O professor Jairo Grossi era mais que um Pianista Acompanhador. Era nosso parceiro dentro e fora do palco.
Tinha sempre algo mais a acrescentar à nossa interpretação, sempre uma palavra de incentivo, principalmente naquelas passagens que nos derretiam o cérebro e os dedos. Por vezes, conhecia as peças melhor que nós:
– «Minino», você precisa tocar o “Solo de Concours” do Messager.
– Mas isso é um calhau, Professor!
– «Qui» nada «minino»! Você consegue!
Aceitou tocar comigo numa audição, quando outro acompanhador simplesmente desapareceu.
– Qual é a peça?
– O concerto de Krommer…
– Esse aqui?
E começa a tocar de memória.
Foi ele que me “obrigou” a tocar o Concertino de Weber de cor, quando me esqueci da partitura num ensaio. Concertino no qual se “irritava” comigo por eu não atacar a primeira nota quando ele estava à espera.
Incansável.
Lembro-me de um dia em que, após longas horas de correpetição com a classe de Ópera, ainda procurou forças para vir ensaiar com os sopros. De rastos, chegou a tocar só com uma mão, mas não nos deixou ficar mal.
Ensinou-me a técnica de virar páginas a um pianista (sim… existe!). E, talvez por isso, se me apanhava nos corredores do Conservatório, ou nos bastidores de algum recital:
– Você vira as páginas para mim?
No final de um concurso para uma orquestra “Parabéns! Você foi o melhor!”. Quando soube que não entrei, ficou mais chateado que eu.
Um parceiro dentro e fora do palco.
Um parceiro que agora partiu.
A sua despedida é o epílogo de uma das fases mais pulsantes da minha vida, onde respirava e transpirava música de manhã à noite.
Como dizia um amigo esta manhã “tenho boas memórias”. E são essas boas memórias que, neste momento, todos aqueles que tiveram o privilégio de tocar com o Professor Jairo recordam e guardam.
Até sempre, Professor!