Em Portugal há muitos analfabetos que sabem ler e escrever.
A prova disso é a quantidade absurda de pessoas que ainda não percebeu que a página Dr. Jovem Conservador de Direita é uma página de humor, pautada pela ironia e pelo sarcasmo, levando a sério tudo o que lá é escrito pela personagem (sim, personagem!) Dr. Jovem Conservador de Direita.
E isto acontece em muitas outras situações. As pessoas lêem mas não compreendem.
Isto é o reflexo do imediatismo da sociedade em que vivemos, em que simplesmente deixamos de pensar. Vemos, absorvemos, consumimos, expelimos.
Não se estimula a reflexão, o espírito crítico o debate, a discussão, a argumentação. Tudo tem que ser unânime, consensual, directo.
Até no futebol, se ousamos criticar (mesmo que fundamentadamente) o nosso clube ou a selecção nacional, levamos logo com um monte de indignados em cima.
Quantas vezes, nas nossas vidas, ao expressarmos uma opinião divergente do nosso interlocutor, obtemos de imediato uma reacção violenta e disparatada, quando o ideal seria a contra-argumentação?
As pessoas encaram o confronto de ideias como um confronto pessoal. “Se não concordas comigo, é porque não gostas de mim.”
Não. É possível discordarmos e sermos amigos, namorados, casados, família. É possível e é normal. Deveria ser normal.
E por isso as redes sociais estão cheias de disparate.
E isto acontece também porque não se valoriza a leitura, o conhecimento, o saber. “Lá estás tu armado em sabichão.” “Ópera? Mais vale ouvir kizomba!”
Mesmo na Internet, partilhamos as notícias mais infundadas sem sequer termos a certeza da sua proveniência. Quantas vezes morreu o Camilo de Oliveira, antes de efectivamente ter morrido?
E assim vamos definhando, cada vez mais analfabetos, mesmo sabendo ler e escrever, porque não entendemos aquilo que lemos, nem sabemos aquilo que escrevemos.