Quem me conhece sabe que sou pouco apreciador dos programas de “coitadinhos”, nomeadamente os protagonizados pela Fátima Lopes.
Tudo aquilo me soa sempre a falso.
Contudo, ontem de tarde, presenciei um momento que me deixou verdadeiramente emocionado e a ponderar que estes momentos televisivos que eu, tantas vezes, critico, afinal podem ter alguma utilidade.
No ecrã da TVI, Fátima Lopes, rodeada por uma família carenciada, pai, mãe e dois filhos. A apresentadora, orgulhosamente, ia anunciando uma lista de presentes que a produção do programa conseguira com a ajuda de diversas entidades patrocinadoras: camas, móveis, mercearias…
Os pais estavam nitidamente emocionados. Os filhos nitidamente embaraçados.
Quando o rol de oferendas parecia ter terminado, Fátima anuncia que havia um presente para as crianças. Um presente que os miúdos, há muito, desejavam mas cuja família não tinha possibilidades de adquirir.
Entra uma assistente com dois embrulhos: um maior, entregue ao irmão mais velho e um mais pequeno, entregue ao irmão mais novo.
“Esses dois presentes são para os dois e complementam-se… agora, podem abrir!”
O irmão mais velho, mais ansioso e mais lesto, rasga o embrulho e, ao vislumbrar que se tratava de uma consola, não se contém: desata aos gritos, aos saltos, a chorar copiosamente “ó mãe! ó mãe! é uma consola!!!”
E nesta parte eu gelei. A felicidade daquela criança, tão sincera, tão genuína, quebrou todas as minhas barreiras e atirou-me para o chão.
Como eu compreendia aquele rapaz!
Nunca na vida passei pelas dificuldades que ele, certamente, estará a passar, mas também eu, durante anos, me vi privado de muitas coisa, porque todos os tostões eram poupados para que os meus pais pudessem construir a casa onde hoje moro.
Também eu via e queria brinquedos que nunca na vida poderia pedir aos meus pais, porque sabia que eles não os podiam comprar.
Também eu fica constrangido no meu primeiro dia de aulas do segundo período, quando a maior parte dos meus colegas relatava orgulhosamente uma lista enorme de prendas que tinha recebido no Natal.
Também eu tive que lidar com o desemprego, a precariedade, a falta de dinheiro.
E, de repente, tudo isso se desvaneceu, porque a felicidade daquela criança, tornou-se na minha própria felicidade.
Imagino o antes e o depois no coração daquele rapaz.
Imagino porque é que, de forma totalmente espontânea, ele interrompe um “discurso” da apresentadora para dizer: “D. Fátima Lopes, posso dar-lhe um beijinho?”
Afinal, vale a pena…