.
Aqui na cuidada interpretação da banda de Gueifães, dirigida por Abílio Teixeira. Gravação: Afinaudio

“1868” – Nelson Jesus

Junho 22nd, 2021

(texto inicialmente publicado no Facebook, a 6 de Junho)

Como já tive oportunidade de referir, gosto muito do Nelson Jesus enquanto compositor, por três motivos:
1º – Por inspirar as suas obras na tradição e raízes filarmónicas
2º – Por, ao mesmo tempo, ser inovador, sempre com critério.
3º – Pela imensa criatividade
A Banda Marcial de Fermentelos celebrou o seu 150º aniversário, pedindo a alguns compositores portugueses para comporem uma obra a assinalar a efeméride.
Nelson Jesus escreveu o fantástico “1868”, descrito desta forma pelo próprio:
“*1868 – A Banda Marcial de Fermentelos tem para mim a virtude de ser um agrupamento musical de grande versatilidade. Tanto é uma banda de forte tradição e bem enraizada no seio das melhores festas e romarias do país, como se sente à vontade nos mais exigentes palcos de concerto. Pegando na ideia do reportório tradicional, resolvi escrever um “calhau”.
O “calhau” é aquela peça antiga, cheia de notas, de papel amarelo! São as transcrições de aberturas de ópera e andamentos de
sinfonias da época romântica (altura da fundação da BMF). Esta peça é baseada em texturas e cores de algumas obras compositores da referida época revisitada. A orquestração tem por base as antigas transcrições em detrimento dos sons mais puros. Sentimos Korsakov, as madeiras dedilham Lizst, os metais cantam Wagner e Bruckner. Tchaikovsky é um ponto obrigatório nesta viagem, até na ideia do nome, ou não fosse a sua abertura “1812” uma peça obrigatória em qualquer arquivo das bandas do Norte.
A secção central da obra tem um aroma a fado e relembra a saudade da época de forte emigração para a América do Sul que tanto afectou a BMF. O hino da Marcial é escutado por diversas vezes. A peça termina com um Allegro Marcial, justificado no nome que a banda carrega, marchando em triunfo até ao final, até outros 150 anos.”
Já tive a honra de a tocar e confirmo tudo.
E aqui está o exemplo de uma obra “de concerto” que também é “de arraial”. Um “calhau” do século XXI.
Como não poderia ser de outra forma, Banda Marcial de Fermentelos, dirigida pelo Maestro Hugo Oliveira.

António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.