António Pinheiro

Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

A minha primeira vez na Casa da Música

Novembro 12th, 2008

Parece incrível… Mesmo aqui ao lado e só no passado Domingo fui assistir a um concerto na Casa da Música. Muitos terão sido os motivos para este atraso: o preço dos bilhetes, o horário “esquisito” de alguns concertos, a fraca promoção aos mesmos, a preguiça.
No entanto, este Domingo, lá fui. O primeiro impacto foi, em vez de ver público à entrada, ver os próprios músicos que iriam tocar. Numa pose descontraída, uns fumando, outros falando com familiares, amigos, professores.
Depois, como se previa, encontrar velhos amigos e conhecidos. Breves trocas de impressões, expectativas para o concerto e… está na hora!
O programa prometia. Banda Sinfónica Portuguesa, com os “obrigatórios” Alfred Reed e Ferrer Ferran a garantirem o sucesso, vindo o factor risco de duas obras com marca nipónica: “Kobiki-uta” de Kiyoshige Koyama e “Quadros de uma exposição” de Modest Mussorgsky, numa arrojada transcrição para banda do compositor Tohru Takahashi.
Quem conhece a obra de Alfred Reed sabe que, tudo o que este senhor deixou em pauta, é bom. “Viva Música!” é uma descontraída e animada abertura, que pareceu composta como banda sonora para aquele Domingo de sol.
Depois, veio “Kobiki-uta”, na minha opinião, o momento alto do concerto. É daquelas obras que nos prende da primeira à última nota e nos faz ficar irrequietos na cadeira, principalmente devido às animadas linhas escritas para a percussão. É bom ouvir música em que a percussão não se limita a ser o acompanhamento dos sopros, mas um interveniente activo na intenção do compositor.
O concerto para oboé salvou-se pela boa interpretação do solista no andamento lento. Contudo, nos restantes andamentos da obra, o jovem Paulo Areias estava demasiado preso ao papel e o facto de frequentemente bater com o pé no chão, num Pam! Pam! Pam! irritante, não ajudou a construir uma boa imagem da sua prestação. Até porque, numa obra intitulada “El Bosque Magico” exigia-se mais expressividade, algo que só aconteceu no andamento lento “As Fadas”.
Ouvi alguém dizer uma vez que Ravel, não sendo um compositor extraordinário, foi o maior orquestrador de todos os tempos. Talvez seja por isso que a sua transcrição da obra “Quadros de uma exposição”, do original para piano de Modest Mussorgsky, seja uma peça de referência no reportório sinfónico. Tohru Takahashi fez a sua própria orquestração para banda, supostamente ignorando a obra de Ravel, baseando-se apenas na versão primitiva. Contudo, para mim foi impossível dissociar Takahashi de Ravel. Em primeiro lugar pelas inúmeras semelhanças tímbricas entre as duas versões. Em segundo lugar por uma interessante ironia do destino.
No quadro “O Velho Castelo”, Ravel atribuiu a melodia principal ao saxofone alto, sendo esta uma das primeiras obras sinfónicas a incluir um solo deste instrumento. Ora, o saxofone alto é o instrumento, muitas vezes, usado nas bandas filarmónicas para substituir o corn-inglês. Corn-inglês que foi o instrumento utilizado para Takahashi nesta transcrição. Irónico, não?
Uma palavra para o maestro Douglas Bostock. Fantástico. Simples, discreto, sóbrio mas expressivo. Até no público percebíamos o que ele estava a pedir aos músicos. No encore, deu o seu show pessoal, mas sem cair no ridículo, mantendo a postura e o bom gosto… very british!
Mas a hora do concerto é manhosa. Meio-dia não é hora para ir ver música, principalmente ao Domingo, o dia dos almoços com a família. Por causa do concerto, almocei sozinho, comida aquecida…

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