Quando uma edição das “24H Portugal” chega ao fim, costuma sobrar-me apenas uma palavra: nostalgia.
Porque esta prova é muito mais que mais um evento desportivo, mais uma corrida, numa época em que as corridas, por tudo e por nada, proliferam como cogumelos.
As “24H Portugal” são uma enorme celebração que, no fim, nos deixam no coração aquela sensação que temos ao ver o fogo de artifício que encerra uma romaria de Verão: foi muito bom e para o ano há mais.
As “24H Portugal” têm o imenso mérito de juntar e concentrar no mesmo espaço corredores de estrada, “trailers”, famílias, amigos, num ambiente de convívio, alegria permanente, que começa com a montagem das tendas e termina com abraços, sorrisos, lágrimas e um “até já”, que tanto pode ser um “até à próxima prova” como um “até p’ró ano”.
Hoje, quando dei por concluída a minha prova, enquanto me punha a medalha de participação ao pescoço, o Vitor Dias perguntou-me: “Gostaste da festa?” Reparem, que ele perguntou se gostei da festa, não da prova ou corrida.
E este fenómeno torna-se ainda mais extraordinário pela prova coincidir com o fim de semana da Meia-Maratona do Porto.
Estava lá “toda” a gente. Estavam os meus colegas de equipa do ano passado: a Paula Lage e o Zé Ferreira que não foram correr, mas foram incansáveis a apoiar o pessoal; e o António Morais, que o ano passado disse que as 24H eram uma experiência a não repetir, mas que este ano não largou a sua amada Carmen por um minuto. A Carmen que surpreendeu tudo e todos com uma prova extraordinária, chegando a liderar a classificação feminina. Classificação feminina que foi vencida pela Flor e levou a fenomenal Analice Silva (72 anos) ao 3º lugar do pódio. Entre elas ficou a polaca Agata “qualquer coisa”, que com aquele ar eslavo de quem não parte um prato, fartou-se de “tricotar”.
Estava o Echtelion da Fonte que me dava um grande empurrão psicológico sempre que passava por mim. Correu 50km e depois ficou por ali a ver o pessoal. Correu muito tempo com o Paulo Gomes. O Paulo Gomes deu 3 voltas comigo, já a noite estava fria. Entretanto parei para abastecer e o Paulo foi à vida dele.
E por falar em Paulo, estava o Rodrigues, o Massagista. “Na primeira volta parece que vou a puxar um camião… anda Pinheiro!”
Esteve lá o Mário Meneses e o Marcos Soares.
Esteve a Retorta. Já se sabe que a sua capacidade de trabalho só tem paralelo no seu sentido de humor e boa disposição. Por isso, aguentaram estoicamente os queixumes dos atletas mais caprichosos “as bananas estão verdes, a água está quente, onde está o meu copo?” E iam metendo conversa. Assim até custa menos.
E mesmo quando já tens bolhas nos pés, que ardem como o inferno, o Morais surge de trás de uma tenda e diz “acordaste forte!” e tu até aceleras… tolo!
O Vitor Dias, como na primeira edição, fez questão de me por a medalha ao pescoço. Um gesto com muito significado para mim… muito mesmo. E esteve a sua família. A Ana fez um ar incrédulo quando eu lhe disse que, apesar das bolhas, ia fazer mais uma volta. O Gonçalo preocupado com a minha sanidade mental por, de vez em quando, passar o CD dos D.A.M.A. e o Franciso a achar que eu ia desfalecer ao ouvir a versão samba do “Otherside” dos Red Hot.
E o Meixedo, que leva sempre o seu sentido de humor, tranquilidade e pragmatismo, fazendo com que tudo pareça simples.
À distância estiveram amigos que iam mandando mensagens e comentando as publicações no Facebook. Esteve, claro, a D. Prazeres Pires. Aquele telefonema à hora do jantar fez-me imensamente bem.
E esteve o meu staff de apoio! Sim… eu tive staff!
A minha adorável e incansável esposa, Teresa Sala, teve a capacidade de reunir e liderar uma equipa que me preparou uma tenda, tratou dos meus equipamentos (sim, Marta Bento, quem corre cheira mal) e, acima de tudo, fez-me sentir bem e ignorar as dores e mazelas que iam surgindo. Susana Guerreiro, para o ano também corres.
Oh… haveria muito mais a dizer destas 24H, mas as palavras quedam-se por aqui. Sinto que me esqueci de alguém, mas para o ano lá estaremos. Foi uma festa bonita, sim senhor.